Funcionários da Cruz Vermelha foram retirados de Mauripol
‘Sofrimento de Mariupol não pode se tornar o futuro da Ucrânia’, disse Peter Maurer após funcionários serem resgatados da cidade
Todos os cerca de 40 funcionários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que atuavam em Mariupol, na Ucrânia, tiveram que deixar a cidade esta semana, devido à instabilidade do conflito na região, uma das mais afetadas pela invasão russa, afirmou Peter Maurer, presidente da organização, nesta quinta-feira. Ele está na capital Kiev para uma visita de cinco dias, e de lá falou, por videoconferência, com a imprensa internacional.
"Nossos funcionários foram embora de Mariupol com suas famílias. Não existe mais capacidade de operação na cidade, e essa é a razão pela qual eles escolheram, assim como outras milhares de pessoas, deixar Mariupol ontem", disse Maurer. As circunstâncias no local são bastante caóticas no momento.
A cidade é considerada a “zona de batalha urbana mais emblemática” do conflito russo-ucraniano, segundo o presidente do CICV. Localizada no Mar de Azov, contíguo ao Mar Negro, Mariupol está cercada pelos russos, que dificultam a entrada de suprimentos humanitários.
Na quarta-feira (16), autoridades locais chegaram a acusar Moscou de bombardear um teatro onde a população estava abrigada para se proteger dos bombardeios. Duas tentativas de abertura de corredores humanitários, para fuga dos civis, também fracassaram no local.
De acordo com Maurer, porém, o CICV está se organizando para retomar seu atendimento o mais rápido possível em Mariupol.
"A missão do CICV é atender as pessoas onde quer que surjam necessidades, nós sempre dissemos isso. Então, retirar [nossos funcionários] por um determinado momento de zonas de combate, como em Mariupol, não é um impedimento para voltarmos para lá o mais rápido possível", disse ele. "Já fizemos os ajustes logísticos necessários."
O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que atua na Ucrânia já há oito anos, principalmente na região de Donbass, fez ainda um apelo às partes beligerantes:
"Apelo para que aproveitem todas as oportunidades para avançar nas negociações e aliviar o sofrimento dos civis e das pessoas que não estão envolvidas no conflito. O que vimos em Sunny, quando agentes humanitários neutros da Cruz Vermelha e do CICV puderam ajudar milhares de crianças, idosos e enfermos, é algo de que precisamos muito mais" , declarou. "Mas me entristece que as crianças estejam embarcando em ônibus para o desconhecido em vez de embarcar em ônibus para suas escolas."
Decorridos 22 dias do início do conflito, o cenário de devastação é “amplo”. Mas ainda que um cessar-fogo não tenha sido alcançado até o momento, há medidas práticas que as partes podem tomar neste momento, “respeitando o direito internacional humanitário para limitar o sofrimento civil”, disse Maurer.
Ele listou cinco pontos: acordos concretos que permitiriam a abertura de corredores humanitários; permitir a ajuda humanitária ampla; garantir abrigo e proteção para todos que não participam diretamente do conflito; poupar a infraestrutura civil de ataques, incluindo hospitais, escolas e instalações de água e de eletricidade; e tratar os prisioneiros de guerra com dignidade. As convenções de Genebra garantem ao CICV o acesso aos detidos, mas isso ainda está sendo negociado com a Rússia e a Ucrânia.
O CICV atua na Ucrânia há oito anos, na região de Donbass, onde ficam as províncias separatistas de Luhansk e Donetsk. Segundo Maurer, o trabalho da organização humanitária foi ampliado maciçamente após o início do conflito.
"Só esta semana, foram entregues mais de 200 toneladas de suprimentos de socorro, como material médico, milhares de cobertores, utensílios de cozinha e lonas. Também enviamos dezenas de funcionários adicionais para a região, entre eles médicos, especialistas em contaminação de armas, engenheiros, logísticos e outros que podem fazer uma diferença imediata para as pessoas necessitadas", afirmou.
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