A Justiça mexicana suspendeu o processo de extradição para os Estados Unidos de Rafael Caro Quintero, de 69 anos. Um magistrado da comarca de Jalisco determinou que o narcotraficante seja entregue ao governo americano após passar por um processo judicial.
Conhecido como "narco dos narcos", ele foi preso na última sexta-feira após passar nove anos foragido. Um cão farejador localizou Quintero em uma área de mata da fazenda onde estava escondido. Ele constava na lista dos 10 fugitivos mais procurados do FBI.
A decisão foi do juiz federal Francisco Reséndiz Neri. O magistrado atendeu a um pedido feito pelos advogados da irmã do acusado, Beatriz Angélica Caro Quintero.
“A suspensão foi concedida liminarmente, para que não seja executada e o interessado permaneça no local onde estiver à disposição deste órgão jurisdicional de amparo, apenas no que se refere à sua liberdade pessoal, até resolver este processo”, disse o juiz, segundo a revista Forbes.
Beatriz entrou com uma ação neste sábado, um dia após a prisão de Quintero em um matagal na fazenda onde estava escondido, no município mexicano de Choix, em Sinaloa. O narcotraficante é acusado de assassinar e sequestrar Enrique “Kiki” Camarena, agente da DEA (agência antidrogas dos EUA), e de tráfico de drogas para os Estados Unidos.
Na ação, os advogados de Beatriz pedem que o processo de deportação de Quintero obedeça às exigências do Tratado de Extradição entre o México e os Estados Unidos.
'Narco dos narcos'
Também chamado de "senhor da maconha", na década de 1980, Caro Quintero é um dos capos (chefes do tráfico) históricos do México, e chegou a ser preso em outra oportunidade. Ele era conhecido por sua ostentação, especialmente com jóias e roupas finas, mas também por suas habilidades de negócios e movimento no submundo.
Aos 14 anos, Caro Quintero começou a cultivar maconha em sua terra natal, Badiraguato (também em Sinaloa), terra natal de outro dos maiores narcotraficantes mexicanos, Joaquín “El Chapo” Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.
Como outros capos, Caro Quintero justificou sua incursão no crime pela pobreza e falta de oportunidades.
“Eu era uma pessoa muito jovem que morava aqui na serra, aqui é normal plantar maconha e papoula [matéria-prima para a heroína]. Eu era órfão, meu pai morreu, eu tinha 14 anos e tinha que alimentar meus irmãos. Foi assim que tudo começou”, disse ele à revista Proceso em 2016.
O 'maior erro'
No final da década de 1970, Quintero se aliou a Miguel Ángel Félix Gallardo (o “chefe dos chefes”) e Ernesto Fonseca Carrillo, no que ficou conhecido como Cartel de Guadalajara, uma das primeiras organizações dedicadas ao tráfico de drogas no México. O “narco dos narcos” tornou-se, assim, o maior produtor e exportador de maconha do México, com uma fortuna estimada em cerca de 500 milhões de dólares.
Posteriormente, o Cartel de Guadalajara expandiu seus negócios para a cocaína, graças às ligações entre Miguel Ángel Félix Gallardo e o capo colombiano do Cartel de Medellín, Pablo Escobar. Apesar de se passar por um agricultor honesto, Caro Quintero, cuja vida foi retratada em uma série de televisão, já estava na mira de autoridades americanas que rastreavam seus carregamentos e ligações com o México.
Entre 1982 e 1984, Kiki Camarena, um agente americano de origem mexicana, se infiltrou no Cartel de Guadalajara, o que levou à apreensão e à destruição de uma plantação de maconha de mais de mil hectares pertencente ao “narco dos narcos” em uma fazenda conhecida como Rancho Búfalo, no estado de Chihuahua, no norte do México.
Segundo as autoridades americanas, em seu desejo de vingança contra a DEA, Caro Quintero ordenou a tortura e a morte de Camarena, cujo corpo foi encontrado em uma vala em março de 1985 junto com o do piloto mexicano Alfredo Zavala.
O assassinato de Camarena atingiu as relações entre Estados Unidos e México e radicalizou a luta contra as drogas, o que desencadeou a queda do capo e a desintegração do Cartel de Guadalajara.
A prisão
Caro Quintero foi detido em abril de 1985 na Costa Rica e condenado a 40 anos de prisão pelo duplo crime, embora em agosto de 2013 tenha sido libertado por um tecnicismo legal.
Após sua libertação, o governo dos EUA exigiu sua captura para fins de extradição, sob a acusação de sequestro e assassinato de um agente federal e posse e distribuição de cocaína e maconha, entre outros crimes.
Fugitivo desde então, ele é acusado pela DEA de ter voltado às suas atividades. O órgão teria oferecido até US$ 20 milhões por informações para capturá-lo.
Este é o preço mais alto estipulado para um criminoso mexicano, superando capos que ainda atuam no tráfico, como Nemesio Oseguera, “El Mencho”, líder do Cartel Jalisco Nova Geração, por quem são oferecidos 10 milhões de dólares.
A recaptura de Caro Quintero “foi fruto de sangue, suor e lágrimas”, segundo a chefe da DEA, Anne Milgram, sublinhando que se tratava de um alvo do mais alto valor.
“Foi uma situação pessoal para nós. Se um criminoso matar um de nossos agentes, vamos perseguir um indivíduo como Caro Quintero em todo o mundo até que ele seja capturado”, disse à AFP Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA.
Caro Quintero nega ter participado do assassinato de Camarena.
“Eu não o sequestrei, não o torturei e não o matei”, disse ele ao Processo, acrescentando que só queria viver em paz.
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