Arqueóloga, que descobriu cidade mais antiga das Américas, é ameaçada de morte
Invasores reivindicam direito de herança sobre as ruínas de 5 mil anos, que foi dada a eles na década de 1970
Ocupantes ilegais invadiram as ruínas da cidade mais antiga das Américas e fizeram ameaças de morte contra Ruth Shady, a célebre arqueóloga peruana que descobriu a civilização de 5 mil anos.
As ameaças vieram por meio de ligações e mensagens a vários trabalhadores do sítio arqueológico no auge da pandemia de Covid-19, no Peru. Eles acompanharam os relatórios da polícia e promotores sobre as invasões das antigas ruínas de Caral.
"Eles chamaram o advogado do local e disseram que se ele continuasse a me proteger, eles o matariam, junto comigo, e nos enterrariam cinco metros abaixo do solo", disse Shady. "Então eles mataram nosso cachorro como um aviso. Eles o envenenaram, como se dissessem, olhe o que vai acontecer com você."
Não é a primeira vez que Shady é ameaçada ou atacada . Em 2003, ela foi baleada no peito durante um ataque ao complexo arqueológico de 626 hectares, que foi declarado patrimônio mundial da UNESCO em 2009.
Após nove invasões à cidade sagrada durante o período de pandemia, Shady e sua equipe pediram repetidamente às autoridades que interviessem. "Há um sentimento de que não existe uma autoridade dedicada à proteção e defesa do nosso patrimônio. É uma grande preocupação", disse ela.
Em julho, invasores usando uma escavadeira pesada derrubaram paredes de adobe e rasgaram o solo destruindo cerâmicas antigas, tumbas contendo múmias, tecidos e restos domésticos, antes que a polícia e a equipe do local conseguissem detê-los.
Como resultado dos apelos de Shady, um carro da polícia patrulha o sítio arqueológico dia e noite, mas nada foi feito para punir ou expulsar os invasores.
Acredita-se que os posseiros pertençam a uma única família extensa e afirmam que as terras foram dadas a eles na década de 1970, durante a polêmica reforma agrária do Peru, que foi promovida por uma ditadura militar de esquerda.
Shady nega a afirmação. "Eles não têm um único título de terra. O dono do terreno é o estado peruano."
O despejo planejado de um dos invasores foi impedido em dezembro, quando um promotor local e oficial não deram a ordem de prosseguir, apesar de ter o apoio de policiais, disse Shady.
Os preços dos terrenos na área aumentaram de cerca de R$ 25 mil para até R$ 250 mil por hectare , à medida que pessoas de fora correm para comprar terras ao redor do prestigioso sítio arqueológico que é cercado por uma zona de 90 quilômetros quadrados.
Shady, que foi nomeada na lista das 100 mulheres da BB C no ano passado, visitou Caral pela primeira vez em 1978. Mas foi só em 1994 que ela descobriu a cidade antiga e começou a escavar adequadamente o local, que está situado em um terraço seco do deserto com vista para o Vale do rio Supe quase 200 km ao norte de Lima.
O que ela descobriu foi o " centro mais antigo da civilização nas Américas", que a UNESCO descreve como "excepcionalmente bem preservado", com um projeto arquitetônico complexo com "pedras monumentais e suportes de plataforma de terra e pátios circulares rebaixados". O material orgânico encontrado no local foi datado de carbono desde 2627 a.C.
Shady e sua equipe continuam a investigar e escava r uma dúzia de antigos assentamentos. Suas descobertas revelaram instrumentos musicais como flautas feitas de ossos de animais e pássaros e evidências do cultivo de algodão multicolorido usado em tecidos.
"Não podemos permitir que sítios arqueológicos continuem sendo invadidos e destruídos porque é uma história não escrita e recuperamos essa história por meio de nossa investigação", disse Shady. "Se não pudermos fazer isso, é como queimar um livro que ninguém vai ler."