O Ministério da Justiça da Rússia pediu a dissolução do ramo russo da Agência Judaica, responsável, dentre outras funções, por ajudar judeus no país a emigrarem para Israel, algo que pode elevar as tensões entre Moscou e as autoridades israelenses.
“O tribunal recebeu uma queixa administrativa do departamento principal do Ministério da Justiça em Moscou pedindo a dissolução (...) da organização sem fins lucrativos “Apoio de relações com a diáspora judaica Agência Russa Sokhnut””, afirmou a porta-voz do tribunal do distrito de Basmanny, Ekaterina Buravtsova, citada pela Interfax.
Segundo ela, uma audiência preliminar está marcada para o dia 28 de julho.
No começo do mês, o governo russo pediu que a agência, que opera na Rússia desde 1989, suspendesse suas atividades, sem explicar publicamente seus motivos. Mas a imprensa israelense afirma que, de forma privada, Moscou acusou a organização de coletar ilegalmente informações sobre cidadãos russos, o que justificaria seu fechamento.
Em carta obtida pela Bloomberg, o Ministério da Imigração israelense pediu que o premier interino, Yair Lapid, entrasse em contato com o governo russo para permitir que a “imigração vinda da Rússia não fosse interrompida”.
Logo depois do anúncio desta quinta-feira, Lapid disse que vai enviar uma delegação de alto nível a Moscou “para garantir a sequência das atividades da Agência Judaica na Rússia”, e o embaixador israelense na Rússia pediu explicações do Kremlin. Já o ministro de Assuntos da Diáspora, Nachman Shai, foi mais incisivo em suas críticas.
“Os judeus russos não serão reféns da guerra na Ucrânia”, afirmou, citado pela Bloomberg. “A tentativa de punir a Agência Judaica pela posição de Israel nesta guerra é patética e é um insulto. Os judeus na Rússia não serão desligados de suas conexões históricas e emocionais com o Estado de Israel.”
De acordo com representantes da agência, 16 mil judeus russos emigraram para Israel desde o início da guerra na Ucrânia, mais do que os 7 mil que fizeram o mesmo caminho em 2021.
Para analistas, a pressão de Moscou sobre a agência pode estar ligada à postura israelense na guerra na Ucrânia, e às posições do premier interino, Yair Lapid, que já criticou abertamente o conflito no passado.
Quando ainda era chanceler, votou pela suspensão russa do Conselho de Direitos Humanos da ONU, mencionando o que chamou de “guerra injustificada”, e também apoiou uma resolução da Assembleia Geral condenando a Rússia.
A ordem de fechamento da Agência Judaica na Rússia ocorre em meio à tensão crescente entre Moscou e Israel, que tenta manter um delicado equilíbrio entre Kiev e Moscou no contexto da guerra na Ucrânia — Jerusalém expressa reiteradamente sua apoio à Ucrânia, mas evita criticar diretamente Moscou, um ator importante na Síria, e também adotar sanções formais contra oligarcas russos.
O mesmo não se pode dizer do Kremlin. Em maio, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou Israel de apoiar neonazistas na Ucrânia. Antes disso, ele já havia dito que "Adolf Hitler tinha origens judaicas". Autoridades de Israel rebateram a declaração, ressaltando que a afirmação do ministro era uma falsidade "imperdoável' que minimizava os horrores do Holocausto.
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