Uma das imagens mais impactantes feitas após o ataque russo à cidade ucraniana de Vinnytsia , no centro-oeste do país, é a que mostra um carrinho de bebê revirado do lado de fora de uma das construções atingidas pelos mísseis. Ele pertencia a uma garota de apenas quatro anos, chamada Liza, uma das três crianças mortas na ação — que tirou a vida de outras 20 pessoas.
Um vídeo compartilhado pelo portal Nexta mostra a menina, que tem síndrome de Down, junto da mãe, Irina Dmitrieva, durante um passeio, pouco antes de serem alvos do ataque. A mulher ficou gravemente ferida e está internada em um hospital local, enquanto a filha dela morreu.
Irina havia postado o registro em suas redes sociais, feito durante um dia ensolarado do verão europeu, em que a pequena Liza passeava sorrindo, empurrando sua cadeira à frente da mãe, enquanto eles conversavam sobre ir ver sua fonoaudióloga.
Ukrainian telegram channels report that the video shows a mother and a girl who came under shelling in #Vinnytsia today.
— NEXTA (@nexta_tv) July 14, 2022
The girl died, doctors are now fighting for the life of a woman. pic.twitter.com/n8pjmRlhFC
“Liza era muito alegre, ela adorava vir até nós. Ela era uma criança muito gentil. Para sua mãe, ela era todo o sentido de sua vida. Ela a amava loucamente. Eu não posso nem imaginar a tragédia que é para a família", disse Valeriia Korol em entrevista à BBC.
Ela é responsável pelo centro LogoClub para crianças com necessidades especiais, onde Liza participou de uma sessão, pouco antes do atentado, como fazia algumas vezes por semana. A conta do Instagram da mãe é repleta de fotos da vida da menina, com postagens feitas desde o nascimento de sua única filha.
O LogoClub, para onde Liza ia regularmente, fica a apenas um quarteirão da Praça da Vitória, local atingido pelos mísseis. A equipe levou todas as crianças do local para o abrigo quando a sirene do ataque aéreo soou.
Mas, como muitas outras pessoas, Liza e sua mãe ainda estavam na rua e foram atingidas pelo ataque. No início da guerra, elas voltaram de Kiev para Vinnytsia por segurança, porque a cidade, na ocasião, ficava longe das linhas de frente do conflito.
Ataque em região distante do conflito
Mísseis de cruzeiro russos atacaram na última quinta-feira a região, que, no entanto, está distante das frentes de batalha no Leste, segundo o chefe da Polícia Nacional da Ucrânia, Ihor Klymenko.
Há, ainda, 42 desaparecidos, de acordo com o Serviço de Emergência do Estado (SES). Outras 64 pessoas, incluindo quatro crianças, foram hospitalizadas — destas, 34 estão em estado grave e cinco em situação crítica, informou o SES.
O ataque foi perpetrado com mísseis de cruzeiro Kalibr russos lançados de submarinos no Mar Negro, de acordo com Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do Gabinete do presidente da Ucrânia.
Mais de 50 prédios e 40 carros ficaram danificados pelos ataques, disse Klymenko. Vídeos divulgados pela agência mostraram fumaça saindo de prédios de vários andares e equipes de bombeiros jogando água nas carcaças fumegantes de veículos atingidos por um incêndio após os ataques.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, condenou o ataque. “Todos os dias, a Rússia destrói a população civil, mata crianças ucranianas, lança foguetes contra objetos civis”, disse em uma mensagem no Telegram. “O que é isso, senão um ato aberto de terrorismo?”
Em um comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques e pediu que os responsáveis prestem contas. Ele disse estar “aterrorizado com o ataque com mísseis de hoje contra a cidade de Vinnytsia [...] O secretário-geral condena qualquer ataque contra civis e infraestruturas civis, e reitera seu apelo à prestação de contas por essas violações”, escreveu na nota o porta-voz Stephane Dujarric. A União Europeia tachou o ataque russo de “atrocidade”.
“A União Europeia condena, nos mais duros termos, os ataques contínuos e indiscriminados contra alvos civis, incluídos hospitais, instalações médicas, escolas e refúgios”, escreveu a organização em comunicado.
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