Após a Rússia invadir a Ucrânia, qual é o número de mortos até agora?
Números divergentes, impossibilidade de checagem e balanços sem regularidade fazem com que panorama de vítimas na guerra ainda seja um mistério
Uma grávida e seu bebê mortos após uma maternidade ser bombardeada. Dez civis supostamente mortos em uma fila para comprar pão, denúncia feita pela embaixada americana em Kiev e negada pela Rússia. Uma mãe e dois filhos mortos em um ataque de morteiro enquanto fugiam. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, diariamente emergem histórias de civis e soldados que pagaram com suas vidas durante a guerra. Mas qual é a extensão total de vítimas no conflito?
Responder quantas pessoas já morreram durante a guerra na Ucrânia tem se mostrado um desafio — um que provavelmente ninguém ainda sabe responder. Autoridades dos dois lados não apresentam balanços constantemente, os números divulgados não podem ser checados de maneira independente e eles divergem até entre aliados.
Além disso, é inviável realizar uma contagem de corpos de forma independente enquanto a Ucrânia é palco de disparos do ar e na terra.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, por exemplo, informou em sua última atualização nesta quarta-feira que 726 civis morreram desde o início da invasão russa. No entanto, a própria organização ressalta que "os números reais são consideravelmente maiores".
Como comparação, apenas em Mariupol — cidade ucraniana que está cercada por tropas da Rússia — mais de 2.500 moradores morreram, segundo disse o conselheiro presidencial Oleksiy Arestovych na segunda-feira. Os números, no entanto, não puderam ser confirmados de forma independente.
Em relação a soldados mortos, os dois lados apresentam cenários diferentes — o que pode ser uma estratégia dos governos visando demonstrar mais força nos combates — e os dados não são atualizados regularmente.
A última atualização do governo russo, por exemplo, ocorreu há duas semanas, em 2 de março. Segundo Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, 498 soldados russos morreram no que Moscou chama de "operação especial da Rússia na Ucrânia", enquanto do lado ucraniano foram mais de 2.870 baixas.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, porém, disse no último domingo que pelo menos 1.300 de seus soldados morreram em combate, um número menor que a metade do apresentado pelo lado russo quase duas semanas antes.
Ter um panorama da situação fica ainda mais complicado quando nem as informações de uma terceira fonte coincidem com as outras. Uma autoridade dos EUA — aliados da Ucrânia no conflito — disse à emissora CBS na quinta-feira passada, antes da declaração de Zelensky, que entre 2 mil e 4 mil soldados ucranianos teriam morrido.
A mesma autoridade afirmou que, naquele momento, até 6 mil soldados russos tinham sido mortos na guerra.
"É particularmente difícil porque estamos em uma guerra em que ambos os lados estão tentando conquistar corações e mentes", disse Charles Kupchan, membro sênior do centro de estudos Council on Foreign Relations, ao Washington Post. "Os russos são muito bons em jogar o jogo da informação e, como consequência, os EUA e os ucranianos estão tentando se opor".
Anteriormente, o último balanço de Washington sobre as baixas russas fora dado quatro dias antes, em 8 de março, quando o tenente-general Scott Berrier, diretor da Agência de Inteligência de Defesa, dissera no Congresso que o número estava entre 2 mil e 4 mil. Naquele momento, ele pontuou que havia "baixa confiança" no balanço, acrescentando que o número poderia ser até três vezes maior.
Mais recentemente, na segunda-feira, o vice-presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um conhecido centro de estudos baseado em Washington, disse no Twitter que o número de soldados russos mortos estava entre 6 mil e 8 mil. Seth G. Jones, no entanto, não citou a fonte da informação na publicação.