O partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) boicotou uma votação no Senado nesta quinta-feira (14) e deixou o governo do premiê da Itália, Mario Draghi, à beira de uma crise política .
O voto de confiança sobre o pacote de ajudas financeiras para famílias e empresas contra a inflação foi aprovado por ampla maioria, com placar de 172 a 39, porém os senadores do M5S não participaram da sessão.
Ao submeter um projeto legislativo ao voto de confiança, o governo diz que sua continuação no poder está condicionada à aprovação do texto. Na prática, ao não participar da votação, o M5S indicou que não dá mais sua confiança a Draghi, que está reunido neste momento com o presidente Sergio Mattarella.
Como mostra o placar da votação no Senado, o premiê ainda teria maioria parlamentar para continuar no poder, porém ele mesmo já disse que, sem o M5S, seu governo de união nacional não teria mais razão de existir, posição que encontra eco na maioria dos outros partidos.
"O próprio Draghi disse: sem os 5 Estrelas, não haverá outro governo. Se os 5 Estrelas fizerem essa escolha, palavra aos italianos", afirmou na última quarta-feira (13) o senador e ex-ministro do Interior Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga.
O primeiro-ministro é apoiado por praticamente todas as grandes legendas, com exceção do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que lidera a maioria das pesquisas de intenção de voto e cobra eleições antecipadas.
"Guerra, pandemia, inflação, pobreza crescente, risco de desabastecimento energético, crise alimentar, e o governo 'dos melhores' está imóvel. Chega, por favor. Todos para casa, e eleições imediatamente", escreveu no Facebook a deputada Giorgia Meloni, líder do FdI.
Crise com populistas
O M5S não participou da votação desta quinta por discordar de um artigo que permite a construção de uma usina de energia de resíduos em Roma, projeto ao qual o movimento sempre se opôs.
No entanto, a iminente ruptura é resultado de divergências mais profundas e da longa crise interna vivida pelo partido antissistema, que é presidido pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte.
Vencedor das últimas eleições legislativas, em março de 2018, com pouco mais de 30% dos votos, o M5S participou de todos os três governos empossados desde então, mas sofreu várias deserções nos últimos quatro anos e hoje amarga o quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 10% da preferência.
Assumir a responsabilidade de derrubar um governo de união nacional em um cenário de tamanha incerteza poderia ser mais um golpe na popularidade do M5S. Por outro lado, aliados de Conte acreditam que essa é a única forma de fazer o partido recuperar parte do apoio e reafirmar sua identidade antissistema.
Na semana passada, Conte chegou a apresentar uma lista de demandas a Draghi e disse que daria tempo para o premiê avaliar os pedidos, mas poucos dias depois voltou a acenar com a hipótese de uma crise.
O primeiro-ministro deu uma coletiva de imprensa na última terça-feira (12) e afirmou que muitas propostas do M5S estavam em linha com a agenda do governo, como a redução da carga tributária e a instituição de um salário mínimo, porém ressaltou também que não aceitaria "ultimatos".
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