Países do Conselho de Segurança da ONU criticam decisão de Trump sobre Jerusalém

EUA decidiu mudar a embaixada de Tel Aviv para a cidade sagrada; enviado da ONU no Oriente Médio diz que há risco de escalada na violência na região

Donald Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel nesta quarta-feira, em pronunciamento
Foto: Reprodução/CNN
Donald Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel nesta quarta-feira, em pronunciamento

Todos os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas se posicionaram contra a decisão tomada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e mudar a sua embaixada para a cidade considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos.

Na reunião desta sexta-feira (8) , convocada pelo Reino Unido, França, Suécia, Bolívia, Uruguai, Itália, Senegal e Egito, o enviado da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, alertou que há grande risco de escalada na violência na região como resposta à decisão de Donald Trump . “Há um sério risco hoje de que possamos ver uma cadeia de ações unilaterais que só podem nos empurrar ainda mais para longe de atingir o objetivo comum da paz”, disse.

Aliados tradicionais dos Estados Unidos também se posicionaram contra a decisão. O Reino Unido afirmou que mantém sua posição de que Jerusalém é um tópico que deve ser deixado para um acordo final de paz entre palestinos e israelenses. “Nós dissemos isso muitas e muitas vezes e a reunião desta manhã não é uma exceção”, afirmou ele.

A França também afirmou que os dois lados do conflito devem concordar sobre o status de Jerusalém, mesma posição do Japão, que minimizou a crítica ao dizer que aprecia o reconhecimento de Trump de que o status final da cidade deve ser acordado entre as partes.

Paz e segurança

Para o representante da Suécia, este é o momento para levar adiante um acordo de paz que permita aos estados de Israel e da Palestina viverem lado a lado em paz e segurança, com Jerusalém como capital de ambos.

O Uruguai declarou que apoia as resoluções anteriores da Assembleia Geral das Nações Unidas e do Conselho de Segurança que reafirmam o caráter de Jerusalém como um “corpus separatum” que deve ser submetido a um regime especial, e demonstrou preocupação com a decisão norte-americana, que não contribui para alcançar um acordo justo e completo.

A  Bolívia também lembrou das resoluções dos órgãos da ONU e se opôs à decisão americana, assim como a Itália, que disse que manterá sua embaixada em Tel Aviv.

Leia também: "Trump abriu as portas do inferno", diz Hamas após decisão sobre Jerusalém

Ao final da reunião, representantes europeus, entre eles França e Reino Unido, leram um comunicado representando a posição da Europa, que demonstrava desacordo com a decisão dos EUA que, segundo eles, não está alinhada com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU e não ajuda na perspectiva de paz para a região. “Jerusalém deve ser a capital de ambos os estados. Até lá, não deve haver soberania sobre Jerusalém ”, diz o comunicado.  

Defesa

A representante dos Estados Unidos da ONU, Nikki Haley, defendeu a decisão de Trump, dizendo que há 70 anos Jerusalém é a capital de Israel, e que, apesar de o Congresso norte-americano ter aprovado uma lei em 1995 reconhecendo esse status e determinando que a embaixada norte-americana deveria mudar para a cidade, e de todos os presidentes desde então – segundo ela, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama – tenham concordado com o ato, eles não agiram.

“Esta semana, Trump fez a decisão de não negar o desejo dos norte-americanos”, afirmou Nikki, e disse que o presidente apenas confirmou o óbvio e que o anúncio não implica nenhuma decisão sobre fronteiras do estado de Israel, o status quo dos locais sagrados ou mesmo sobre a soberania de Jerusalém, que, segundo ela, deve ser decidida por israelenses e palestinos.

A diplomata frisou que os Estados Unidos continuam apoiando a solução de dois estados e comprometidos com o processo de paz.

O representante de Israel defendeu a decisão dizendo que Jerusalém “é e sempre foi” a capital do país e que a embaixada dos Estados Unidos deve ficar na capital. Ele condenou a decisão do Conselho de Segurança do ano passado, que dizia que a presença de Israel no Muro das Lamentações não é legal, uma resolução que também havia sido condenada por Nikki Haley em sua fala. O diplomata israelense afirmou que “Jerusalém, sob Israel, é mais livre a aberta a todas as pessoas do que em qualquer outro momento da história” e pediu para que outros países sigam o exemplo dos EUA.

O representante da Palestina disse que há urgência na discussão do “anúncio lamentável” e afirmou que a decisão de Trump foi instigada pelo “poder ocupante”, ou seja, Israel, que, segundo ele, ao invés de obedecer às orientações do Conselho de Segurança continua cometendo crimes. Ele afirmou que a mudança de posição dos Estados Unidos destrói a possibilidade da solução de dois estados e deslegitima o país como mediador do conflito no Oriente Médio.

Ele também afirmou que o status de Jerusalém não pode ser alterado por determinação de qualquer estado e pediu para que o Conselho de Segurança denuncie a decisão e atue para restaurar a crença dos palestinos na lei internacional.

Composição do conselho

O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais. Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – e dez membros não-permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos. Os atuais  membros não-permanentes são: Suécia, Bolívia, Uruguai, Itália, Senegal, Cazaquistão, Etiópia, Japão, Ucrânia e Egito,

Reações contra decisão

Nesta sexta-feira (8), pelo menos um palestino morreu , após ser atingido por tiros do exército israelense na faixa de Gaza. Ele participava de um dos diversos protestos organizados pelos muçulmanos em repúdio à decisão do presidente norte-americano de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

Mahmud al-Masri, de 30 anos, morreu próximo à barreira de segurança de Israel com a faixa de Gaza. Ele foi o primeiro palestino a ser morto durante as manifestações desta sexta, que ficou conhecida como o "dia de fúria" na região.

O grupo islâmico Hamas, que controla a região, pediu aos palestinos que iniciem uma nova rebelião, as conhecidas intifadas. Ainda nesta sexta, um representante do Hamas disse que "sonha quem pensa que tudo vai acabar com manifestações".

"Nem Trump, nem ninguém poder mudar a verdade histórica e geográfica e a identidade da Cidade Santa", afirmou o chefe do escritório político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Gaza.

"A Santa intifada de hoje enviou duas mensagens: a primeira, que rejeitamos a decisão do presidente Donald Trump, e a segunda, que estamos prontos para nos sacrificar para defender Jerusalém", acrescentou.

* Com informações da Agência Brasil