Em um novo sinal da crescente hostilidade entre os dois países, o Exército dos Estados Unidos disse neste domingo que um caça venezuelano seguiu "agressivamente" um avião Aries II EP-3 da Marinha americana que sobrevoava o espaço aéreo internacional.
Leia também: Bolsonaro prioriza em viagens cidades onde venceu nas eleições de 2018
O governo da Venezuela, porém, afirma que as Forças Armadas do país rechaçaram "a incursão de uma aeronave de reconhecimento e inteligência dos EUA " na área de voo do aeroporto de Maiquetía, próximo a Caracas.
1 of 2 JUST RELEASED #Venezuela SU-30 Flanker “aggressively shadowed” a U.S. EP-3 aircraft at an unsafe distance July 19, jeopardizing the crew & aircraft. The EP-3 was performing a multi-nationally recognized & approved mission in international airspace over #CaribbeanSea . pic.twitter.com/edjmPqXbmP
— U.S. Southern Command (@Southcom) July 21, 2019
O entrevero entre os dois aviões ocorreu na sexta-feira (19), no mesmo dia em que o governo de Donald Trump anunciou que iria impor sanções a quatro altos funcionários da agência militar de contrainteligência daVenezuela .
No comunicado divulgado neste domingo, o Exército dos EUA disse que um "caça de fabricação russa acompanhou agressivamente o EP-3 a uma distância insegura no espaço aéreo internacional por um período prolongado de tempo, pondo em risco a segurança da tripulação e a missão do EP-3".
O avião EP-3, segundo o Exército americano, foi abordado de modo "não profissional" pelo caça Sukhoi Su-30 sobre águas do Caribe. O Exército americano disse que "rotineiramente conduz voos multinacionais em missões de detecção e de monitoramento".
2 of 2: This action demonstrates #Russia ’s irresponsible military support to Maduro's illegitimate regime & underscores Maduro’s recklessness & irresponsible behavior, which undermines int’l rule of law & efforts to counter illicit trafficking. Pics & vids https://t.co/848FdmAeaE pic.twitter.com/1W9syCd1xs
— U.S. Southern Command (@Southcom) July 21, 2019
Já o comunicado do governo venezuelano afirma que a aeronave dos EUA foi detectada no espaço aéreo do país na manhã de sexta-feira e não informou sua presença às autoridades locais, o que representou um risco para outros aviões na área. Às 11h33, hora local, dois caças venezuelanos interceptaram a aeronave e ela foi escoltada para fora do espaço aéreo da Venezuela, acrescentou o texto.
Os dois aviões não colidiram e ninguém ficou ferido no incidente. As Forças Armadas dos EUA não deram detalhes da missão do EP-3 e nem disseram onde exatamente o encontro, segundo sua versão, teria ocorrido.
O governo Trump tem aplicado pesadas sanções contra indivíduos e empresas estatais venezuelanos, em um esforço para tirar do poder o presidente venezuelano Nicolás Maduro, cuja reeleição em 2018 foi considerada ilegítima pelos Estados Unidos e por mais 53 países.
"O regime de Maduro continua a minar as leis internacionalmente reconhecidas e demonstra seu desprezo pelos acordos internacionais que autorizam os EUA e outras nações a conduzir com segurança voos no espaço aéreo internacional", afirmou o Exército americano no comunicado. A declaração também criticou a Rússia , dizendo que o encontro próximo no ar "demonstra o apoio militar irresponsável da Rússia ao ilegítimo regime de Maduro".
A Venezuela compra armas russas desde o governo de Hugo Chávez (1999-2013), depois que os Estados Unidos pararam de fornecer armamentos ao país e também proibiram que outros países vendessem a Caracas equipamento militar com componentes americanos.
Desenvolvido nos anos 1980 pela então União Soviética, o caça Su-30 fez seu primeiro voo em 1989, mas entrou em operação apenas em 1996. Seu design é baseado no Sukhoi Su-27 , um dos caças de maior sucesso produzidos pela Rússia. No caso do Sukhoi Su-30 , ele foi usado em operações russas durante a Guerra da Síria , especialmente para escoltar bombardeiros. Além disso, participou de ações como a ofensiva na província de Hama, em 2017.
A Venezuela temi 24 unidades do Su-30, compradas entre 2006 e 2008. Apesar da grave situação econômica, Maduro não engavetou um plano para adquirir outras 12 unidades. Cada avião tem o custo estimado deUS$ 37,5 milhões.
Não Alinhados exigem fim das sanções
Após uma reunião ministerial do Movimento dos Países Não Alinhados (MNOAL) em Caracas neste domingo, o grupo de 120 países exigiu a suspensão de sanções econômicas unilaterais. A reunião foi marcada por constantes críticas aos Estados Unidos e suas políticas em relação a Venezuela, Cuba, Irã e Síria.
O MNOAL, integrado por países em desenvolvimento, rejeitou o "unilateralismo" e as "medidas adotadas unilateralmente por certos Estados, que podem levar à erosão e à violação da Carta das Nações Unidas, da lei internacional e dos direitos humanos". Também condenou "o uso ou ameaça do uso da força", segundo a Declaração Política de Caracas.
O texto não menciona expressamente os Estados Unidos, mas o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, havia acusado no sábado Washington de "aventureirismo unilateral" e "terrorismo econômico".
"São meios de agressão, dirigidos aos civis para conseguir objetivos políticos (...), isto é terrorismo, terrorismo puro e simples", disse Zarif neste domingo (21).
A presença de Zarif foi um dos focos de atenção, em plena crise pelo navio petroleiro de bandeira britânica retido por Teerã após ser interceptado no estreito de Ormuz, mas o chanceler iraniano não tratou do assunto.
O MNOAL foi fundado na década de 1970 como alternativa à Guerra Fria. A reunião foi preparatória da cúpula do MNOAL de outubro, em Baku, Azerbaijão, país que receberá a presidência rotativa do bloco das mãos da Venezuela.
Leia também: O que muda com a reforma: pedágio pode dobrar tempo que resta para aposentar
Durante os debates, foi citado um projeto de acordo que refere-se especificamente à Venezuela, no qual se pede "a suspensão imediata" das sanções americanas.
Lido pelo chanceler da Bolívia, Diego Pary, o texto faz um chamado a "promover" iniciativas de diálogo ante a crise venezuelana, em meio aos contatos iniciados por delegados de Maduro e o líder opositor Juan Guaidó . O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, disse que o governo continuará as negociações em "busca de um acordo".