Como funciona a eleição para presidente nos Estados Unidos
Em 2016, Hilary Clinton teve a maioria do voto popular e mesmo assim não foi eleita. Por quê? Saiba o motivo
Por Jade Lourenção |
O modo eleitoral que o brasileiro está acostumado, voto direto e obrigatório, candidato com mais votos vence as eleições, e fica no poder por quatro anos é bem diferente nos Estados Unidos, onde a principal diferença é o voto facultativo - ou seja, ninguém é obrigado a votar. Em 2016 foi a primeira vez que o sistema de votação teve uma “pane”: Hillary Clinton ganhou a maioria dos votos populares, mas mesmo assim não foi eleita.
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Isso aconteceu porque nos EUA o número de delegados (representantes que cada estado tem) é o que dita o vencedor da eleição , e mesmo Hillary tendo maioria dos votos populares, os delegados de cada estado em que ela ganhou, somados, foram menores do que os de Donald Trump. Cada estado tem um número de delegados equivalente ao da população: quanto mais cidadãos, mais delegados representam aquele estado no Congresso e vice-versa.
Quando um candidato vence a votação em um estado, todos os delegados vão para as eleições presidenciais, assim, contabilizando os votos “válidos” para aquele candidato. As chamadas primárias e caucus são uma prévia da aceitação de cada concorrente, que mostra o que deve acontecer nas eleições de fato, e também servem para decidir qual candidato de cada partido deverá concorrer nas eleições finais.
Para tornar tudo mais simples de ser entendido, dividimos cada etapa e o que ela significa.
Democrata ou Republicano
Segundo o professor de comunicação da Unipac, em Minas Gerais, e mestre em Relações Internacionais, Ricardo Rios, o Partido Democrata
, representado pela imagem de um burro, está mais alinhado com o que conhecemos como “esquerda política”. “Democratas costumam apoiar pautas de sindicatos, minorias raciais e religiosas, feministas, LGBTs e ambientalistas, com papel mais intervencionista do Estado na economia”, afirma.
Porém, isso não foi sempre assim. No século XIX, o Partido Democrata foi formado por estados escravagistas do sul do país. Hoje, a maioria dos estados democratas estão localizados ao norte e centro dos Estados Unidos, salvo algumas exceções, como a Califórnia .
Já o Partido Republicano , representado por um elefante, está alinhado com conservadorismo de direita, como a “moral e bons costumes”. “Eles defendem menos atuação do Estado na economia e na vida das pessoas, mas sem abrir mão da presença dele [Estado]. Este partido tem ideias mais conservadoras, defende o direito ao porte de armas e uma política internacional mais realista, ou seja, usando a força se necessário”, explica Rios. Tradicionalmente os estados do sul são republicanos, como o Texas.
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Caucus
O caucus é um conselho formado pela população que se reúne para discutir as propostas dos pré-candidatos do partido em que pretende votar. Nessa etapa, é possível ter uma prévia de qual político terá mais votos naquele estado, assim, já decidindo o candidato que de fato irá para as eleições.
Primárias
Esta etapa pode ser aberta ou fechada. Na primeira opção, qualquer eleitor, mesmo se não filiado ao partido, pode votar no pré-candidato de sua preferência. Na segunda, apenas eleitores filiados ao partido Republicano ou Democrata podem votar nos respectivos candidatos.
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Os caucus e as primárias servem como prévias, e cada estado decide qual dos dois métodos irá usar para pesquisar as “intenções de voto”.
Depois de decididos quais candidatos concorrerão à presidência, começam as campanhas. Os elegíveis percorrem os estados pedindo por doações e votos, para ganharem popularidade dentre a população.
Eleições
Em novembro começam, de fato, as eleições presidenciais . A população vai às urnas e vota em seu candidato. Quem tiver mais votos naquele estado, leva o número de delegados consigo, somando toda vez que for vitorioso. Ou seja, os cidadãos servem para decidir qual candidato será representado por todos os delegados daquele estado.
Muitas vezes a disputa fica acirrada, e o critério de desempate são os swing-states (estados pêndulo). "Mais de doze Estados são vistos como oscilantes com grande importância eleitoral", diz o Professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP, Alberto do Amaral Júnior. Tradições são levadas muito a sério nos Estados Unidos, e por isso muitos estados são “religiosamente” democratas ou republicanos. Porém, os swing-states não têm essa tradição, e podem variar de acordo com o candidato da vez. Alguns dos mais importantes são: Ohio, Flórida, Arizona, Nevada, Pensilvânia e Colorado, segundo Alberto.
Quando o presidente é eleito e seu mandato está no final - caso de Donald Trump em 2020 - ele já é automaticamente candidato à reeleição pelo seu partido, não havendo outro candidato que possa fazer campanha.
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Aqui no Brasil as coisas mudam bastante. Os candidatos são eleitos por voto popular, sem intermédio de qualquer outro “representante” (como os delegados). O próprio partido decide quem concorrerá à presidência, e existem centenas de partidos políticos. A única coisa que se assemelha aos Estados Unidos são os deputados. Aqui, o número de deputados federais varia de acordo com a população de cada estado. São Paulo, por exemplo, tem 70 deputados federais na Câmara, enquanto o Amapá tem apenas 8.