Durante sua visita de Estado ao Reino Unido , o presidente americano, Donald Trump , prometeu um "fenomenal acordo comercial" com os britânicos depois da saída do país da União Europeia (UE). O republicano falou ao lado da sua anfitriã, a primeira-ministra demissionária Theresa May , que por sua vez afirmou que a aliança com os americanos é essencial para a prosperidade e a segurança britânicas.
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"Enquanto o Reino Unido se prepara para sair da União Europeia, os Estados Unidos estão comprometidos com um fenomenal acordo comercial. Há tremendo potencial neste acordo, provavelmente para que façamos duas ou três vezes mais em relação ao que fazemos hoje", disse Trump .
Questionado por jornalistas, o presidente disse ainda que o Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), um dos primeiros serviços universais e públicos de saúde implantados no mundo, poderia entrar nas negociações. A declaração levou legisladores do Reino Unido a criticarem May , reiterando as suas preocupações com a possibilidade de que empresas americanas do setor da saúde possam se tornar fornecedoras do NHS, privatizando parcialmente o serviço:
"Vamos ter um grande e muito abrangente acordo. Tudo estará sobre a mesa. O NHS, tudo", disse Trump.
Em resposta, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn , escreveu no Twitter: "Theresa May ficou ao lado de Donald Trump enquanto ele dizia que o NHS vai 'estar sobre a mesa' num acordo comercial com os EUA . E é isso que a liderança conservadora e (o líder ultraconservador Nigel) Farage estão planejando para os planos capitalistas desastrosos de uma saída sem acordo que eles têm. Eles todos precisam entender: o NHS não está à venda".
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O Reino Unido, e especialmente os defensores do Brexit, apostam em uma relação comercial fortalecida com os Estados Unidos, possivelmente com um acordo de livre comércio, depois que a saída do país da UE se concretizar. No entanto, como o protecionismo tem sido a marca do governo de Trump, que abriu guerras comerciais com vários países, analistas vêm advertindo para os riscos da aposta dos britânicos, afirmando que Washington pode impor a Londres um acordo desfavorável.
Ataques às inimizades
Trump renovou os ataques às suas inimizades políticas britânicas. Chamou Corbyn de "força negativa", relatando ter recusado um convite para se encontrar com o opositor. Disse também que o prefeito muçulmano de Londres, Sadiq Khan , faz um "trabalho ruim". E, ainda, chamou de "fake news" os protestos de londrinos contra a sua visita, que acontecem desde a segunda-feira e ganharam peso na manhã desta terça.
Em reação às críticas em série disparadas pelo americano,May disse que as conversas entre os dois trataram do futuro. Segundo ela, o Reino Unido e os Estados Unidos devem "cuidar, construir e se orgulhar da sua aliança".
Já em relação a May, Trump se desdobrou em elogios à premier, afirmando que ela é uma "tremenda profissional" e tem feito um "ótimo trabalho" em relação ao Brexit . Nos últimos meses, Trump havia criticado repetidamente a posição da primeira-ministra de buscar um acordo de transição com a UE para o Brexit. Antes da viagem, ele fez elogios rasgados a Boris Johnson, rival de May no Partido Conservador e defensor radical do Brexit, e ao ultranacionalista Nigel Farage, do Partido do Brexit.
A visita de Trump também é marcada pelas pressões americanas para que Londres não permita que a companhia chinesa Huawei participe da implantação da rede de telefonia 5G no Reino Unido. O governo americano vem ameaçando deixar de repassar informações de inteligência para os britânicos — que fazem parte da Aliança Cinco Olhos com Austrália, Canadá e Nova Zelândia — caso a maior companhia chinesa de tecnologia de comunicação tenha permissão para atuar no país. Ao lado de May, entretanto, Trump minimizou a chance de isso acontecer: "Vamos trabalhar nossas diferenças, sem restrições de inteligência".
Invasão da Normandia
Na entrevista conjunta, tanto Trump quanto May fizeram referências ao aniversário de 75 anos da Invasão da Normandia, que se completa no dia 6 de junho. A operação conjunta de Estados Unidos e seus aliados europeus em 1944 selou a derrota da Alemanha nazista e consolidou uma aliança que definiria o período pós-Segunda Guerra.
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Com suas políticas protecionistas e ações unilaterais, no entanto, Trump tem sido acusado de minar a arquitetura global cuja construção foi liderada pelos Estados Unidos depois da vitória no conflito.