Terremotos podem deslocar a Califórnia dos EUA? Entenda a Falha de San Andreas
Estado norte-americano é alvo de fortes cismos; cidade de São Francisco foi completamente destruída no ano de 1906 por conta de um tremor
Por Matheus Alleoni |
04/07/2019 16:46:15Um terremoto de magnitude 6,4 na escala Richter atingiu o sul da Califórnia, nos Estados Unidos, na tarde desta quinta-feira (4). O estado da costa oeste norte-americana sofre frequentemente com os cismos há séculos e existe até uma teoria que defende que a Califórnia será "deslocada" do resto do país por conta dos tremores.
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A costa da Califórnia está localizada sobre uma falha geológica conhecida como Falha de San Andreas. As falhas geológicas são as maiores reponsáveis pelos terremotos. Elas são rupturas nas placas tectônicas que acumulam energia ao longo do tempo e, por conta da pressão extrema, causam os tremores.
A Falha de San Andreas foi descoberta pelo geologista Andrew Lawson em 1895. Pouco mais de uma década depois, ela foi a responsável por um dos maiores cismos registrados em zonas urbanas de toda a história, o terremoto de São Francisco de 1906, que foi registrado como de 7,8 graus na escala Richter e destriu completamente uma das mais desenvolvidas cidades do estado. A tragédia matou 3 mil pessoas e deixou 250 mil desabrigados em uma cidade de 400 mil habitantes.
O terremoto deixou marcas na cidade que duram até hoje. Alguns dos poucos prédios e casas que ficaram de pé após o tremor foram preservados como símbolos da resistência do povo local. O Flood Building, que fica na rua Market, é um dos maiores exemplos. A construção de 12 andares resistiu à tragédia e se transformou em ponto turístico.
O panorama urbano da cidade também foi moldado pelo cismo. Apesar de ser hoje a capital ecônomica da região conhecida como Vale do Silício, é possível avistar a linha do horizonte de quase todos os pontos de São Francisco. A tragédia fez com que a cidade aprovasse leis rigorosas para a construção de edifícios altos. Por conta disso, a densidade demográfica de São Francisco é muito baixa em relação a outras grandes cidades norte-americanas. Esse fator também encareceu o preço médio dos imóveis no local.
Mas nenhum legado do terremoto de 1906 é tão grande quando o científico: na época, uma comissão de cientistas da Califórnia começou a elaborar um relatório sobre o tremor e seus efeitos. Naquela época, relativamente pouco era compreendido sobre o fenômeno, como e onde ele ocorria ou o perigo que representava.
O relatório final da comissão, publicado em 1908, foi uma compilação de documentos detalhados de mais de 20 cientistas sobre os danos do cismo, o movimento na falha geológica de San Andreas e os registros dos sismógrafos em terremotos de todo o mundo. Até hoje, sismólogos, geólogos e engenheiros consideram esse documento um ponto de referência para investigações sobre os efeitos dos terremotos.
Por causa dessa iniciativa, um intenso programa de pesquisas sobre terremotos foi desenvolvido nos EUA em parceria com vários países também afetados por tremores.
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Por conta dessas pesquisas, os habitantes da Califórnia já esperam apreensivos pelo próximo grande terremoto, que foi batizado de Big One. Um estudo divulgado em 2006 revelou que a Falha de San Andreas já acumulou energia suficiente para um cismo de manitude superior a 7.0 graus na escala Richter. Segundo os pesquisadores, no entanto, o fenômeno não tem hora e nem uma região específica para acontecer.
Uma pesquisa anterior havia previsto que o Big One aconteceria entre 1989 e 1993, mas o tremor acabou não ocorrendo. Em 1989, no entanto, o terremoto de Loma Prieta, que começou em uma área pouco habitada, mas acabou atingindo São Francisco, deixou 63 mortos e prejuízos calculados em mais de US$ 5 bilhões. O cismo, no entanto, foi de "apenas" 6.9 graus.
De acordo com os cientistas, no entanto, está praticamente descartada a possibilidade de que a Falha de San Andreas possa "deslocar" a Califórnia do resto dos Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, é verdade que a placa tectônica se desloca cerca de 5 centímetros por ano em direção à placa do Pacífico. No entanto, nada indica que o estado norte-americano ficará boiando no oceano nos próximos milênios.