Fome, guerra e cólera: crise no Iêmen deixa 80% das crianças em risco

“É uma crise de crianças”, afirmou especialista da Unicef. País passa pelo "maior surto de cólera da História na maior crise humanitária do mundo"

O impacto da guerra e da fome já atingiu 12,5 milhões de jovens do Iêmen, que sofre “o maior surto de cólera da História'
Foto: Divulgação/Twitter/UN
O impacto da guerra e da fome já atingiu 12,5 milhões de jovens do Iêmen, que sofre “o maior surto de cólera da História'

O Iêmen sofre de guerra e de um surto de cólera que já devastou grande parte da população. Como sempre, em situações de risco, as crianças estão entre as pessoas mais impactadas pelas consequências da violência e da crise. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 80% das crianças precisam de cuidados urgentes e pelo menos duas milhões sofrem de mal nutrição hoje no país.

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O impacto da guerra e da fome já atingiu 12,5 milhões de jovens do Iêmen , o que foi descrito como “o maior surto de cólera da História em meio a maior crise humanitária do mundo”, em uma declaração conjunta da Organização Mundial de Saúde, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, e o Programa Mundial de Alimentos.

“Esta é uma crise das crianças”, afirmou o especialista da Unicef, Bismarck Swangin. “Quando você olha para o número de menores que enfrentam de perto a morte por causa da má nutrição, e agora ainda sofre riscos em um surto de cólera. Crianças não estão sendo mortos diretamente, como um resultado do conflito, mas o grande risco a elas são as consequências indiretas da guerra ”, completou.

Dois anos de conflito entre a coalizão liderada pelos sauditas e os rebeldes Houthi tomaram já causaram um deslocamento interno generalizado, deixando milhões de pessoas em situação de fome.

A destruição na infraestrutura do país significa que 14,5 milhões de pessoas, incluindo oito milhões de crianças, não têm acesso à água limpa e boas condições sanitárias. Assim, o número de casos de cólera no país deve chegar em 600 mil até o final deste ano.

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Ainda segundo os dados da Unicef, metade de todos os casos suspeitos da doença – e um quarto das mortes relatadas – é de crianças. Swangin descreve a tragédia no país, com clínicas médicas e hospitais lotados, com crianças deitadas no chão, impossibilitadas de se mover, junto aos pais que não têm poder algum de ajuda-las.

“Quando você pergunta às mães, elas apenas olham para o céu e dizem: ‘nós só podemos deixar isso nas mãos de Deus’. Isso é tudo o que essas mulheres podem fazer, é como elas se sentem”, conta.

A conselheira sênior em conflitos humanitários da organização “Save The Children”, Caroline Anning, disse ao jornal britânico “The Guardian” que “não fica surpresa ao se deparar com a porcentagem de 80% de crianças com necessidades urgentes”.

“A crise humanitária lá é crescente, fora da escala, algo muito maior do que encontramos na Síria, muito maior do que em outras partes de todo o mundo, e isso acontece quase nos bastidores, sem que ninguém dê atenção”, disse.

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Caroline ainda destaca que há milhões de crianças passando fome todos os dias. “Elas não podem ir à escola, existem duas milhões fora da escola. São números enormes de desnutridos, que estão tão fracos que não conseguem nem se levantar”. No início deste ano, os doadores internacionais prometeram US$ 2,1 bilhões em ajuda humanitária para o Iêmen. Até agora, apenas um terço do dinheiro prometido foi encaminhado, afirmou a ONU.