
O presidente da Bolívia , Evo Morales, deu a sua primeira coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (23), dois dias após o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país anunciar números de uma controvertida contagem rápida que apontariam para sua vitória no primeiro turno. Em meio a protestos que tomam as ruas do país desde segunda-feira, Morales disse estar confiante de que ganhará no primeiro turno e acusou a direita do país, com apoio internacional, de liderar um golpe de Estado contra seu governo.
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"Queremos denunciar que está em curso um golpe de Estado e quero que o mundo inteiro saiba que até agora aguentamos com paciência para evitar a violência", disse Morales . "Não vamos entrar em confronto: será estado de emergência, mobilização pacífica e constitucional", acrescentou o presidente boliviano.
Morales voltou afirmar, como fez a três dias, o triunfo de seu partido nas eleições de domingo e que os bolivianos o escolheram pela quarta vez para governar. De acordo com o presidente, sua aliança, o Movimento ao Socialismo (MAS), deverá ganhar com mais de meio milhões de votos no primeiro turno, em "um grande triunfo".
O resultado final do pleito, no entanto, ainda não é conhecido. Segundo a contagem manual dos votos, com 96.78% das urnas apuradas, Morales lidera com 46,49% contra 37,01% do ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), da Comunidade Cidadã, partido de centro — uma diferença de 9,48 pontos percentuais.
Na Bolívia, para evitar um segundo turno é necessário que o candidato vitorioso tenha 50% mais um dos votos ou mais de 40% e uma diferença de dez pontos sobre o segundo colocado. Segundo o presidente, sua vitória já na primeira rodada estaria garantida pois os últimos votos a serem apurados no país vêm de zonas rurais, áreas que costumam a apoiar o governo.
"Estou quase certo de que, com os votos nas áreas rurais, venceremos no primeiro turno", salientou o presidente, afirmando também que "desconhecer o voto indígena é voltar ao racismo".
Apuração confusa
A confusão que cerca a apuração da eleição presidencial boliviana é agravada pelo fato de haver duas contagens. A manual voto a voto — na Bolívia não há urna eletrônica — é a que vale oficialmente, mas o governo inaugurou um modelo de contagem rápida, baseado nas atas das mesas eleitorais fotografadas e enviadas eletronicamente ao TSE.
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Os números da contagem rápida haviam deixado de ser atualizados por quase 24 horas, depois que o sistema de contagem rápida parou de funcionar, ainda na noite de domingo, com 85% dos votos apurados. Havia então uma diferença de oito pontos percentuais entre os dois candidatos, o que levaria a disputa para o segundo turno.
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Após o governo afirmar que o sistema rápido seria desconsiderado, o site do TSE voltou a atualizá-lo. Na noite de segunda-feira, quando esta contagem chegou a 95,63% da urnas, Morales aparecia com 46,85% dos votos contra 36,74% de Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã — diferença de 10,1 pontos percentuais, que seria suficiente para uma vitória no primeiro turno.
Frente às denúncias de fraude eleitoral, o governo boliviano anunciou na terça-feira que propôs à Organização dos Estados Americanos (OEA) auditar "uma a uma as atas" das eleições. A proposta foi aceita desde tenha caráter vinculante — ou seja, desde que o governo aceite suas conclusões.

Questionamentos
O discurso de Morales foi realizado horas após o início de uma greve geral e com prazo indefinido convocada em ao menos oito regiões que pedem transparência no processo eleitoral. A paralisação goi convocada pelo Comitê Cívico do departamento de Santa Cruz, que reúne empresários, fazendeiros e funcionários públicos e teve protagonismo na disputa entre Morales e os governadores do Leste do país, em meados da década passada. indicalistas, por sua vez, se mobilizam em favor do presidente.
Carlos Mesa, por sua vez, que chegou a comemorar uma ida ao segundo turno no domingo, disse que não reconheceria a vitória de Morales em meio a tais circunstâncias. Na noite de segunda-feira, seus apoiadores incendiaram as sedes da Justiça eleitoral em três departamentos (estados), além de atacarem a sede do partido do presidente, o Movimento ao Socialismo (MAS) na cidade de Oruro.
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A situação foi um pouco mais tranquila na noite desta terça, mas ainda assim foram registrados episódios de violência. A sede da Justiça eleitoral em Beni foi incendiada por manifestantes, assim como o edifício do Serviço de Registro Cívico em Santa Cruz, nas proximidades da sede de Justiça do estado. De acordo com o governo local, dois civis e um bombeiro foram evacuados para um hospital local após terem sido intoxicados por fumaça.