Na Ucrânia, Macron defende Acordos de Minsk como saída para crise
Presidente francês diz ter obtido compromissos dos líderes russo e ucraniano e que, agora, as negociações podem avançar
Um dia depois de se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou , o líder francês Emmanuel Macron foi para a Ucrânia, onde, ao lado do presidente Volodymyr Zelensky, defendeu a aplicação dos Acordos de Minsk, firmados em 2014 e 2015, como a melhor forma para resolver diplomaticamente a crise com a Rússia . Eles foram mediados pela França e pela Alemanha, e não contaram com a participação dos EUA.
Os acordos têm como ponto central um cessar-fogo permanente no Leste ucraniano, onde separatistas pró-Moscou e forças ucranianas travam um conflito que deixou mais de 13 mil mortos nos últimos oito anos, e tirou parte do território do país do controle de Kiev. Contudo, os termos foram violados por todos os envolvidos, e Macron vem pressionando Kiev e Moscou para aceitarem sua implementação plena como forma de reduzir as tensões entre os dois lados.
Em entrevista coletiva, Macron afirmou ter obtido, de Putin e Zelensky, compromissos de implementação plena dos acordos, e que eles, hoje, são a melhor forma de garantir a integridade territorial da Ucrânia. Para ele, se esse caminho for seguido, será possível avançar nas negociações de paz, mas sinalizou que este será um processo lento, e que pode se alongar por alguns meses. Até lá, diz o presidente francês, todos os lados precisam agir com calma.
"Agora é possível fazer avançar as negociações", declarou Macron, dizendo ver "soluções práticas" para reduzir as tensões .
Ele deve conversar novamente, por telefone, com o presidente russo, Vladimir Putin, ainda esta semana.
O líder ucraniano foi um pouco mais cauteloso: para ele, Moscou precisa demonstrar ações concretas para provar que fala sério sobre suas intenções de pôr fim à crise.
"A abertura é sempre algo bom, se for verdadeira, e não um jogo, mas sim uma abertura séria, não uma piada, e o entendimento aqui é de que existe um risco real", disse Zelensky, ao lado de Macron. "Eu não acredito em palavras, eu acredito que cada político pode ser transparente ao dar passos concretos."
Zelenskiy ainda afirmou acreditar que uma reunião de cúpula entre os líderes de França, Alemanha, Ucrânia e Rússia pode ser possível em breve — o último encontro do tipo ocorreu em dezembro de 2019.
Crise militar
Hoje, governos ocidentais acusam a Rússia de posicionar, sem motivo aparente, mais de 100 mil militares em áreas de fronteira com a Ucrânia, incluindo na Península da Crimeia, anexada em 2014, na região separatista da Transnístria, na Moldávia, e na Bielorrússia, onde participam de exercícios militares conjuntos com Minsk. Esse seria, na visão de alguns países, um sinal de que Moscou planeja uma invasão do território ucraniano, algo que o presidente Vladimir Putin nega .
O Kremlin, por sua vez, tem usado a crise para pôr em foco sua antiga queixa relacionada à expansão da Otan para o Leste europeu e, agora, à aproximação entre a aliança militar e o governo ucraniano. Moscou considera uma eventual entrada da Ucrânia na aliança militar como uma "linha vermelha" — a candidatura de Kiev foi apresentada em 2008, e mesmo antes da crise não havia qualquer sinal de que ela seria aceita.
Neste contexto, Putin apresentou uma lista de demandas de segurança, que incluíam, além do veto à Ucrânia na Otan, a retirada das forças da Otan de nações do Leste europeu que entraram para a aliança após 1997.
Até o momento, não há qualquer sinal de que essas demandas serão aceitas: as respostas enviadas pelos EUA e pela Otan foram consideradas "insatisfatórias" pelo Kremlin, embora os envolvidos tenham sugerido que poderiam chegar a acertos em temas como controle de armas nucleares em solo europeu — o acordo que regia este tipo de armamento, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, foi rasgado por Donald Trump em 2019, sob protestos da Rússia.
Já Macron, que busca o protagonismo na crise antes da eleição presidencial na França em abril, adotou como linha central a implementação dos Acordos de Minsk, restabelecendo o chamado "formato da Normandia": conversas envolvendo Rússia, Ucrânia, Alemanha e França.
Além de trazer a possível resolução da crise para dentro da esfera política europeia, sem os EUA, o líder francês incluiu Kiev nas conversas — na maratona de reuniões ocorrida no final do mês passado, incluindo Rússia, EUA, Otan e Organização para a Cooperação e Segurança da Europa, o governo ucraniano reclamou de ter sido deixado de lado.
O que são os Acordos de Minsk
Firmados em 2014, os Acordos de Minsk são centrados em 13 pontos, que incluem, além do cessar-fogo imediato no Leste ucraniano (região de Donbass), iniciar um diálogo para o estabelecimento de governos autônomos, controlados pelos separatistas, em Donetsk e Lugansk, o retorno do controle das fronteiras para o Estado ucraniano, além da troca de prisioneiros, retirada de mercenários e uma definição legal e constitucional sobre o status de Donbass.
Contudo, as frequentes violações do acordo, em especial do cessar-fogo, levaram à sua estagnação, sem o cumprimento dos demais pontos. O governo russo também rejeita outra demanda ucraniana, não presente no texto: a devolução da Crimeira, sob controle de Moscou desde fevereiro de 2014. Recentemente, Putin sugeriu que qualquer tentativa de retomar o território levaria a uma guerra.
— Com informações de agências internacionais