Em mais um dia de protesto, pelo menos 35 pessoas são mortas em Mianmar
Do total, 14 pessoas foram mortas no subúrbio de Hlaingthaya, depois que fábricas financiadas pela China na área foram incendiadas
As forças de segurança de Mianmar mataram pelo menos 35 pessoas neste domingo (15), segundo o grupo de defesa da Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos. Do total, 14 manifestantes foram mortos no subúrbio industrial pobre de Hlaingthaya, na principal cidade de Mianmar, depois que fábricas financiadas pela China na área foram incendiadas, de acordo com a mídia local.
Outras 14 pessoas foram mortas em regiões de Yangon, a maior cidade de Mianmar, e em outras partes do país. A televisão estatal disse que um policial morreu em um dos dias mais sangrentos de protestos contra o golpe militar de 1º de fevereiro contra a líder eleita Aung San Suu Kyi.
A embaixada da China disse que muitos funcionários chineses ficaram feridos e presos em ataques incendiários por agressores não identificados em fábricas de roupas em Hlaingthaya e que pediu a Mianmar que proteja a propriedade e os cidadãos chineses. Conforme nuvens de fumaça subiam da área industrial, as forças de segurança abriam fogo contra os manifestantes no subúrbio que abriga migrantes de todo o país, disse a mídia local.
A lei marcial foi imposta em Hlaingthaya e outro distrito do centro comercial de Mianmar, anunciou a mídia estatal. A televisão Myawadday, administrada pelo Exército, disse que as forças de segurança agiram depois que quatro fábricas de roupas e uma fábrica de fertilizantes foram incendiadas e cerca de 2.000 pessoas impediram que os carros de bombeiros chegassem até eles.
O Doutor Sasa, representante dos legisladores eleitos da assembléia que foi destituída pelo Exército, expressou solidariedade ao povo de Hlaingthaya. "Os perpetradores, agressores, inimigos do povo de Mianmar, o maligno SAC (Conselho Administrativo do Estado) serão responsabilizados por cada gota de sangue derramada", disse ele em uma mensagem.
As últimas mortes aumentariam o número de protestos para mais de 100, enquanto o grupo de defesa da Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos disse que mais de 2.100 pessoas também foram presas ontem. O número de mortos de hoje seria igual ao de 3 de março, que anteriormente registrou mais mortes do que em qualquer outro dia.
Uma junta militar de Mianar declarou lei marcial sobre dois distritos em sua maior cidade, Yangon, informou a mídia estatal hoje. O anúncio - que vai impor uma "lei marcial judicial" em Hlaing Tharyar e no distrito vizinho de Shwepyitha - ocorre depois das mortes ocorridas em consequência às repressões das forças de segurança contra manifestantes anti-golpe neste domingo.
A junta "concede ao comandante regional de Yangon o poder administrativo e judicial da lei marcial para praticar (nos distritos de Hlaing Tharyar e Shwepyitha) (...) e realizar a segurança, manter o Estado de Direito e a tranquilidade de forma mais eficaz", disse um porta-voz em um veículo da imprensa estatal.
Golpe aconteceu em 1º de fevereiro
Em um golpe de 1º de fevereiro, os generais derrubaram o governo e prenderam a líder de fato do país, Aung San Suu Kyi, o presidente Win Myint e outros membros do Gabinete, pondo fim a seis anos de experiência democrática no país iniciada após mais de cinco décadas de ditadura militar.
As Forças Armadas alegaram fraude nas eleições de novembro, declaradas válidas pelas autoridades eleitorais e vencidas esmagadoramente pela Liga Nacional para a Democracia (LND), de Suu Kyi. Os militares temiam que a LND prosseguisse com reformas para diminuir seu status especial na política, mantido após a devolução do poder aos civis.