Os incêndios florestais das últimas semanas na Austrália são uma "catástrofe ecológica" que demorará décadas para ser superada e que exige apoio financeiro significativo e mudanças de políticas ambientais, advertem especialistas.
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Segundo Stuart Blanch, cientista ambiental e um dos responsáveis pelo setor de reflorestamento da World Wide Fund - Austràlia (WWF-A), essas mudanças exigem, necessariamente, medidas concretas para evitar que "continue a aumentar a temperatura do forno" que "cozinha" o planeta Terra.
"Estamos diante de uma catástrofe ecológica, a estimativa é de perda de 1 bilhão de animais, mas sabemos que esse número vai aumentar quando informações mais precisaa forem compiladas", disse.
Nas últimas semanas, o fogo queimou uma área maior que Portugal - a época dos incêndios ainda não terminou -, com sérios danos a ecossistemas, especialmente na costa leste do país, deixando várias espécies ameaçadas.
O número de 1 bilhão de animais mortos baseia-se em estudo feito em 2007 por um grupo de cientistas especializados em répteis, mamíferos e outros animais que estimava que, em média, havia entre 150 e 160 animais vertebrados em cada hectare do ecossistema.
"O número de 1 bilhão é uma extrapolação conservadora dessa média de animais, considerando os mais de 10 milhões de hectares queimados", explicou.
Em média, 80% desses animais são répteis, incluindo lagartos e cobras, 12% a 15% são aves e 5% a 8% são mamíferos, ficando fora do total morcegos, sapos, peixes e insetos, cujas populações não foram contabilizadas pelo estudo.
Novos levantamentos estão sendo feitos para determinar com mais precisão a presença desses e de outros animais nos vários ecossistemas da Austrália, para assim permitir avaliações mais detalhadas em casos como os atuais, acrescentou.
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Segundo Blanch, ainda que os animais selvagens e as próprias florestas tenham se adaptado ao fogo ao longo de milhares de anos, não implica que os animais tenham conseguido escapar dos atuais incêndios, de dimensão e extensão fora do normal.
"Os fogos que temos agora não são como no passado. São muito maiores, muito mais intensos, mais quentes, menos previsíveis e muito dos animais não conseguem escapar, até mesmo os pássaros", explicou.
"O fogo viaja muito rápido, e a intensidade do calor acaba depois por alcançar muitos animais que fugiram. Há muitos animais que conseguem escapar, mas que acabam morrendo, porque ficam sem habitat, ficam sem comida. Por isso o impacto é dessa dimensão"..
Falta de comida, cansaço dos animais, que têm de viajar grandes distâncias, e até os que ficam presos em vedações de propriedades agrícolas, acabam por , aumentar a perda de vida selvagem.
Anna Felton, da organização ambiental Wires - que administra uma rede de voluntários envolvidos no apoio à vida selvagem - diz que é impossível saber quantos animais morreram, mas que muitas espécies já estavam com problemas devido à falta de água e alimentos por causa da seca prolongada em vários locais.
A Wires diz que "nunca na sua história viu um momento de emergências paralelas como as que começaram em novembro" com os fogos a terem um impacto a longo prazo para os animais que sobreviveram.
Só em dezembro, a organização recebeu mais de 20 mil chamadas - mais 14% que no ano passado. Os voluntários da Wires fizeram mais de 3.300 salvamentos de animais.
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"O fogo não discriminou espécies. E todas são necessárias para o equilíbrio ambiental. Mas ainda é cedo para saber o verdadeiro impacto porque continuamos na fase critica de salvamentos e de cuidados imediatos", disse Fento em entrevista.
Entre os animais em maior risco, Stuart Blanch destaca a população de coalas, "especialmente vulneráveis na costa leste" e que "devem ser consideradas sob ameaça de extinção" e o 'Regent Honey Eater', pássaro que já estava ameaçado e que perdeu praticamente todo o seu habitat.