Boris Johnson esperava utilizar a conferência anual do Partido Conservador para lançar uma campanha que garantisse sua vitória nas prováveis eleições gerais. Ele, no entanto, está lutando por sua credibilidade como primeiro-ministro enquanto enfrenta alegações de assédio sexual e planos para tirá-lo do poder.
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Após dois meses à frente do governo britânico, Boris Johnson foi forçado a negar que teria agarrado a coxa de uma jornalista durante um almoço há 20 anos. Ele também enfrenta
acusações de ter autorizado patrocínios públicos para companhia de uma empresária com quem mantinha relações sexuais, enquanto era prefeito de Londres.
Todo o furor ofuscou sua primeira aparição como primeiro-ministro na conferência anual do Partido Conservador em Manchester, na Inglaterra. Foram esses militantes que o levaram
ao poder em julho, sob a promessa de que finalizaria o divórcio do Reino Unido com o bloco europeu no dia 31 de outubro — com ou sem acordo de transição.
Johnson buscou colocar todas as suas fichas sobre a mesa, transformando a saída da UE no tema da convenção partidária: “Vamos finalizar o Brexit”.
O Reino Unido deveria ter saído da União Europeia no dia 29 de março, mas o fracasso de Theresa May, antecessora de Johnson, ao não conseguir aprovar o acordo negociado com o
bloco forçou a prorrogação do prazo em duas ocasiões. Quando a proposta foi rejeitada pela terceira vez, a então premier desistiu e apresentou sua renúncia.
Novas eleições
Quando Johnson a substituiu, ele o fez prometendo que finalizaria o Brexit no dia 31 de outubro — e que faria isso sem um acordo de transição, caso fosse necessário. Membros do
Parlamento se mobilizaram para impedir que ele cumpra essa ameaça, e também se recusam a aprovar as eleições gerais que Johnson argumenta serem a única saída para o impasse.
A oposição, em si, não é contrária ao novo pleito, mas o vincula à remoção de todos os riscos de um Brexit sem acordo, algo que seria potencialmente catastrófico para a economia
britânica.
Nesta segunda-feira, os partidos de oposição se encontraram para discutir como tirar o máximo da decisão da Suprema Corte britânica de acabar com a suspensão do Parlamento
e
permitir o funcionamento do órgão nesta semana.
O Partido Nacional Escocês propôs, publicamente, a apresentação de uma moção de desconfiança contra o governo de Johnson. A ideia seria que, caso o premier fosse derrotado, um governo alternativo poderia ser formado com um primeiro-ministro interino aprovado consensualmente.
Essa aposta, no entanto, é arriscada: se os partidos não conseguirem concordar sobre a formação de um governo alternativo, o Parlamento seria dissolvido 14 dias depois. Assim, o
premier teria aquilo que a oposição tem se recusado a lhe dar. Com o Legislativo quebrado, os deputados não teriam poder para impedir que Johnson completasse um Brexit sem
acordo de transição no dia 31 de outubro.
A performance do primeiro-ministro em quaisquer eleições, no entanto, será determinada pela reação do público às alegações que questionam sua integridade.
Negativas
Na noite de domingo, o Gabinete de Johnson tomou a atitude incomum de negar categoricamente as acusações de que teria, há 20 anos, assediado Charlotte Edwardes, jornalista júnior que trabalhava na revista que ele editava.
Nesta segunda-feira, ao ser perguntado se teria tocado a coxa da mulher de modo impróprio, o primeiro ministro disse: "Não".
Quando questionado se ela teria mentido, ele disse: "Eu só estou dizendo o que eu disse, e eu acho que o público quer ouvir o que nós estamos fazendo por eles, pelo país e pelo
investimento de modo a unir o país".
Alguns membros mais importantes do governo britânico, no entanto, foram menos claros em seu apoio ao premier. O Ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que “confia completamente”
em Charlotte Edwardes. O chanceler Sajid Javid, por sua vez, se recusou a defender Johnson diretamente, afirmando que não responderia perguntas sobre o assunto.
Em outras alegações sobre sua vida privada, o primeiro-ministro foi mais circunspecto ao negar sua própria culpa.
Na semana passada, o jornal Sunday Times publicou que, quando era prefeito de Londres, Johnson teria contrariado funcionários do governo para colocar a empresária do setor de
tecnologia, Jennifer Arcuri, em missões comerciais. Além disso, a companhia da mulher também teria recebido financiamentos patrocinados pelo governo britânico.
Nesta semana, o veículo britânico noticiou que Arcuri disse a quatro amigos que ela tinha relações sexuais com o atual premier.
Investigações
O Gabinete de Johnson se recusou a comentar a natureza de seu relacionamento com a mulher e o primeiro-ministro insistiu que não houve qualquer ato impróprio:
"Eu tenho muito, muito orgulho de tudo que fizemos e de tudo que eu fiz como prefeito de Londres", disse à BBC
. Perguntado se havia declarado seu elo com Arcuri como um conflito
de interesses, ele afirmou que “não havia interesse para declarar”.
O órgão fiscalizador da região metropolitana de Londres encaminhou o caso para o Escritório Independente de Conduta Policial — repartição do governo que fiscaliza a conduta do
governo.
Irritando ainda mais o primeiro-ministro, o Partido Trabalhista , da oposição, vem pedindo uma investigação sobre os supostos conflitos de interesse.
Os trabalhistas escreveram para Mark Sedwill, funcionário civil mais sênior do Reino Unido, pedindo uma investigação de suposições realizadas pelo ex-chanceler Philip Hammond.
Segundo ele, o plano de retirar o Reino Unido do bloco europeu sem acordo de transição irá beneficiar a especulação monetária e fundos de investimentos — alguns deles, doadores
do Partido Conservador.
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Por anos, muitos observadores assumiram que a vida privada de Johnson seria um empecilho para sua ambição de se tornar primeiro-ministro. Ele foi infiel com sua segunda mulher,
de quem se divorciou no ano passado. Neste ano, ele participa da conferência dos conservadores ao lado de sua nova namorada, Carrie Symonds.
No final, membros do Partido Conservador decidiram que o comprometimento do premier com o Brexit e seu apelo eleitoral são mais importantes. Seu biógrafo, Andrew Gimson, disse
que Johnson provavelmente também deverá conseguir se esquivar das alegações contra Arcuri.
"Eleitores vão dizer que este [ Boris Johnson ] é um homem tentando fazer algo difícil e necessário com o Brexit e que isso não passa de uma má intenção das pessoas de o derrubarem", afirmou Gimson. "O grande ponto é o Brexit".