Corredor humanitário na Guerra: o que é e por que é importante
Civis terão prazo para evacuar cidade na Ucrânia após mais uma rodada de negociações com a Rússia
Os corredores humanitários são mais um entre os pontos de discórdia entre russos e ucranianos durante as negociações para o fim da guerra . Nesta segunda-feira (7), após mais uma rodada de conversas, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou um cessar-fogo para evacuação de cinco cidades.
Moradores de Kiev, Symy, Kharkiv, Chernigov e Mariupol, atacadas nos últimos dias, poderão evacuar as regiões a partir das 7h GMT (4h de Brasília) de amanhã (8).
Essa não é a primeira tentativa de um cessar-fogo para poupar civis. No último fim de semana, foram duas - uma no sábado, e outra no domingo - que não deram certo. Segundo o geógrafo, cientista político e mestre pelo Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) Tito Lívio Barcelos Pereira, a falta de êxito se deve às acusações de ambos os lados.
"De um lado, os russos falam que paramilitares ucranianos estariam usando os civis como escudo. Por que se manterem civis nessas cidades, o ataque russo acabaria atrasado porque resultaria na baixa na mortalidade de civis, as tropas russas ficariam mais desgastadas, e a reputação russa mais arranhada internacionalmente - muito mais do que já está", explica.
"Por outro lado, os ucranianos falam que os russos continuam bombardeando essas cidades, forçando o cerco, e isso não permite que essas pessoas consigam encontrar uma saída para fugir da guerra. Ficam essas acusações mutuas. Têm vídeos na internet - de perfis pró-Rússia, claro - que mostram imagens das forças paramilitares ucranianas dando bronca nos civis e evitando que eles saiam da cidade. Para eles, por serem a parte agredida, é importante - e aí não estou falando do valor moral, mas sim tático e estratégico -, manter os civis na cidade como uma forma de retardar o inimigo".
São esses "corredores" que permitem a fuga da população de áreas de conflito, minimizando o que o jargão militar chama de efeito colateral - ou seja, a morte de civis.
"Se os russos quiserem, eles poderiam continuar o cerco, avançar sobre a cidade, mas isso resultaria em uma grande mortalidade de civis. Mas aí, eles perderiam não somente a reputação internacional, mas se colocariam em uma posição constrangedora com países parceiros e aliados, como China, Índia, Irã, países da Ásia Central e Sudeste Asiático, e também prejudicaria imagem das forças russas perante a população ucraniana se colocando cada vez mais como invasores, saqueadores, pessoas que ameaçam sua população."
A alternativa para poupar vidas é normalmente negociada por agências internacionais. Desta vez, no entanto, são os próprios representantes dos dois países que estão avaliando quais serão as condições a serem adotadas.
"Normalmente depende dos interlocutores. No continente europeu poderia ser a própria ONU [a intermediadora], ou a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mas que nao parece ser o caso. Às vezes a negociação é bilateral, então pode ocorrer entre as partes envolvidas. É importante lembrar que já é a terceira vez que russos e ucranianos, mediados por terceiros, tentam fazer uma rodada de negociações para que os ucranianos aceitem as condições. Esse corredor humanitário foi acordado na segunda rodada de negociações, e foi uma das poucas coisas positivas que saíram desse segundo encontro, onde a delegação ucraniana concordou com a proposta da Rússia em criar esses corredores", lembra.
Na Na manhã de hoje, autoridades ucranianas e o presidente da França, Emmanuel Macron , criticaram a tentativa dos russos de abrir corredores apenas em direção a cidades da Bielorrúsia, onde o governo é alinhado com Putin, e Rússia. Eles defendem que os ucranianos têm o direito de partir para qualquer lugar do país, e consideraram a proposta "imoral".
Após o fim da terceira reunião de negociação, no entanto, a agência estatal russa RIA divulgou informações do cessar-fogo temporário.
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** Filha da periferia que nasceu para contar histórias. Denise Bonfim é jornalista e apaixonada por futebol. No iG, escreve sobre saúde, política e cotidiano.