Tiroteio deixa seis mortos em Beirute
Integrantes do Hezbollah e do Amal foram alvos de atiradores não identificados durante manifestação contra decisão da Justiça de não afastar o magistrado do caso
Ao menos seis pessoas morreram baleadas nesta quinta-feira em Beirute, capital do Líbano, após atiradores de filiação não confirmada abrirem fogo contra um protesto pela remoção do juiz que investiga a maciça explosão no porto da capital em 4 de agosto do ano passado. Explosões e disparos foram registrados em diversos pontos da cidade ao longo do dia, e há relatos de vários feridos.
Apoiadores do movimento político-militar Hezbollah e do Amal, outro importante grupo xiita, se reuniram para protestar perto do Palácio de Justiça uma hora após o principal tribunal do país rejeitar uma petição para afastar o juiz Tarek Bitar. Os manifestantes acusam o magistrado de parcialidade, mirando propositalmente políticos que compunham o governo na época da explosão, que matou 219 pessoas, feriu 7 mil e deixou um rastro bilionário de destruição.
De acordo com o Hezbollah, os manifestantes foram alvo de disparos do grupo paramilitar Forças Libanesas, uma das principais facções cristãs durante a Guerra Civil. O Exército, contudo, disse ainda não saber qual é a identidade dos atiradores.
De acordo com o Ministério do Interior, ao menos seis mortes foram confirmadas até o momento e, segundo a Cruz Vermelha, há ao menos 30 feridos. É o pior confronto na capital desde 2008, quando confrontos entre aliados do Hezbollah, a principal força política do país, e o governo, à época pró-Washington, deixaram cerca de 70 mortos.
Homens com armas pesadas e lançadores de granadas, segundo imagens de canais locais, abriram fogo de prédios na região. O Exército, por sua vez, foi deslocado em massa para as ruas e afirmou que irá disparar contra qualquer pessoa armada nas ruas.
Pedidos de calma
De acordo com a imprensa local, moradores dos andares mais altos de prédios da capital deixaram seus apartamentos para evitar serem atingidos por tiros que miram snipers no topo de edifícios. A Defesa Civil também ajuda a evacuar pessoas que se viram presas no meio dos disparos.
Em um comunicado, o ministro do Interior, Bassam Mawalawi, disse que as autoridades tinham conhecimento de que o protesto estava previsto, mas que não havia indicativos de que pudesse haver violência — ou “tiros na cabeça com munição viva”. O primeiro-ministro Najib Mikati pediu calma e alertou contra os riscos da violência, similarmente ao Hezbollah e ao Amal, que emitiram um comunicado pedindo que seus apoiadores não “se deixem levar pela discórdia maliciosa”.
Bitar é o segundo juiz a liderar a investigação sobre a explosão no porto, substituindo Fadi Sawan, que tentou, sem sucesso, interrogar várias figuras do establishment libanês, há décadas manchadas por denúncias de corrupção, má gestão e negligência. O mandatário atual também não teve muito sucesso em fazê-lo.
Há meses, ele tenta interrogar ex-ministros ligados ao Amal, movimento político do presidente do Parlamento, Nabih Berri, e um aliado próximo do Hezbollah, como o ex-premier Hassan Diab. Dois dos convocados para depor foram Ali Hassan Khalil, ex-ministro das Finanças, e Ghazi Zeiter, ex-ministros de obras públicas, signatários da petição para tentar afastar o juiz, que paralisou as investigações pela terceira vez em duas semanas.
Famílias de várias das vítimas defendem Bitar, afirmando que a liderança política libanesa está tentando blindar seus integrantes. Os protestos vêm dois dias após o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, criticar abertamente Bitar, afirmando que o juiz estava “perseguindo politicamente” autoridades em sua investigação.
*Com Agências Internacionais