'Poucas falhas causariam essa queda', diz perito sobre avião na China
Ex-mecânico de aviões, youtuber Lito Sousa acredita que as caixas pretas do Boeing 737-800 resistiram e serão essenciais para investigação da tragédia
A tarefa de investigar o que causou a queda do avião Boeing 737-800 na China não será fácil. Nesta terça-feira, a Administração de Aviação Civil da China (CAAC, em inglês) informou que a aeronave foi muito danificada no acidente e que as informações disponíveis até o momento não permitem nenhuma conclusão sobre a tragédia. Uma coisa é certa: o evento é caracterizado com algo muito raro entre especialistas. O brasileiro Lito Sousa, youtuber que foi mecânico em grandes companhias aéreas como Varig e United Airlines, diz que "pouquíssimas falhas" causariam uma descida como a registrada na segunda-feira. Até o momento, não foram encontrados sobreviventes entre os 132 a bordo.
"Os dados mostram que em apenas dois minutos a aeronave mergulhou 20 mil pés, cerca de 6 quilômetros, com uma variação de proa de menos de 30 graus. Nos dois primeiros quilômetros de decida, não acontece quase variação nenhuma de proa, ou seja: o nariz da aeronave continuou apontando no mesmo sentido de direção de voo. Esse tipo de descida é muito estranho para as condições operacionais. Pouquíssimas falhas causariam uma descida desse tipo", ressaltou em vídeo publicado no canal Aviões e Músicas, com 2,25 milhões de inscritos.
Sousa ressalta que não é possível ter certeza se todas as superfícies — asas e os estabilizadores — da aeronave estão íntegras no vídeo que mostra o Boeing 737-800 mergulhando em direção ao solo. O local do impacto ficou totalmente destruído por conta da velocidade vertical no momento do impacto, mas ele acredita que as caixas pretas devem ter resistido.
"Elas são essenciais para entender o que ocorreu. Se for um problema mecânico, uma diretriz de inspeção deve ser publicada de maneira urgente. Mas se essa possibilidade for descartada já nos momentos iniciais, a investigação segue o curso normal até se construir toda a história desse voo. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês) também deve acompanhar a investigação por se tratar de uma aeronave fabricada nos EUA", explica.
O voo MU5735 tinha como destino a cidade portuária de Cantão após a decolagem em Kunming, capital da província de Yunnan, no Sudoeste. Conforme a plataforma de monitoramento Flightradar24, pouco mais de uma hora após decolar, o avião “de repente começou a perder altitude muito rápido”. O Boeing estava a 29.100 pés quando, em pouco mais de um minuto, desceu mais de 21 mil pés. A aeronave aparentemente recuperou a altitude em torno de 8 mil pés antes de continuar a queda.
De acordo com a mídia estatal do país, partes carbonizadas da aeronave ficaram espalhadas pela região montanhosa e restos queimados de documentos de identidade e carteiras também foram encontrados. Os destroços estão cercados por montanhas por três lados e há apenas um pequeno caminho para acessar o avião.
A Boeing apontou em um relatório divulgado no ano passado que apenas 13% dos acidentes comerciais fatais em todo o mundo entre 2011 e 2020 ocorreram durante a fase de cruzeiro — entre o final da subida da aeronave e o início da descida no aeroporto de destino — enquanto 28% dos acidentes com mortes ocorreram na aproximação final e 26% no pouso.
O 737-800 tem um bom histórico de segurança e é o antecessor do modelo 737 MAX, que está parado na China há mais de três anos após acidentes fatais em 2018 na Indonésia e 2019 na Etiópia.