Um bebê de apenas seis meses de idade, que aguardava na lista de pessoas em estado crítico a serem evacuadas de Ghouta Oriental, na Síria, é a mais nova vítima da guerra que assola o país. A menina morreu há alguns dias à espera de socorro, mas o fato só foi divulgado nesta quarta-feira (27) por uma organização médica.
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De acordo com o gerente de advocacia da Sociedade Médica Síria Americana (SAMS), Mohamad Katoub, a pequena Katr Alnada, que faleceu em Ghouta Oriental, era o número 18 da lista de 29 pessoas possibilitadas a realizar tratamentos médicos em Damasco.
É importante mencionar que a Ghouta Oriental é uma das últimas fortalezas rebeldes sírias que, nos últimos quatro anos, vêm perdendo forças. O presidente sírio, Bashar al-Assad, negou diversas vezes que o auxílio ocorresse. Entretanto, por meio de um acordo, os adoentados começaram a ser levados para os hospitais da capital.
Doenças e mortes
A SAMS informou ao canal norte-americano CNN que aproximadamente 17 pacientes morreram nos últimos meses devido à falta de cuidados médicos. Muitos sofrem com doenças cardíacas, câncer, insuficiência renal e problemas no sangue. Além disso, há casos que requerem cirurgia avançada, e que não estão disponíveis na área sitiada. No total, quatro pessoas deixaram o local durante a noite, enquanto as outras 25 serão deslocadas nos próximos dias.
Outro fator exposto pela SAMS é que atualmente, 641 pessoas necessitam de tratamento médico urgente. Com a situação crítica e em meio a uma população de 400 mil habitantes, há somente um médico para quatro mil pacientes. Algumas organizações humanitárias pediram que o governo sírio permitisse que mais evacuações fossem feitas, porém alegam ter receio de mais um veto e do modo como os transferidos serão tratados, devido ao poder de Assad em Damasco.
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O chefe humanitário da ONU na Síria, Jan Egeland, comunicou que um bebê de nove meses também veio a falecer por desnutrição aguda e complicações respiratórias no dia 21 de dezembro. "Se tivéssemos permissão para irmos ao hospital em Damasco, a criança teria vivido", desabafou Egeland no Twitter .
Segundo funcionários da organização, no mês passado, a área enfrentou o pior surto de desnutrição infantil desde que a guerra civil começou, há sete anos. O Fundo das Nações Unidas (Unicef) acrescentou que 137 crianças precisam de tratamento urgente em Ghouta Oriental.
Acordo e negociações
As evacuações começaram após longas negociações com o governo sírio, mas ainda não se tem informações concretas de como o acordo foi firmado. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse, no último fim de semana, que seu país está trabalhando com a Rússia e o presidente Vladimir Putin para que as pessoas possam se curar em hospitais russos. "Estamos discutindo como evacuá-los para o nosso país e providenciá-los assistência médica", disse a agência de notícias russa Sputnik, citando Erdogan.
O enclave de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco, foi levado por rebeldes e se potencializou com a Primavera Árabe, iniciada em 2011. Em maio, a área foi designada como uma zona de escalação pela Rússia, Turquia e Irã, nações que atuam para corrigir os danos deixados pela guerra.
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Na teoria, os residentes deveriam estar em uma zona segura, livre de ataques aéreos, bombardeios e combates. Na prática, eles continuam sendo atacados e bombardeados a todo o momento. A violência renovada na Síria ocorre em paralelo as negociações de paz e a declaração de vitória de Moscou. Segundo Putin, as Forças Armadas devem se retirar em breve.