O Exército russo acusou nesta sexta-feira as tropas de Kiev de bombardearem durante a noite uma prisão no Donbass, região no Leste ucraniano que é uma das frentes do conflito inciado em 24 de fevereiro, matando 40 prisioneiros de guerra ucranianos. A Ucrânia, contudo, põe o ataque na conta de Moscou, caracterizando-o como "outro horrendo crime de guerra" russo.
Em nota, o Ministério da Defesa russo disse que os disparos atingiram uma prisão em Olenivka, a cerca de 30 km a sudoeste de Donetsk, a capital do disputado território com o mesmo nome — segundo Moscou, a “provocação ultrajante visa assustar os soldados ucranianos e dissuadi-los de se render”. A televisão pública russa mostrou imagens de quartéis incendiados, mas a veracidade dos vídeos também não pôde ser confirmada.
A Ucrânia, por sua vez, acusou a Rússia de estar por trás dos ataques, mencionando também 40 mortos. Pelo Twitter, o chanceler do país, Dmytro Kuleba, disse que Moscou "cometeu outro horrendo crime de guerra ao bombardear um centro penitenciário na região ocupada de Olenivka, onde prisioneiros de guerra ucranianos eram mantidos".
“As Forças Armadas da Ucrânia, que aderem completamente aos princípios e normas do Direito internacional humanitário, nunca realizaram e nem realizarão bombardeios em infraestruturas civis, especialmente em lugares onde é provável que haja prisioneiros de guerra”, disse o Exército da Ucrânia, em comunicado.
O Estado-Maior ucraniano também acusou o Exército russo, afirmando que é "deste modo que os ocupantes russos buscam seus objetivos criminais: acusando a Ucrânia de cometer crimes de guerra e encobrir a tortura de prisioneiros e as execuções que ocorreram ali".
Segundo a Rússia, a prisão no centro do imbróglio abrigava, entre outros, membros do controverso Batalhão Azov, cujo discurso anti-Rússia e suas ligações com o neonazismo são frequentemente recordadas por Moscou.
O grupo, contudo, foi considerado “heróico” pelo presidente Volodymyr Zelensky por sua atuação em Mariupol, no Sudeste da Ucrânia, onde os soldados ucranianos resistiram por semanas antes de se renderem em maio.
Os russos dizem também que os mísseis disparados contra o presídio foram lançados por uma das unidades do Sistema Americano de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês).
O poderoso lança-foguetes americano era pleiteado por Zelensky desde o início da guerra, mas os Estados Unidos hesitavam em cedê-los diante de temores de uma cobeligerância que pudesse acirrar o conflito. Os envios, contudo, começaram em junho.
De alta tecnologia, os Himars são montados sobre rodas, o que proporciona mais agilidade e capacidade de manobrá-lo no campo de batalha. Seu alcance de 80 km ia muito além do que o de armas utilizadas por Kiev antes de as primeiras unidades desembarcarem em território ucraniano, na última semana de junho, sob condições que incluíram a promessa ucraniana de não usá-los contra o território russo.
Cada unidade sua pode transportar seis foguetes guiados por GPS, cada um deles com o mesmo poder explosivo de uma bomba de 500 libras (227 kg) lançada do ar. O sistema pode ser carregado em um minuto por uma equipe pequena, que precisou ser treinada por três semanas para operá-lo.
Ao menos oito sistemas Himars já foram enviados para a Ucrânia, que vêm demonstrado potencial de mudar a equação da guerra. Com eles, as tropas ucranianas vêm conseguindo atacar os russos além das linhas de frente, como centros logísticos, linhas de suprimento e mais de 20 armazéns inimigos. Ao menos outros quatro sistemas devem ser enviados a Kiev.
Nos últimos dias, ucranianos e aliados vêm afirmando que Moscou vem perdendo força, o que pode fazer o presidente Vladimir Putin mudar de curso, declarações reforçadas pelo ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, nesta sexta em entrevista à Sky News. A distribuição de forças no campo de batalha, contudo, não está completamente clara.
Em paralelo, ao menos cinco pessoas morreram e sete ficaram feridas depois que um bombardeio russo atingiu um ponto de ônibus na região de Mykolaiv, no Sul da Ucrânia. Pelo Telegram, o governador da região, Vitaly Kim, acusou os russos de "bombardearem a cidade durante o dia, quando todos estão começando suas ocupações".
Ao menos outras oito pessoas morreram e 19 ficaram feridas no último dia no Donbass, território parcialmente controlado por separatistas pró-Rússia desde a guerra civil ucraniana de 2014. A região é formada pelos territórios de Luhansk, tomado pela Rússia no início do mês, e Donestk, hoje uma das frentes da guerra.
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