A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar do Ocidente, completa 70 anos nesta quinta-feira (4) com um olho na Rússia e outro na crescente ameaça da China, enquanto busca se preparar para os desafios da segurança no mundo pós-Guerra Fria em meio a abalos internos, como as desavenças entre Estados Unidos e Turquia pela intenção dos turcos de comprar um sistema de mísseis antiaéreos russo e as repetidas críticas do presidente americano Donald Trump aos aliados, que afirma não gastarem o suficiente para sua defesa.

Secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, ao centro, discursa na comemoração de 70 anos da aliança militar do Ocidente
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Secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, ao centro, discursa na comemoração de 70 anos da aliança militar do Ocidente

Em discurso no Congresso americano nesta quarta-feira (3), véspera da reunião de cúpula dos chanceleres dos países-membros que marcará o aniversário da organização, o secretário-geral da Otan , o norueguês Jens Stoltenberg, voltou a alertar para o perigo de “uma Rússia mais assertiva”, que investe no fortalecimento de seu poderio militar e no desenvolvimento de novas armas, embora tenha destacado que a aliança não está buscando uma nova “Guerra Fria” com o país.

"Não queremos uma nova corrida armamentista. Não queremos uma nova Guerra Fria. Mas não devemos ser ingênuos", afirmou, urgindo a Rússia a voltar a cumprir os termos do acordo que baniu armas nucleares de médio alcance, assinado entre EUA e a antiga União Soviética em 1987 e que Trump anunciou que vai abandonar por supostas violações da parte dos russos.

"A Otan não tem intenção de instalar mísseis nucleares baseados em terra na Europa. Mas a Otan sempre vai tomar todos as medidas necessárias para prover uma dissuasão confiável e efetiva (contra qualquer ameaça)", ponderou.

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Já com relação à China, os ministros da Otan, focada principalmente na proteção da Europa, discutem formalmente pela primeira vez a crescente ameaça que o país asiático representa para o Ocidente, com temores que vão do interesse e presença chineses no Ártico às disputas pelo controle e soberania no Mar do Sul da China e ao uso de equipamentos “Made in China” nas suas redes de telecomunicações.

"Precisamos avaliar as consequências do crescente poder da China, não há dúvidas disso. A China é uma potência econômica em crescimento, mas também uma militar. Com exceção dos EUA, nenhum outro país gasta tanto em armas quanto a China", disse Stoltenberg em recente entrevista à revista alemã Der Spiegel.

"Os chineses estão desenvolvendo capacidades que podem usar ao redor do mundo, novos sistemas de armas, novos mísseis, e não estão limitados pelo tratado de armas nucleares de médio alcance. Não é uma questão da Otan se expandir na direção do Mar do Sul da China, pelo contrário: os chineses que estão se aproximando de nós. Eles fazem manobras navais no Mediterrâneo, no Mar Báltico e no extremo Norte", acrescentou.

Diante disso, Stoltenberg fez um apelo pela unidade da aliança, que classificou aos congressistas americanos, que o receberam com aplausos e ovações em pé, como “a mais bem-sucedida da História”.

"Precisamos superar nossas diferenças, pois vamos precisar de nossa aliança cada vez mais no futuro", alertou. "Encaramos desafios sem precedentes, desafios que nenhuma nação pode enfrentar sozinha. A força de uma nação não é medida só pelo tamanho de sua economia ou pelo número de soldados, mas também por quantos amigos ela tem. E por meio da Otan os Estados Unidos têm mais amigos e aliados que qualquer outra potência. Isso tem feito dos EUA mais fortes e seguros".

Trump tem incomodado os aliados europeus ao dizer repetidamente que eles precisam gastar mais com seus militares para aliviar o fardo dos EUA na sua defesa. Ainda nesta quarta, seu vice, Mike Pence, destacou a Alemanha, a maior economia da Europa, entre os que não estão pagando o suficiente para sua proteção, criticando também a decisão do país em seguir em frente com a construção de um gasoduto patrocinado pela Rússia .

"Não podemos garantir a defesa do Ocidente se nossos aliados ficarem cada vez mais dependentes da Rússia", disse Pence em evento da Otan em Washington. Ele também criticou a Turquia por insistir na compra do sistema de mísseis antiaéreos russo S-400, que os EUA veem como uma ameaça às capacidades de seu novo caça “invisível” a radares F-35, cuja entrega de equipamentos relacionados aos turcos foi recentemente suspensa pelos americanos.

"A Turquia precisa escolher. Ela quer continuar a ser uma parceira crucial na mais bem-sucedida aliança militar da história ou quer arriscar a segurança dessa parceria ao tomar decisões imprudentes como esta que minam nossa aliança?", questionou.

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A Turquia respondeu prontamente, com o vice-presidente turco, Fuat Oktay, fazendo seu próprio alerta no Twitter: “Os Estados Unidos devem escolher. Eles querem continuar aliados da Turquia ou arriscar nossa amizade ao unir forças com terroristas que minam as defesas de seu aliado na Otan contra seus inimigos?”. Desta forma, a Otan completa 70 anos.

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