Em carta, Bolsonaro diz: "Querem me afastar dos amigos judeus"

Fala do presidente dizendo que poderia "perdoar" autores do Holocausto causara reprovação do presidente israelense e do museu que documenta extermínio de judeus por nazistas

Depois de o presidente  Jair Bolsonaro receber críticas do presidente israelense, Reuven Rivlin, e do Memorial do Holocausto em Jerusalém por ter afirmado que "poderia perdoar, mas não esquecer", o extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, ele enviou ainda no sábado uma carta à embaixada israelense no Brasil na qual procura se explicar.

Jair Bolsonaro se desculpa com israelenses
Foto: Marcos Corrêa/PR
Jair Bolsonaro se desculpa com israelenses


No texto, Bolsonaro afirma que "o perdão é algo pessoal, nunca num contexto histórico como no caso do Holocausto" e que "qualquer outra interpretação só interessa a quem quer me afastar dos amigos judeus".

"Ao povo de Israel : deixei escrito no livro de visitantes do Memorial do Holocausto em Jerusalém: 'AQUELE QUE ESQUECE SEU PASSADO ESTÁ CONDENADO A NÃO TER FUTURO'.  Portanto, qualquer outra interpretação só interessa a quem quer me afastar dos amigos judeus. Já o perdão, é algo pessoal, nunca num contexto histórico como no caso do Holocausto, onde milhões de inocentes foram mortos num cruel genocídio", diz a íntegra da mensagem do brasileiro aos israelenses.

Leia também: "Podemos perdoar, mas não esquecer", opina Bolsonaro sobre o Holocausto; assista


Ainda no sábado, ao ver as críticas feitas em seu país às declarações de Bolsonaro, o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley, saiu em defesa do presidente brasileiro. "Em nenhum momento de sua fala o presidente mostrou desrespeito ou indiferença pelo sofrimento judeu. Não vingarão aqueles que desejam levantar suspeições sobre as palavras de um grande amigo do povo e governo de Israel", escreveu Shelley, que é próximo do presidente brasileiro e foi o principal articulador da viagem e Bolsonaro a Israel, no início de abril.

Entenda a polêmica

Bolsonaro fez comentários na quinta-feira (11) à noite em uma reunião com pastores evangélicos no Rio de Janeiro, enquanto falava sobre sua visita ao memorial do Holocausto em Jerusalém no início deste mês. “Podemos perdoar. Mas não podemos esquecer”, afirmou sobre o Holocausto, acrescentando que ações eram necessárias para garantir que tais horrores não se repetissem.

“Aqueles que esquecem seu passado estão condenados a não ter futuro”, acrescentou o presidente. O presidente israelense, Reuven Rivlin e o memorial do Holocausto, Yad Vashem, de Jerusalém, criticaram o líder brasileiro.

“Nunca vamos perdoar e nunca vamos esquecer”, disse Rivlin no Twitter. Sem mencionar o nome de Bolsonaro, e continuou com uma mensagem claramente dirigida a ele.

"O que Amalek fez para nós está inscrito em nossa memória, a memória de um povo antigo. Nós sempre nos oporemos àqueles que negam a verdade ou àqueles que desejam eliminar nossa memória - não indivíduos ou grupos, nem líderes partidários ou primeiros-ministros. Nós nunca vamos perdoar e nunca vamos esquecer", escreveu em ingês o líder israelense.

"O povo judeu sempre lutará contra o anti-semitismo e a xenofobia. Os líderes políticos são responsáveis por moldar o futuro. Historiadores descrevem o passado e pesquisam o que aconteceu. Nenhum deve entrar no território do outro", continuou.

Já Yad Vashem, o centro de Jerusalém que serve de memorial aos seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, também discordou dos comentários de Bolsonaro.

Leia também: Embaixador da Palestina recomenda Brasil a "não comprar briga que não é sua"

“Não concordamos com a afirmação do presidente brasileiro de que o Holocausto pode ser perdoado”, disse o centro, segundo relatos da mídia israelense sobre Bolsonaro .