O fundador doTelegram, Pavel Durov, atribuiu a instabilidade registrada no aplicativo de mensagens na última quarta-feira (5) à China. O celular do ministro Sergio Moro foi invadido na mesma data.
Em uma publicação no Twitter, Durov relacionou os ataques relatados aos protestos realizados em Hong Kong, contra uma polêmica lei de extradição. Muitos manifestantes usaram o Telegram para escapar da vigilância e coordenar os protestos, que começaram no domingo, de maneira pacífica.
Durov apontou que foram identificados IPs “principalmente da China”, indicando a possibilidade de o governo chinês estar tentando interromper o serviço para limitar a organização dos manifestantes — que também utilizam máscaras para burlarem sistemas de reconhecimento facial. “Este caso não foi uma exceção”, escreveu.
Na quarta-feira, a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar grupos de manifestantes que tentavam invadir o prédio do Legislativo do território. Segundo autoridades locais, 72 pessoas ficaram feridas e duas estão em estado grave. Nesta quinta-feira, foram registrados novos confrontos com a polícia, em protestos menores.
A Anistia Internacional condenou a “resposta excessiva da polícia”, que estaria “alimentando as tensões”. "Provavelmente contribuirá para piorar a violência, ao invés de acabar com ela. Instamos a polícia de Hong Kong a não repetir tais abusos contra manifestantes pacíficos", afirmou Man-kei Tam, diretor da ONG em Hong Kong. "As cenas feias da polícia usando gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra manifestantes esmagadoramente pacíficos são uma violação do direito internacional".
O governo de Pequim, no entanto, voltou a denunciar como “distúrbios” as manifestações.
"Não foi uma manifestação pacífica, e sim distúrbios organizados", afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang. "Pequim condena firmemente a violência e apoia a reação das autoridades de Hong Kong".
Os confrontos aconteceram perto do Conselho Legislativo (LegCo, Parlamento), onde o texto seria analisado em segunda leitura. Dominado por deputados favoráveis ao governo de Pequim, o Parlamento anunciou o adiamento do debate por tempo indeterminado e para “uma data posterior”.
Mas os organizadores dos protestos não pretendem sair das ruas. Nesta quinta-feira, anunciaram que pretendem realizar outra manifestação gigantesca no domingo e uma greve para a próxima segunda-feira.
"Vamos lutar até o fim com a população de Hong Kong", afirmou Jimmy Sham, da Frente Civil de Direitos Humanos (CHRF, na sigla em inglês), o principal grupo de protesto, antes de indicar que solicitou permissão para organizar o ato no fim de semana. "Quando enfrentamos a ignorância, o desprezo e a repressão, isso apenas nos faz mais fortes, apenas fará ter mais pessoas de Hong Kong".
Caso aprovada, a medida polêmica, conhecida como Lei dos Foragidos, permitirá às autoridades de Hong Kong, um importante centro financeiro, extraditar pessoas não apenas para a China continental e Taiwan, mas para qualquer país com o qual ainda não tenham um acordo de extradição. Atualmente, Hong Kong tem acordos do tipo com 20 países, incluindo o Reino Unido e os Estados Unidos. Os manifestantes temem que a lei abra caminho para perseguir os opositores políticos.
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A proposta gerou uma ampla oposição no território, que foi devolvido àChina pelo Reino Unido em 1997, mas manteve sistemas político, jurídico e administrativo próprios, em um arranjo conhecido como “um país, dois sistemas”. A atual legislação exclui explicitamente as extradições para a China continental.