Ministro diz que Brasil pode mediar fim da Guerra na Ucrânia
Carlos França voltou a criticar sanções contra Moscou, mas admitiu que Rússia 'cruzou a linha vermelha' ao invadir Ucrânia
O chanceler Carlos França afirmou nesta quarta-feira que o Brasil pode atuar como mediador para ajudar a acabar com o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, França voltou a criticar as sanções econômicas aplicadas aos russos, defendeu o diálogo como saída para a obtenção de um acordo de paz e ressaltou que a diplomacia brasileira é conhecida como formadora de consensos e voz respeitada pela comunidade internacional.
"O Brasil tem credenciais para ser mediador. Somos membros do Brics [bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], somos um ator global, com tradição democrática, e temos uma diplomacia que se construiu ao longo de 200 anos como formadora de consensos e voz sempre respeitada na ONU" , afirmou França aos senadores.
Segundo o ministro, o Brasil mantém boas relações com Rússia e Ucrânia e agiria facilmente como conciliador e facilitador de um consenso. França disse que colocará a diplomacia brasileira a serviço da paz e que conversará sobre o assunto ainda este mês, durante visita a Brasília do chanceler turco, Mevlut Cavusoglu. A Turquia tem atuado como mediadora das negociações entre russos e ucranianos.
Linha vermelha
Apesar de sua posição contrária às sanções, França reconheceu que a Rússia ultrapassou os limites ao invadir a Ucrânia. Em resposta à presidente da Comissão, senadora Kátia Abreu (PP-TO), que chamou a agressão de "inadmissível", o chanceler afirmou:
"Vossa excelência tem razão. A agressão é inadmissível. No momento em que há conflito armado, invasão de território, nós entendemos que a Rússia cruzou uma linha vermelha. Quanto a isso não há dúvida."
Carlos França disse que as sanções econômicas aplicadas à Rússia são seletivas e já prejudicam países fornecedores de alimentos, como o Brasil, que tenta conseguir fertilizantes para o plantio da safra de grãos. Ele disse considerar “lamentável” que as retaliações contra os russos se estendam à cultura e aos esportes.
"Eu até entendo o uso de sanções pela Europa e os EUA. No entanto, não posso deixar de estranhar a seletividade das sanções", afirmou França. "Sanções tendem a preservar interesses imediatos de um pequeno grupo de países e prejudicam quem mais depende de importação de alimentos e tem menor capacidade financeira" , completou.
Ao entrevista GLOBO, o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybañez, havia dito que, quanto mais países aderirem às sanções, inclusive o Brasil, mais rápido termina o conflito. França questionou esse argumento. Disse que a Alemanha, por exemplo, está precisando de combustíveis.
"Se até esses países têm dificuldades, o que dirá um país como o Brasil", disse o chanceler.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores, a questão dos fertilizantes, que o Brasil importa da Rússia, é “muito grave”. Ele afirmou que há um esforço diplomático no governo brasileiro desses produtos em países como Nigéria, Marrocos, Irã, Canadá e Arábia Saudita — cujo príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman, chegou a conversar por telefone sobre o assunto com o presidente Jair Bolsonaro, recentemente.
No caso do Irã, França lembrou que pediu ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, para que seja aberta uma exceção que permita o pagamento dos fertilizantes pelo sistema financeiro. Com a Rússia, ele disse que o governo brasileiro tenta vencer “dificuldades logísticas”.
"Os importadores brasileiros têm dificuldades para fazer negócios com o Irã. Pedi ao Blinken para que pudéssemos ter um waiver do Departamento do Tesouro, para que não não haja sanções a quem fizer negócios com empresas iranianas ", explicou.
"Com a Rússia, queremos garantir ao importador que não haverá problema. Assim como energia para Alemanha é fundamental, para o Brasil, o fertilizante é fundamental."
O chanceler, que completa um ano no cargo nesta quarta-feira,disse que o Itamaraty conseguiu retirar 230 brasileiros da Ucrânia, dos quais 43 retornaram ao Brasil pela Polônia. Há ainda outros 17 nacionais em território ucraniano, dos quais 11 querem permanecer no país. O restante são jornalistas que cobrem o conflito.
Ele acrescentou que, até a última segunda-feira, foram emitidos 81 vistos de acolhida humanitária para cidadãos ucranianos que fugiram da guerra.
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