O presidente do Equador, Guillermo Lasso, afirmou que os líderes dos protestos que, há quase duas semanas, mobilizam milhares de indígenas ao redor do país, têm como principal motivação a derrubada de seu governo. As declarações, feitas em pronunciamento à nação, ocorrem um dia depois de uma tentativa fracassada dos manifestantes de invadir o Congresso, e em meio a novos choques na capital do país.
O principal alvo dos ataques de Lasso foi Leonidas Iza, presidente da poderosa Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) e apontado como líder do movimento iniciado no dia 13 de junho.
"Ficou claro que ele [Iza] jamais quis resolver uma agenda para beneficiar os povos e nacionalidades indígenas. A única coisa que queria era enganar suas bases e usurpar o governo legalmente constituído", disse o presidente. "O senhor Iza não pode controlar a situação. A violência perpetrada por criminosos infiltrados fugiu de seu controle."
Lasso afirmou que usará todos os recursos legais, incluindo as forças policiais e militares, para restabelecer a ordem, e pediu aos indígenas que estão nas ruas que voltem às suas comunidades, com a promessa de que suas demandas serão atendidas localmente. Ao se referir novamente a Iza, acusou o líder da Conaie de tentar um golpe.
"Está comprovado que a intenção verdadeira da violência é provocar um golpe de Estado, e por isso fazemos um pedido à comunidade internacional para que alerte sobre essa tentativa de desestabilizar a democracia no Equador", declarou.
Mais cedo, ministros do governo acusaram as lideranças dos protestos de apenas “buscarem a violência" e de recusarem as negociações diretas.
"Eles foram desmascarados. Não querem dialogar. Não querem um acordo. Não querem que o país seja reativado. Não querem paz. Até agora, a única coisa que demonstraram é que buscam a violência", afirmou, em entrevista à rádio FM Mundo, o ministro de Governo Francisco Jiménez.
Casa da Cultura
Na quinta-feira, o presidente Guillermo Lasso permitiu que cinco mil dos indígenas que protestam na capital, Quito, entrassem na Casa da Cultura, um centro considerado simbólico para os povos originários do país. Isso foi apontado pelo governo como um gesto de boa vontade, para incentivar o diálogo. O local estava ocupado por forças militares, algo que não acontecia desde os anos 1950.
Contudo, no final da tarde, manifestantes avançaram contra o Congresso, com bombas, coquetéis molotov, foguetes e pedras, em uma tentativa de invadir a sede do Legislativo, mas foram impedidos pela polícia, e teve início o confronto, que se prolongou por algumas horas até que o grupo fosse contido.
De acordo com a ONG Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos, três pessoas morreram nos choques, elevando a seis o número de mortos desde o início dos protestos. Ao todo, 180 pessoas ficaram feridas, entre manifestantes e policiais.
"Não estamos diante de manifestantes, estamos diante de um grupo de delinquentes", afirmou, em entrevista coletiva, o ministro do Interior, Patricio Carrillo.
Para ele, não se pode debater com “paus, pedras e armas nas ruas”.
Nesta sexta-feira, ocorrem novos confrontos nos arredores da Casa de Cultura, com manifestantes arremessando pedras e paus nas forças de segurança, e uma nova marcha está prevista para as próximas horas. Também foi realizada uma carreata de taxistas nas ruas da capital equatoriana.
'Momento complexo'
Os protestos têm como ponto central o aumento do preço dos combustíveis, mas também incluem outras demandas, como o fim do estado de exceção, em vigor em seis das 24 províncias e a capital. Segundo os organizadores, cerca de 14 mil pessoas estão mobilizadas ao redor do Equador, sendo que 10 mil em Quito.
O governo diz que medidas para cortar os preços custariam até US$ 1 bilhão por ano, mas as lideranças do movimento dizem que vão permanecer nas ruas até que Lasso ceda às suas demandas.
"É um momento muito complexo. Nós esperávamos que o presidente da República respondesse aos temas centrais sobre a crise, a pobreza que vive nosso povo", declarou à AFP Leonidas Iza. "Há uma decisão de lutar, apresentamos nossa vontade de dialogar sempre. O que ocorreu depois foi um diálogo sem resultado e nos sentimos enganados."
Pelo lado político, parlamentares ligados ao ex-presidente Rafael Correa apresentaram um pedido para que o Legislativo debata a destituição de Lasso.
“O governo nacional, em seus treze meses, não conseguiu enfrentar os graves problemas que tem o Equador. Pelo contrário, apenas os aprofundou”, escrevem 47 parlamentares, em carta ao presidente da Assembleia. “O governo do presidente Guillermo Lasso, longe de dar soluções concretas aos problemas que atravessa o país, respondeu com propostas sem fundamento técnico, com perseguição e repressão, indo além do que estabelece o decreto do estado de exceção.”
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* (com informações de agências internacionais)