Aumento da repressão no México joga imigrantes na mão de traficantes de pessoas

Ao procurar rotas clandestinas, esses refugiados ficam mais sujeitos à ação de criminosos e têm maiores dificuldades de acesso a serviços de saúde

Nas rotas clandestinas, os imigrantes ficam sujeitos aos traficantes de pessoas e têm pouco acesso a serviços de saúde
Foto: Reprodução/ The Washington Post
Nas rotas clandestinas, os imigrantes ficam sujeitos aos traficantes de pessoas e têm pouco acesso a serviços de saúde

O aumento da repressão na fronteira sul do México, na divisa com a Guatemala, está obrigando os imigrantes de países centro-americanos a procurar rotas clandestinas. Nestes lugares, segundo a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras, ficam mais sujeitos à ação de traficantes de pessoas e têm dificuldades de acesso a serviços de saúde.

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De acordo com relatos de Sergio Martín, diretor da MSF no México, as equipes instaladas nas cidades de Tenosique e Coatzacoalcos assistiram nos últimos dias a operações de prisão em massa de imigrantes . Uma delas aconteceu quando os centro-americanos recebiam cuidados médicos e kits de higiene dos profissionais da organização. 

"Já estamos vendo as consequências de criminalizar os imigrantes e solicitantes de asilo e de empurrá-los à clandestinidade", contou Martín. "Menos pessoas procuraram atendimento médico nos últimos dias".  

O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, o primeiro líder de esquerda a chegar ao cargo no país em décadas, tomou posse em dezembro de 2018 prometendo acolher os imigrantes de países centro-americanos. Desde o início do ano passado, esses imigrantes vinham se movimentando em caravanas pelo território mexicano para tentar chegar aos Estados Unidos .

Obrador, porém, acabou mudando radicalmente sua política diante da pressão do presidente Donald Trump, que fez do combate à imigração irregular um dos motes do seu governo e de sua campanha à reeleição . O número de deportados do território mexicano passou de 5.717 em dezembro para 14.970 em abril deste ano, de acordo com dados preliminares divulgados pelo Instituto Nacional de Migração (INM) mexicano.

Agora, em vez de viajar em caravanas, segundo Martín, os imigrantes agora vão em grupos pequenos. "Eles são forçados a pegar caminhos perigosos, dominados por criminosos e onde não têm acesso a abrigos nem a serviços básicos de saúde. Um número maior de imigrantes tenderá a recorrer a contrabandistas de pessoas, que devem se beneficiar dessa situação", avaliou.

O diretor da MSF também comentou a situação na fronteira norte do México , em cidades como Mexicali, Tijuana e Nuevo Laredo, onde — mediante outro acordo feito com o governo Trump —, os imigrantes são obrigados a esperar a respeito aos pedidos de refúgio feitos nos postos norte-americanos. "Nessas cidades perigosas, os imigrantes são bucha de canhão, expostos a quadrilhas cujo negócio é a extorsão dessas pessoas", disse.

Ataque com mortes

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De acordo com o relatório anual da Acnur, os Estados Unidos foram o país que mais recebeu pedidos de refúgio em 2018

Outras organizações de apoio aos imigrantes também criticaram o aumento da repressão no sul do México, citando um ataque a salvadorenhos que deixou um jovem de 19 anos morto e várias pessoas feridas a bala, há uma semana, no estado de Veracruz. No dia seguinte ao incidente, 800 imigrantes foram capturados na região.

"Seria a primeira vítima fatal do plano integral para conter a imigração ", escreveu Rubén Figueroa, da organização Movimento Migrante Mesoamericano, em sua conta no Twitter.

Os 14 sobreviventes do ataque contaram ter sido perseguidos por três homens a bordo de uma patrulha policial depois de passarem por um posto de controle fronteiriço, segundo o procurador-geral de Veracruz, Jorge Winckler. Ele disse que os homens também espancaram o motorista da caminhonete que levava os imigrantes.

"É lamentável. Temos uma militarização da fronteira", comentou Alejandro Solalinde, sacerdote católico e também ativistas dos direitos dos imigrantes.

De acordo com o relatório anual do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), divulgado na semana passada, os Estados Unidos foram o país que mais recebeu pedidos de refúgio em 2018, em um total de 254.300. Os cidadãos dos países do chamado Triângulo Norte da América Central – Guatemala, El Salvador e Honduras – são responsáveis por boa parte desses pedidos de proteção. 

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Afetados pela pobreza, índices de violência que estão entre os maiores do planeta e fenômenos climáticos que já foram relacionados ao aquecimento global , eles respondem, junto com os mexicanos, por 54% das solicitações de asilo nos EUA. Ainda assim, em outra tentativa de punir os países pelo fluxo migratório, Trump confirmou nesta semana que cortará US$ 550 milhões em ajuda destinada à região.