Uma imagem que está correndo o mundo é o verdadeiro retrato do tamanho da crueldade do ataque químico na Síria realizado na província de Idlib, na última terça-feira (4). A foto mostra o sírio Abdel Hameed Alyousef apertando seus filhos gêmeos, já sem vida, nos braços. De acordo com dados das autoridades locais, o número de mortos subiu para 86 na tragédia, grande parte das vítimas são mulheres e crianças.
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O comerciante, 29 anos, revelou que estava com a família no momento em que o ataque químico na Síria ocorreu e que levou a mulher e os gêmeos para o hospital para receber tratamento, mas achava que eles não teriam maiores complicações.
O homem voltou para seu vilarejo para checar como estavam os outros familiares e encontrou os corpos de dois de seus irmãos, dois sobrinhos e uma sobrinha, bem como vizinhos e amigos. "Eu não poderia salvar ninguém, eles estão todos mortos agora", disse. Logo depois, ficou sabendo que sua mulher e os filhos de 9 meses tinham morrido.
"Nós podiamos sentir alguma coisa, mas eu não sabia o que poderia ser tão pesado. Então as pessoas começaram a espumar pela boca. Algumas horas depois eu voltei e encontrei minha esposa e os gêmos mortos. Eu enterrei todos eles. Enterrei meus próprios filhos", contou Abdel Hameed Alyousef.
Um primo de Abdel disse que o comerciante está recebendo tratamento por ter sido exposto ao ataque, mas que ele está "especialmente quebrado por sua perda familiar maciça." Ao todo, o homem perdeu 25 parentes.
Autópsias confirmam ataque químico
O ministro da Justiça da Turquia, Bekir Bodzag, informou nesta quinta-feira (6) que as autópsias nos corpos de algumas vítimas sírias do ataque provam o uso de armas químicas. Pela ação ter ocorrido em uma área próximo à fronteira entre Turquia e Síria, os hospitais turcos receberam numerosas vítimas do atentado.
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Nessa quarta-feira (5), uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas fracassou em achar uma resposta contrária ao massacre. O governo russo, que é aliado do presidente Bashar al-Assad, atribui o ataque aos rebeldes sírios enquanto os governos ocidentais apontam a culpa para mandatário sírio.
Entenda o ataque na Síria
Ao menos 86 pessoas morreram e cerca de 160 ficaram feridas nessa terça-feira (4) após bombardeio a uma cidade no norte da Síria com material que acredita-se ser o gás de cloro, substância tóxica proibida em tratados internacionais.
As explosões ocorreram na cidade de Khan Shaykun, na província de Idlib, próximo à fronteira da Síria com a Turquia. De acordo com a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos, ao menos 11 crianças estão entre os mortos, e o número de mortes ainda deve aumentar pois muitos dos feridos estão em situação crítica.
Dezenas de pessoas foram encaminhadas a hospitais de Idlib e até mesmo à Turquia, que enviou ambulâncias de apoio para o local.
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Segundo relatos de médicos e de ativistas da ONG, as pessoas que estavam nos arredores da cidade de Khan Shaykun sentiram-se sufocadas e apresentaram sintomas como secreção nasal, encolhimento da íris, dor e espasmos em geral.
O bombardeio ocorre apenas um dia após outra suposta explosão com armas químicas ter sido registrada em Al-Habit, que também fica na província de Idlib.
Não está claro até o momento se o ataque foi promovido pelo governo de Bashar al-Assad ou pelos grupos rebeldes de oposição. Ainda assim, a alta representante para Política Externa e Segurança da União Europeia, Federica Mogherini, condenou o suposto ataque químico e responsabilizou al-Assad por um ato "horrível" e "dramático".
"Obviamente, a primeira responsabilidade é do regime, porque seu papel é proteger seu povo, não atacá-lo", disse a italiana.
Já a França cobrou uma reunião "urgente" do Conselho de Segurança das Nações Unidas, enquanto os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, conversaram por telefone e chamaram o ataque químico na Síria de "desumano e inaceitável".