Bolsonaro ameaça isolar a Argentina no Mercosul se Macri for derrotado

Presidente acusa esquerda, favorita para vencer, de querer 'formar uma grande pátria bolivariana'. Alberto Fernández deve derrotar Mauricio Macri

Bolsonaro durante entrevista coletiva em Tóquio, no Japão
Foto: José Dias/PR
Bolsonaro durante entrevista coletiva em Tóquio, no Japão

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ameaçou nesta quarta-feira (23) isolar a Argentina do Mercosul , dependendo da postura do próximo governo no país vizinho, e se juntar com
Paraguai e Uruguai para levar adiante a abertura comercial no bloco.

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Bolsonaro não deixou claro como isso ocorreria, mas frisou que é preciso estar preparado para agir porque considera que uma vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner na
eleição presidencial do dia 27 "pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul".

O tema do Mercosul surgiu na conversa com Bolsonaro com jornalistas, em Tóquio nesta quarta, ao sair para um banquete organizado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe. Ele foi
perguntado se confirmava que o Brasil podia sair do Mercosul, no caso de a Argentina não fazer abertura ampla.

O presidente respondeu que, antes mesmo de tomar posse no Palácio do Planalto, conversou sobre Mercosul com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Bolsonaro disse que o Brasil quer é que a Argentina, caso a oposição vença, continue com abertura comercial da mesma forma como vinha fazendo o atual presidente Mauricio Macri .

"Em caso contrário, podemos nos reunir com Paraguai e Uruguai e tomarmos uma decisão não semelhante àquela [contra o Paraguai]", afirmou o presidente.

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Em 2012, o Paraguai foi suspenso do bloco após o impeachment do presidente Fernando Lugo, ao mesmo tempo em que a Venezuela foi aceita como novo membro. Os atos foram anunciados justamente pela então presidente argentina Cristina Kircher , na presidência rotativa do Mercosul.

Bolsonaro citou um livro de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, contando como os outros sócios (Brasil, Argentina e Uruguai) afastaram na época o Paraguai para entrar a Venezuela: "É uma história que, se não fosse escrita (por alguém) de dentro dele, você jamais acreditaria", disse.

"Aquela (suspensão do Paraguai) foi com outros propósitos", disse. "O nosso propósito não é facilitar a esquerda [a] formar uma grande pátria bolivariana como queriam os governantes naquela época. Nossa ideia é, sim, de fato abrir o mercado e fazer comércio com o mundo todo".

Quando um repórter perguntou se seria então tirar a Argentina do bloco, Bolsonaro respondeu:

"Se, você tem razão, temos que contar sempre com o improvável e se preparar como reagir a possíveis mudanças", disse. "Sabemos que a volta da turma do Foro de São Paulo da Cristina Kirchner pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul. E em possivelmente colocando, repito, possivelmente, temos que ter uma alternativa no bolso", acrescentou.

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Um primeiro teste ao novo governo da Argentina, se confirmada a vitória do grupo de Cristina Kirchner, será na cúpula do Mercosul em dezembro, quando o governo brasileiro planeja propor uma revisão

A área econômica do governo Bolsonaro tem mencionado o provável surgimento do “Mercosul 2.0”, ou bloco flexibilizado. Ou seja, uma nova prática em que cada sócio pode negociar ou não em conjunto.