Guaidó diz que intervenção militar na Venezuela é sua última opção

Em entrevista à Folha, opositor nega fracasso em tentativa de depor Maduro, afirma estar em contato com Jair Bolsonaro e que mobilização continuará

Juan Guaidó confirmou que tem conversado com o presidente Jair Bolsonaro
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Juan Guaidó confirmou que tem conversado com o presidente Jair Bolsonaro

Dois dias após uma tentativa frustrada de derrubar o governo de Nicolás Maduro com ajuda de parte das Forças Armadas na Venezuela, o líder opositor Juan Guaidó disse que uma intervenção militar é sua última opção e voltou a negar que a operação tenha fracassado. Em entrevista à Folha de S.Paulo , o opositor reforçou que a "ditadura está mais frágil" do que nunca e "há menos lealdades", e que por mais que haja altos e baixos nas mobilizações, a oposição continuará sendo maioria. 

"Nós sempre oferecemos alternativas, diálogo, eleição, só que eles sempre se negam, se fecham. Por isso é que não excluo a intervenção, mas não é o modo como nós gostaríamos", explicou. 

Guaidó também comentou as declarações do secretário Mike Pompeo (EUA), que afirmou que Maduro esteve a ponto de subir em um avião, mas que os russos não teriam deixado. "Sobre esse episódio, concretamente, não sabemos muito, estamos investigando. Sabemos que havia um avião militar estrangeiro na pista de La Carlota naquele dia e que depois decolou com destino à República Dominicana." 

O opositor também confirmou que tem conversado com o presidente Jair Bolsonaro, que na terça-feira se mostrou muito preocupado com a situação e "pronto para colaborar para o reestabelecimento da democracia". Mas negou tratar-se de uma aproximação ideológica. "Aqui estão em jogo valores fundamentais, o direito à vida, os direitos humanos, a democracia e a liberdade."

"É preciso entender que enfrentamos um regime que não duvida em assassinar jovens, que não se importa que as pessoas estejam comendo do lixo, que muitas cidades não tenham luz. É uma ditadura sanguinária e sádica. Evidentemente não vai ser simples", afirmou à Folha .

Segundo Guaidó, "uma vez que termine a usurpação", entre seis e nove meses o país estará pronto para novas eleições, que contaria com todos os partidos, inclusive o chavismo. E negou qualquer disputa entre ele e Leopoldo López, ambos do Vontade Popular.

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"Nós vamos decidir quem sairá candidato quando for o momento. Ao contrário do que se anda dizendo, não há problemas entre nós, estamos em perfeito alinhamento", afirmou. 

O opositor ainda se mostrou otimista em relação à situação econômica que, segundo ele, "pode ser recuperada rapidamente quando reconquistarmos a confiança". "Já falamos com investidores fora que se dizem prontos a trazer seu capital para a Venezuela depois que se reestabeleça o estado de direito e a segurança jurídica."