O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (1) que não irá à posse do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, marcada para o próximo dia 10 de dezembro. Ele reiterou que torceu pelo atual presidente, Mauricio Macri, mas disse que não vai impor retaliações ao país vizinho e que espera do novo governo, de esquerda, a continuidade na política com o Brasil.
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Bolsonaro falava sobre a importância da reforma da Previdência aprovada pelo Congresso no mês passado e disse que não haverá uma nova chance para salvar a economia do país. Em seguida, citou o exemplo argentino:
"Olha a Argentina na situação complicada em que se encontra. Nosso irmão do sul. Peço a Deus que dê tudo certo lá. Torci pelo outro, né? Já que ganhou, vamos em frente. Não tem qualquer retaliação da minha parte [...] e espero que eles continuem fazendo uma política conosco, semelhante ao que o Macri fez até momento", declarou a jornalistas, na saída do Palácio da Alvorada.
Em seguida, o presidente foi questionado se vai à posse de Fernández, a quem criticou por ter apoiado a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e inicialmente disse que não falaria sobre isso. Mas respondeu na sequência:
"Não vou", disse, sendo ovacionado por apoiadores que o aguardavam ao lado do portão da residência oficial.
Um dia antes, o governo Macri disse, por meio de seu chanceler, Jorge Faurie, que as declarações de Bolsonaro sobre o presidente eleito Alberto Fernández foram "inapropriadas". Faurie se referiu, também, a publicações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) nas redes sociais sobre Estanislao Fernández , filho do futuro chefe de Estado argentino.
"Algumas expressões são inapropriadas, comentei isso numa nota enviada, a título pessoal, ao embaixador do Brasil (Sergio Danese)", afirmou o ministro das Relações Exteriores.
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A Casa Rosada não repudiará oficialmente a posição de Bolsonaro e seu filho, mas fez questão de deixar clara sua posição usando Faurie como interlocutor. O chanceler assegurou que na carta enviada ao embaixador Danese apontou a "conveniência de que certas frases sejam usadas com maior prudência".
"É muito importante que levemos em consideração o significado e a transcendência de nossa relação com o Brasil, manter sempre os canais de diálogo abertos... o presidente e seu governo, nós estamos à total disposição para gerar os canais de diálogo que permitam melhorar a relação", enfatizou o ministro do governo Macri .
A relação entre o governo brasileiro e a aliança entre peronistas e kirchneristas Frente de Todos é tensa há meses. Em recente evento na embaixada do Brasil, um dos homens cotados para assumir o posto de chanceler do futuro governo, o peronista Felipe Sola, foi tratado com frieza por parte do embaixador brasileiro, segundo comentaram fontes próximas ao colaborador de Fernández. Dias depois, confirmaram as mesmas fontes, Danese telefonou para Sola para conversar. A embaixada brasileira, do seu lado, nega tanto que Sola tenha ido à embaixada quanto o telefone posterior do embaixador.
A equipe de transição de Fernández recebeu a orientação de não entrar nas provocações do governo Bolsonaro . Em matéria regional, várias alternativas estão sendo avaliadas, mas ainda não foram tomadas decisões. Uma delas é a de sair do Grupo de Lima (formado por 14 países da região para atuar na crise venezuelana), algo que, de acordo com um assessor internacional de Fernández "o presidente eleito cogitou, mas depois disse que não tinha certeza sobre o assunto".
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"É complicado para um governo argentino participar de um grupo que ativou o Tratado Interamericano de Assistência Recríproca (Tiar)", explicou a fonte da equipe de Fernández.