Aliado de Guaidó admite que firmou acordo com mercenários para sequestrar Maduro

Juan José Rendón disse que assinou um contrato com a empresa norte-americana Silvercorp

Foto publicado por Maduro mostra grupo sendo detido na costa de Chuao
Foto: Reprodução/Twitter Nicolás Maduro
Foto publicado por Maduro mostra grupo sendo detido na costa de Chuao


O político opositor venezuelano Juan José Rendón admitiu estar envolvido na Operação Gedeón — suposta incursão marítima para derrubar o presidente Nicolás Maduro — e afirmou, em entrevista à rede CNN, que o líder opositor Juan Guaidó estava ciente do plano preliminar, mas não deu sinal verde para sua execução.

Em um vídeo exibido  pela televisão estatal da Venezuela na quarta-feira, um dos ex-militares americanos detidos no país confirmou que o plano era dominar um aeroporto, colocar o presidente venezuelano em um avião e levá-lo para os EUA.

O homem, identificado por Maduro como Luke Denman, foi preso junto de Airan Berry na última segunda-feira. Tanto Denman quanto Berry são ex-militares americanos. A resposta do governo venezuelano para dissuadir a suposta tentativa de sequestrar

No vídeo, Denman exibe um documento segundo o qual uma companhia de segurança privada americana chamada Silvercorp , dirigida por Jordan Goudreau, assumia explicitamente o objetivo de derrubar Maduro. O contrato seria assinado por Rendón, que mora na Colômbia e, segundo o jornal Washington Post, integra um Comitê Estratégico criado por Guaidó em agosto do ano passado.

Acordo preliminar

Quando questionado na CNN sobre o documento, o assessor de Guaidó esclareceu que se tratava de um acordo preliminar, que não chegou a ser assinado pelo líder opositor. Segundo ele, Goudreau tampouco teve sinal verde para dar início à operação.

"A parte que foi mostrada nas imagens é de sete ou oito páginas, onde aparecem o nome de Guaidó, mas o documento continha 42 páginas de anexos, que explicavam o objetivo exploratório do acordo, sem a assinatura dele. Repito, o acordo não foi executado ou aperfeiçoado, ou seja, não houve avanço em nenhum dos preâmbulos para que ele se tornasse efetivo. Por isso esse senhor mostrou apenas as sete páginas, não sabemos como a assinatura de Guaidó chegou ali", disse.

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Rendón também confirmou ter pago à Silvercorp US$ 50 mil em despesas, mas garante que de seu próprio bolso:

"Sim, saíram da minha conta, pessoal. Eu não preciso me esconder, e já fiz isso milhões de vezes: todos os ataques, todos os pagamentos a meus advogados, meu asilo, sempre fui eu quem paguei.  Não é que eu tenha inventado ontem a luta contra o regime. Antes do presidente Guaidó, estou nisso há 20 anos e sempre financiei esta luta. Quanto vale a liberdade da Venezuela?", afirmou.

A missão

No domingo, o governo venezuelano anunciou ter matado oito integrantes de um comando "mercenário terrorista" que tentou desembarcar em uma praia perto de Caracas, vindo da Colômbia. No dia seguinte, informou a prisão dos dois americanos acusados de envolvimento na operação e de mais 11 suspeitos.

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Na entrevista à CNN,  o assessor também deixa claro que a operação buscava explorar a possibilidade de captura e entrega de membros do regime venezuelano que atualmente têm ordem de prisão nos EUA ,  "não de assassinato".

"Nossa função era analisar todos os cenários possíveis para o fim da usurpação. E ponto. Não era uma coisa pública, não era para estar falando a jornais, manteve-se uma discrição, que continuamos mantendo. É algo que só agora está vindo à tona", disse Rendón sobre o contrato com a Silvercorp. Ainda segundo ele, todos os possíveis cenários foram avaliados.

"Lembre-se de que o governo legítimo do presidente Guaidó não controla nenhuma força policial no país, portanto, todos os cenários são analisados: alianças com outros países, suas próprias ações, aumento de pessoas de dentro do país, militares que estão lá, uso eventual de atores que estão fora, como militares aposentados. Todos esses cenários  foram analisados".

Repercussão nos EUA

Na terça-feira, Washington considerou as acusações que envolvem Guaidó como um "melodrama" e uma "grande campanha de desinformação" de Caracas, e na quarta-feira alertou que usará todas as opções à sua disposição para repatriar os dois americanos.

"Se o regime de Maduro decidir retê-los, usaremos todas as ferramentas disponíveis para tentar trazê-los de volta", disse o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo , a repórteres.

Nesta quinta-feira, ele voltou a negar qualquer envolvimento dos EUA na ação contra Maduro, mas disse que o venezuelano deve deixar o poder. Por sua vez, os partidos opositores Primeiro Justiça e Vontade Popular —  ao qual Guaidó é afiliado —   emitiram um comunicado nesta quinta-feira declarando que "forças democráticas não promovem  ou financiam guerrilhas, surtos de violência ou grupos paramilitares".

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Acusações

Em pronunciamento na televisão na noite de quinta-feira, Maduro acusou James Story , encarregado de Negócios dos EUA para a Venezuela, de ser "responsável pelo ataque mercenário armado". Maduro afirmou que atualmente não há diálogo entre seu regime e os Estados Unidos, o que, segundo ele, constituiria uma novidade.

"Sempre houve canais de comunicação. Depois de 3 de maio, eles foram cortados. Eles não atendem os telefones. Silêncio total", disse.

O caso surge num momento de especial tensão entre EUA e Venezuela . Em março, o Departamento de Justiça dos EUA acusou Maduro e pessoas ligadas a ele de "narcoterrorismo" e outros crimes, oferecendo US$ 15 milhões por informações que levassem à detenção do presidente venezuelano. Em abril, os EUA enviaram navios de guerra para perto da costa venezuelana, em uma importante operação de combate aos narcóticos.

No Brasil, o governo Bolsonaro, que assim como os EUA e outros 50 países reconhece Guaidó como presidente interino do país vizinho, também aumentou a tensão com Caracas, ordenando a saída do país dos diplomatas indicados por Maduro.