Irã pede explicações ao Brasil sobre nota de apoio aos Estados Unidos
Além de representante brasileira, outros representantes de países que falaram sobre assassinato de general iraniano pelos EUA foram convocados
A Chancelaria do Irã convocou o representante do Brasil em Teerã no domingo para pedir explicações à diplomacia brasileira sobre o posicionamento do Brasil frente aos acontecimentos, no Iraque, que culminaram com a morte do general Qassem Soleimani, da Guarda Revolucionária do Irã. Soleimani foi atingido por um míssil americano há cinco dias.
Como o embaixador do Brasil naquele país, Rodrigo Azeredo, está de férias, a encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, representou o governo brasileiro na reunião no Ministério das Relações Exteriores iraniano. A reunião foi confirmada pelo Itamaraty ao GLOBO, mas o teor da conversa não foi revelado.
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"A conversa, cujo teor é reservado e não será comentado pelo Itamaraty, transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática", informou o Ministério das Relações Exteriores.
Como reação ao episódio, o Itamaraty divulgou uma nota, na última sexta-feira, praticamente respaldando o assassinato do militar pelos Estados Unidos. O órgão condenou várias vezes o terrorismo e, sem citar nomes, usou uma linguagem diplomática para demonstrar que, para o governo brasileiro, o general iraniano e a própria Guarda Revolucionária poderiam ser classificados como terroristas.
"Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo", diz um trecho do comunicado, intitulado "Acontecimentos no Iraque e luta contra o terrorismo".
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Na nota, o governo afirma que "o Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento". Destaca, ainda, que o terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, "e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul".
O presidente Jair Bolsonaro também deu declarações parecidas, e disse que o Brasil é "aliado de qualquer país no combate ao terrorismo".
A nota recebeu críticas de diplomatas brasileiros da ativa e aposentados, por avalizar o assassinato de um funcionário de um governo estrangeiro, o que é considerado um ato de guerra, e romper a tradição brasileira de considerar como terroristas as organizações dispostas em listas do Conselho de Segurança da ONU. Oficialmente, o Brasil só considera como terroristas os grupos al-Qaeda e Estado Islâmico, seguindo resoluções tomadas pelas Nações Unidas.
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Além do Brasil, Teerã pediu esclarecimentos a representantes de outros países que se manifestaram sobre a questão. São exemplos a Alemanha e a Suíça, no caso por representar os EUA no Irã, já que os dois países não mantêm relações diplomáticas.
Em nota, o Itamaraty confirmou que representante brasileira em Teerã, Maria Cristina Lopes, foi convocada por autoridades iranianas. O teor da conversa, porém, não será divulgado pelo governo.
Uma enorme multidão se reuniu nesta segunda-feira para a cerimônia fúnebre de Soleimani em Teerã. Pedidos de uma vingança dura contra os autores do seu assassinato, vindos da filha do militar, de altas autoridades e também de manifestações espontâneas da população iraniana, foram a tônica da despedida da capital ao general.