Australianos se escondem em praias para fugir de incêndios

Em 24 horas, outras cinco pessoas desapareceram por conta das chamas; governo negacionista resiste em combater mudanças climáticas
Foto: Reprodução/TheNewYorkTimes
Ventos fortes agravaram focos de incêndios em diversas regiões da Austrália

Milhares de pessoas foram forçadas nesta terça-feira a procurar refúgio nas praias do sudeste da Austrália para escapar dos incêndios que atingem a região. Cerca de 4 mil turistas e moradores acabaram retidos nas praias da cidade de Mallacoota, cercadas pelo fogo.

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Às vésperas do ano novo — já é 2020 na Oceania —, em um intervalo de apenas 24 horas, três pessoas morreram e cinco estavam desaparecidas, quando as chamas se aproximaram de cidades muito povoadas, como Batemans Bay, um destino tradicional de férias no estado de Nova Gales do Sul.

Em uma faixa costeira de cerca de 200 quilômetros em Mallacoota, pessoas fugiram para o litoral a bordo de barcos para tentar escapar de um dos piores dias desde o início de setembro, quando os incêndios começaram. Nas redes sociais, moradores da cidade disseram que vestiam coletes salva-vidas caso fossem obrigados a se refugiar na água para escapar do fogo .

"Temos centenas, milhares de pessoas na costa, refugiando-se nas praias e em clubes de surfe", disse Shane Fitzsimmons, chefe do departamento de incêndios florestais de Nova Gales do Sul.

Fitzsimmons observou que as estradas a oeste, sul e norte estavam fechadas, mas que uma frente fria vinda da costa estava moderando a violência de muitos incêndios.

De acordo com os agentes responsáveis pelas áreas rurais de Nova Gales do Sul, em algumas regiões, os incêndios são tão intensos, a fumaça tão densa e o fogo causado por raios tão violento que o reconhecimento aéreo e a intervenção de bombardeiros tiveram que ser interrompidos.

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Negacionismo climático

A tragédia na Austrália ocorre a despeito do posicionamento do governo liderado pelo conservador Scott Morrisson, tido como negacionista climático — ou seja, que coloca em dúvida a responsabilidade humana sobre o aquecimento global .

Na COP-25, o país foi visto como um dos principais obstáculos — junto do Brasil e dos Estados Unidos — para a construção de um consenso em torno da regulação dos mercados de carbono. Previsto no artigo 6 do Acordo de Paris, o tópico era a principal pauta da conferência.

Segundo os cientistas, o fogo está ligado às mudanças climáticas e a uma seca particularmente prolongada que também esgotou os recursos de água potável em certas cidades e forçou os agricultores a abandonar suas terras.

O ministro das Finanças da Austrália, Josh Frydenberg, chegou a declarar neste mês que os incêndios e secas são os maiores desafios da economia australiana. A seca é responsável pelo declínio do crescimento do PIB em um quarto de ponto percentual e reduziu a produção agrícola "em quantidades significativas" nos últimos dois anos.

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Em novembro, Morrisson afirmou não existir relação entre as mudanças climáticas e a eclosão dos incêndios , mas, sob pressão, chegou a admitir que a emissão de gases poluentes seria apenas um dos "fatores" ligados ao fenômeno. Apesar disso, nenhuma política de combate ao aquecimento global foi anunciada pelo governo.

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