Norte-coreanos são obrigados a pagar suborno para sobreviver, diz ONU

Relatório afirma que ameaças de autoridades são poderoso meio de extorsão

Foto: Reprodução/Twitter Josh Berlinger
Segundo a ONU, a falta de garantias às condições básicas de sobrevivência é uma grave violação aos direitos humanos

Norte-coreanos estão sendo obrigados a pagarsubornos para sobreviver, diz a Organização das Nações Unidas (ONU) em relatório divulgado nesta terça-feira (28). Segundo a ONU , a falta de garantia às condições básicas de sobrevivência para a população, Pyongyang viola os direitos humanos. 

"A ameaça de prisão, detenção e processo oferece a autoridades estatais um meio poderoso de extorquir dinheiro de uma população que luta para sobreviver", diz o estudo da ONU .

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A corrupção é cotidiana na Coreia do Norte , onde há um mercado informal crescente, parte ocasionado pelo colapso do sistema público de distribuição do país nos anos 1990, quando cerca de 1 milhão de pessoas morreram de fome.

De acordo com o relatório , a atividade não é regulamentada por qualquer lei ou código penal. A situação é agravada por um Judiciário dependente do governo. O suborno é "um elemento cotidiano da luta das pessoas para pagar as contas", afirmou o relatório, que denuncia "um ciclo vicioso de privação, corrupção e repressão".

"Os direitos a alimentação, saúde, abrigo, trabalho, liberdade de movimento e liberdade são universais e inalienáveis, mas na Coreia do Norte eles dependem principalmente da capacidade dos indivíduos de subornar autoridades estatais", disse Michelle Bachelet , Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, em um comunicado.

O material das Nações Unidas teve como fonte primária de informação entrevistas concedidas por 214 norte-coreanos , majoritariamente das províncias do nordeste do país. A região foi a primeira a ser afetada pela crise de 25 anos atrás.

"Como meu pai ainda tinha que trabalhar em uma firma estatal que não conseguia mais fornecer as porções de comida, nós sobrevivíamos com a venda de balas e bebidas que a minha mãe fazia", disse Ju Chan-yang, de 29 anos, durante a coletiva de imprensa.

Ju, que saiu da Coreia do Norte em 2011, disse que também vendia produtos americanos e sul-coreanos contrabandeados. Ocasionalmente, ela diz, era necessário subornar as autoridades.

"Se você é pego e não tem como pagar, você pode ser morto como meus parentes", disse a mulher de 29 anos.

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Muitos norte-coreanos são obrigados a pagar subornos com dinheiro ou cigarros para não precisarem trabalhar em funções determinadas pelo governo, onde não recebem salários. Assim, conseguem obter alguma renda no mercado informal.

Alguns subornam guardas para conseguirem chegar até a China, onde as mulheres ficam vulneráveis ao tráfico sexual e a casamentos forçados.

No lançamento do relatório, Bachelet fez um apelo para que as autoridades do país asiático respeitem os direitos humanos e não prendam as pessoas por atividades no mercado informal. Segundo a ex-presidente chilena, a China também não deveria repatriar norte-coreanos.

Pyongyang culpa a ONU

A República Popular Democrática da Coreia ( RPDC ), o nome formal da Coreia do Norte, rejeitou o documento, dizendo que tem "motivação política para fins sinistros".

"Tais relatórios não são nada mais do que uma fabricação, já que são sempre baseados nos chamados depoimentos de "desertores" que oferecem informações fabricadas para ganhar a vida ou são coagidos ou incitados a fazê-los", afirmou a missão do país em Genebra, em um comunicado à Reuters.

A Coreia do Norte atribui sua grave crise humanitária a sanções da ONU, impostas desde 2006 em resposta aos seus programas nuclear e de mísseis balísticos. Segundo a organização internacional, entretanto, a prioridade orçamentária do país asiático é a atividade militar.

"Tenho receio que o foco constante na questão nuclear continue a desviar a atenção do terrível estado em que se encontram os direitos humanos de milhões de norte-coreanos", disse Bachelet.

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Quatro em cada dez norte-coreanos, ou cerca de 10.100.000 milhões de pessoas, sofrem cronicamente com a falta de alimento. Cortes adicionais nas já minimas porções alimentares são esperados após a pior colheita em uma década .