Alvo da ditadura militar no Brasil, padre Cavazzuti morre aos 86 anos

Religioso tinha uma forte ligação com o Brasil, tendo sido vítima de um atentado de fazendeiros em Goiás em 1987

Foto: Reprodução/Diocese de Goiás
Padre Cavazzuti morre na Itália

O padre italiano Francesco Cavazzuti, 86 anos, faleceu neste sábado (7) na Casa do Clero, em Carpi, na Itália, informou a diocese local. O religioso tinha uma forte ligação com o Brasil, tendo sido alvo da ditadura militar e vítima de um atentado de fazendeiros em Goiás em 1987.   

Cavazzuti foi enviado ao Brasil em 1969 como um missionário fidei donum, os religiosos que vão para áreas mais remotas em outros países para evangelizar. Segundo a diocese de Capri, a área era “bastante carente de sacerdotes”.   

No país, no entanto, ele se tornou um dos alvos do regime militar por conta da sua atuação junto aos pobres e aos pequenos proprietários de terras do interior de Goiás.


Em um documento publicado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), intitulado "Os inimigos de batina", Cavazutti é apontado como um "padre alienígena" por um relatório do Serviço Nacional de Informações (SNI). O texto ainda revela que a ditadura tentou expulsar o religioso, conhecido como padre Chicão, do território nacional em 1972 por “prática de atos contrários ao regime e enquadráveis na Lei de Segurança Nacional”.   

O padre continuou a trabalhar no Brasil e a aconselhar os pequenos produtores a não venderem suas terras para os grandes fazendeiros locais e a defenderem suas residências. Por conta disso, em 28 de agosto de 1987, o religioso sofreu um atentado em Mossâmedes, cidade a 150 quilômetros de Goiânia, ordenado pelos fazendeiros com o objetivo de matá-lo.   

Cavazzuti sobreviveu e fez tratamento na Itália, mas ficou cego dos dois olhos. Depois de um longo período de recuperação, ele retornou ao Brasil. Em 2005, foi inaugurado em Goiás um Centro para os Direitos Humanos com o nome do padre Chicão e, dois anos depois, retornou em definitivo para Carpi, onde viveu na Casa do Clero e continuou sua missão sendo vice-diretor do Centro Missionário Diocesano.   

"O seu ministério foi caracterizado por um grande compromisso com a justiça e o reconhecimento dos direitos humanos e dos trabalhadores, atividades que criaram atritos com autoridades políticas locais que tentaram afastá-lo do Brasil", citou a diocese no comunicado.   

O velório será realizado neste domingo (8), no seminário local, e o sepultamento ocorrerá na segunda-feira (9) após uma missa na catedral presidida pelo bispo Erio Castellucci.