Populistas da União Europeia se unem contra acolhimento de refugiados afegãos
Líderes são contra a criação de corredores humanitários
Enquanto a União Europeia discute formas de ajudar o Afeganistão e de retirar os civis que ajudaram o bloco ao longo dos anos de invasão ocidental do país, alguns líderes populistas europeus voltaram a se manifestar contra o acolhimento de afegãos.
Nesta segunda-feira (23), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban, conhecido por se negar a receber migrantes desde a explosão da crise em 2015, voltou a se manifestar contra a política de acolhimento.
"Protegeremos a Hungria da crise dos migrantes", disse em uma entrevista a uma rádio local, ressaltando que é "fundamental" apoiar a Turquia e países próximos para "evitar o ingresso" deles no bloco europeu. Para Órban, a "solução" é ajudar financeiramente essas nações.
Outro que voltou a se manifestar é o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, que afirmou que "os eventos no Afeganistão são dramáticos, mas não podemos repetir os erros de 2015".
"As pessoas que saem do país precisam ser ajudadas pelos países vizinhos e a UE deve proteger as fronteiras externas e combater a migração ilegal e o tráfico de seres humanos", afirmou.
Kurz disse que a Áustria "acolheu 44 mil afegãos", sem precisar em quanto tempo isso ocorreu, e que o país "tem uma das maiores comunidades afegãos por capita do mundo, depois do Irã, do Paquistão e da Suécia". "Nós temos graves problemas de integração e somos contrários a qualquer adição", pontuou.
Na última semana, o chanceler austríaco chegou a sugerir a "criação de campos de deportação" nos países vizinhos do Afeganistão para todos aqueles que tenham os pedidos de asilo negados na UE.
O pedido ocorre enquanto outros países do bloco, como Alemanha e França, suspenderam as deportações por conta da grave situação política no Afeganistão com a retomada do poder pelo Talibã.
A Grécia não ficou apenas nas palavras, mas ergueu um muro de 40 quilômetros na fronteira com a Turquia para evitar a chegada de migrantes.
No domingo (22), o premiê da Eslovênia, Janez Jansa, nação que tem a presidência rotativa do bloco, disse que não haverá a criação de "corredores humanitários" com o Afeganistão.
"Não repetiremos os erros estratégicos de 2015. Ajudaremos só aqueles que nos ajudaram durante a missão da Otan e dos países-membros da UE que defendem as nossas fronteiras externas. Não é função da UE ou da Eslovênia ajudar e pagar para todos aqueles que fogem no mundo", disse Jansa.
A declaração do premiê esloveno causou rápida repercussão entre os líderes europeus, que destacaram que o presidente do turno "não tem poder" sobre um assunto do tipo. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que o "premiê esloveno deve ater-se rigorosa e exclusivamente às suas responsabilidades".
A polêmica no acolhimento dos afegãos ocorre no momento em que os países ocidentais fazem uma evacuação caótica de Cabul de civis que ajudaram os estrangeiros durante os anos de ocupação liderada pelos Estados Unidos. Além disso, diversos países incluem ativistas de direitos humanos e algumas pessoas proeminentes do Afeganistão nessa evacuação.
Mas, esse aumento de migrantes não deve acontecer apenas agora. A vice-ministra das Relações Exteriores da Itália já estima que haverá um "novo fluxo de migrantes afegãos que chegarão pela rota balcânica" ao país.
O Talibã retomou o poder de maneira total no último dia 15 de agosto, com a queda de Cabul, após 20 anos de controle norte-americano. Há o temor que o grupo fundamentalista volte a reimplantar um emirado islâmico e ataque, principalmente, os direitos das mulheres.