Homem é suspeito de matar irmã por ela se relacionar com homem trans

Maria Paola Gaglione, de 22 anos de idade, viajava de scooter com seu namorado quando foi interceptada pelo próprio irmão, que a espancou até a morte na Itália

Maria Paola estava em scooter com namorado quando foi espancada pelo irmão
Foto: Redes sociais
Maria Paola estava em scooter com namorado quando foi espancada pelo irmão

Após a morte de um jovem negro brutalmente espancado na Itália , outro crime deixou o país em choque no último fim de semana, colocando o preconceito, desta vez por orientação de gênero, no centro do debate público.

Maria Paola Gaglione, de 22 anos de idade, viajava de scooter com seu namorado, um homem transexual, entre Caivano e Acerra, na província de Nápoles, sul da Itália. Segundo a investigação, o veículo do casal foi abalroado pela moto do irmão de Maria Paola, Michele Antonio Gaglione, 25, que o perseguia na estrada.

Maria Paola morreu instantaneamente, enquanto seu namorado, Ciro, caiu no chão e ainda teria sido agredido por Michele. O casal comemorava três anos de relacionamento. Em seu perfil no Facebook, a mãe de Ciro acusou Michele de cometer um "homicídio deliberado porque não suportava que a irmã saísse com um homem trans".

Já o namorado de Maria Paola escreveu uma mensagem dedicada a ela no Instagram. "Não consigo mais dormir, penso em você 24 horas por dia, meu amor. Você faz muita falta, era a única que me amava de verdade", disse.

A ONG Arcigay, que defende os direitos da comunidade LGBTQ+, entrou em contato com Ciro e disse que o jovem revelou "repetidas ameaças de morte" contra o casal. "Aquilo que aconteceu era algo que, de algum modo, já se esperava", afirmou a presidente da entidade em Nápoles, Daniela Falanga.

O advogado de Michele, Domenico Paolella, admitiu que seu cliente perseguiu a irmã de moto, mas disse que ele não causou o acidente. Segundo o suspeito, ele queria apenas "pedir" à irmã para voltar para casa. Michele está preso preventivamente e deve responder por homicídio preterintencional - quando há dolo na ação, mas ela resulta mais grave que o esperado.

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O advogado de defesa ainda acrescentou que a tragédia foi "instrumentalizada" e que a família esperava mais "delicadeza" neste momento. Paolella alega que Maria Paola havia saído de casa sem avisar ninguém, deixando seus parentes "desesperados".

Homofobia e transfobia

O Parlamento da Itália discute atualmente um projeto de lei que criminaliza a homofobia e a transfobia. A proposta tem como relator o deputado Alessandro Zan, do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, mas ainda não foi aprovada na Câmara dos Deputados nem no Senado.

O texto inclui a homofobia e a transfobia nos itens do Código Penal que punem atos de violência e discriminação por motivos raciais, étnicos ou religiosos. Com isso, quem cometer ou instigar discriminação por orientação sexual ou de gênero estaria sujeito a penas de até um ano e seis meses de prisão, enquanto atos de violência seriam punidos com até quatro anos de reclusão.

Além disso, institui o Dia Nacional contra a Homofobia e destina 4 milhões de euros para um fundo que financiará políticas de inclusão da comunidade LGBTQ+. No entanto, após pressão da Igreja Católica e da oposição conservadora, que qualificam o texto de "liberticida", foi introduzida uma emenda que isenta de punição opiniões que não sejam instigações explícitas à violência.

"Estou chocado com o que aconteceu em Caivano. Não há palavras para descrever o horror desse homicídio, é assim que se morre de transfobia e misoginia na Itália, esse é o resultado da falta de leis contra o ódio e a violência transfóbica", disse Zan no último domingo (13).

Já o prefeito de Nápoles, Luigi de Magistris, afirmou que "todos serão responsáveis por essa morte" se não houver empenho na luta pelos direitos civis. "Maria Paola e Ciro, um amor e uma vida despedaçados. Isso não pode acontecer mais", acrescentou.