Eleições na Alemanha: o que se sabe sobre disputa que marca fim da era Merkel
Candidato a chanceler do SPD, o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, disse hoje ter um mandato claro para formar um governo, buscando uma aliança com Os Verdes e os liberais
Os resultados oficiais anunciados na manhã desta segunda-feira pela autoridade eleitoral alemã confirmaram a vitória do Partido Social-Democrata (SPD) nas eleições gerais de domingo. O candidato a chanceler do SPD, o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, disse hoje ter um mandato claro para formar um governo, buscando uma aliança com Os Verdes e os liberais, naquela que poderá ser a primeira coalizão de três partidos na Alemanha desde os anos 1950. Vale ressaltar que a chanceler Angela Merkel está há 16 anos no cargo.
A costura, contudo, promete ser difícil, podendo levar de semanas a meses, paralisando a política alemã até que um consenso seja obtido. Em sua entrevista coletiva, Scholz voltou a dizer que espera uma resolução antes do Natal e, tentando dissipar preocupações com um impasse prolongado, disse que "a Alemanha sempre teve governos de coalizão e sempre foi estável", prometendo modernizar o setor industrial e combater a crise climática.
"Os eleitores falaram claramente e disseram quem deve compor um novo governo", afirmou Scholz em uma entrevista coletiva, ao lado de uma estátua do ex-chanceler e correligionário Willy Brandt (1969-1974). — Eles fortaleceram três partidos: os social-democratas, os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP). E, portanto, é claro o mandato que os cidadãos desse país desejam. Estes três partidos devem formar um novo governo.
Além da vitória na eleição geral com 25,7% dos votos, O SPD também teve boas notícias nos pleitos paralelos realizados em Berlim, onde manteve o comando da prefeitura — que será liderada pela primeira vez por uma mulher, Franziska Giffey — e do estado de Mecklemburgo-Pomerânia, no Leste da Alemanha, onde venceu as eleições para governador.
Os resultados oficiais confirmaram também que o bloco formado pela União Democrata Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel e seu partido-irmão da Baviera, a União Social-Cristã (CSU), teve seu pior resultado histórico, com 24,1% dos votos, 8,9 pontos a menos do que na última eleição, em 2017.
Uma parte dos conservadores põe o mau desempenho na conta do impopular candidato Armin Laschet, governador da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais atingido pelas enchentes que mataram 180 pessoas em julho. Laschet, ainda assim, disse nesta segunda-feira que os conservadores terão conversas com os Verdes e com o FDP na tentativa de formar um "governo estável"— negociações que especialistas afirmam ter poucas chances de sucesso.
Segundo os resultados preliminares, o SPD terá 206 cadeiras no Bundestag, e a aliança CDU/CSU, 196. Os Verdes terão inéditos 118 assentos, seguidos dos liberais, com 92, e da AfD, com 83. O Linke, por sua vez, terá 39 deputados. Nenhum partido, contudo, chegou perto da maioria necessária para governar sozinho, o que forçará Scholz a negociar uma coalizão tripla se quiser comandar um governo social-democrata pela primeira vez desde 2005, quando Gerhard Schröder deixou o poder.
Uma manutenção da "grande coalizão", invertendo apenas o partido majoritário, parece improvável:
"A CDU e a CSU não apenas perderam votos, mas também receberam a mensagem dos cidadãos de que não devem mais estar no governo, mas na oposição", disse Scholz nesta segunda, quando prometeu também continuidade nas relações com os Estados Unidos, afirmando ser necessário que democracias trabalhem em conjunto.
Coalizão 'semáforo'
De acordo com a consultoria Eurasia, a configuração mais provável é de fato a chamada "sinal de trânsito" ou “semáforo”, com a participação do SPD, dos Verdes e do FDP — o nome é uma referência às cores das três siglas, vermelho, amarelo e verde. Embora os três partidos precisem resolver divergências, as primeiras declarações parecem sinalizar para um acordo no futuro.
Os Verdes e o FDP disseram nesta segunda que conversarão entre si para tentar superar suas diferenças, antes de avançarem nas discussões com o SPD. Christian Lindner, líder dos liberais, disse que seu partido tem "mais em comum em preferências políticas" com um governo liderado pela CDU do que pelo SPD. Afirmou, no entanto, que as negociações com os Verdes fazem sentido neste momento.
Já Robert Habeck, colíder dos Verdes, falou para várias emissoras de televisão locais que deseja uma coalizão que esteja "à altura de lidar com os desafios à frente". De acordo com ele, seu partido preferirira uma coalizão apenas com o SPD, mas a necessidade de uma aliança tripla mudou as contas:
"Não há uma preferência clara do eleitor, então vai depender dos partidos chegarem a um acordo", afirmou, dizendo que a questão ambiental deverá ser prioritária.
Existe também a chance de uma coalizão “Jamaica”, formada pela CDU, pelos Verdes e pelo FDP, mas as diferenças em temas como defesa e meio ambiente podem inviabilizar um acerto. Por fim, há ainda um cenário remoto, o da coalizão “vermelho-vermelho-verde”, em que os social-democratas governariam com os Verdes e com A Esquerda. Enquanto nada se resolve, Merkel continuará no comando da Alemanha.
*Com agências internaiconais