Eleições nos EUA: 'Biden não é de esquerda', dizem especialistas; entenda
Percepção dos brasileiros sobre espectro político do novo comandante do país inundaram as redes sociais durante o pleito
Por Felipe Freitas | | iG - Último Segundo |
A eleição para definir o novo presidente dos Estados Unidos causou muita repercussão no Brasil. Não para menos, a internet por aqui foi tomada por memes e discussões políticas acerca do pleito norte-americano. Entre os assuntos mais comentados, e que gerou mais dúvida nas pessoas, estava a linha política em que Joe Biden se encontra. Afinal, ele é de esquerda? O iG conversou com especialistas para entender em qual espectro político Biden se encontra e em como ele pode ser definido.
“Biden dentro do espectro político tem uma característica centrista porque ele sempre foi um político de muito contato e muita conversa com os republicanos. Ele vem de uma antiga escola de política, da década de 70, quando havia ainda muita convergência entre republicanos e democratas. A tendência é que Biden traga os republicanos para perto de seu governo. A atuação dele será bem moderada e bipartidária”, afirma o cientista político do Mackenzie, Márcio Coimbra.
Outro especialista e professor de ciência política, Leandro Consentino, também avalia que ambos os partidos - o democrata e o republicano - sempre foram próximos com relação à condução de políticas, embora haja diferenças entre eles.
“Eu acho que o Biden hoje se encontra certamente em uma posição mais progressista que o Trump e menos conservadora. Os democratas sempre tiveram a tradição de serem mais intervencionistas na economia e o Trump era nacionalista. Eu acho que, com o Biden agora, nós vamos ter uma moderação nessa questão e uma tendência a ser mais liberal, mais progressista nos costumes e no trato político”.
Biden de esquerda?
Consentino acredita que à associação de Joe Biden às ideologias de esquerda se dá muito pela estratégia política trumpista e de seus apoiadores ideológicos que acabam reproduzindo seu discurso.
“Toda construção do Joe Biden dessa forma é parte da estratégia de Trump para isolar o adversário num patamar em que ele seja rejeitado pela opinião pública. Ele fez isso com a Hilary Clinton e com o Obama, inclusive, e buscou repetir isso com o Biden (...) A esquerda é muito minoritária nos Estados Unidos e o Biden está longe disso. Ele é apenas moderado”.
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“Certamente Biden não é um político de esquerda. Vindo da tradição dele, que é um político mais tradicional, nós vemos um parlamentar muito ponderado, que é muito centrista. Realmente houve uma confusão no Brasil em enxergar o Biden como um esquerdista, até porque o próprio partido democrata não é de esquerda como pode se pensar aqui. O partido democrata é um partido de centro esquerda, assim como o republicano é de centro direita”, afirma Coimbra.
Ele complementa que Biden é uma pessoa que dialoga com os dois lados. “Ele exerceu esse papel como vice-presidente de Obama, conseguindo sempre fazer uma ponte muito confiável com os republicanos dentro do Congresso. Agora, na presidência, ele vai fazer isso por ele mesmo”.
Diferenças de estilo entre Trump e Biden
“O Trump é de fato um cara mais conservador, que não adere o regime pleno de direitos humanos e meio ambiente, por exemplo, e tem uma retórica mais extremista e inflamada. O Joe Biden é uma liderança democrata, porém mais conservadora no espectro político que muitos do próprio partido”, diz Consentino.
Márcio Coimbra ainda comenta que uma das principais diferenças entre ambos é o radicalismo. Enquanto Trump é uma pessoa mais aguerrida a seus ideais, Biden é muito mais maleável politicamente, o que pode favorecê-lo.
“Donald Trump não entende as regras da política. Ele chegou à Casa Branca rejeitando as regras tradicionais, dizendo que ia começar uma nova política. Na verdade, isso acabou não acontecendo por conta das barreiras que ele encontrou no Congresso e que dificultaram a imposição de sua agenda”.
Ele é um político bastante versátil e hábil, capaz de criar maioria. Talvez seja exatamente o que os EUA esteja precisando neste momento - menos confronto e mais entendimento, acredita Márcio Coimbra