Unicef: 75% das crianças refugiadas sofrem espancamento e estupro na Líbia

Organização também revelou que existem "centros de detenção" que raptam crianças e mulheres, reféns de contrabandistas. Famílias que pagam menos pelas viagens de menores sofrem nas mãos de tráfico e prostituição

Mulheres e crianças são espancadas e estupradas em campos de refugiados na Líbia
Foto: Romenzi/Unicef
Mulheres e crianças são espancadas e estupradas em campos de refugiados na Líbia

Mulheres e crianças que fazem a perigosa jornada em direção à Europa, fugindo da pobreza e dos conflitos armados de seus países, na África, são espancadas, estupradas e expostas à fome nos campos de refugiados na Líbia, segundo afirmou a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em nova pesquisa.

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Crianças são abusadas sexualmente, coagidas a se prostituírem e trabalharem como escravas, além de permanecerem durante meses em espécies de "centros de detenção" superlotados e desumanos. Somente no ano passado, mais de 181 mil refugiados e imigrantes, incluindo mais de 25,8 mil crianças desacompanhadas, chegaram à Itália através da rota do contrabando central do Mediterrâneo, na Líbia . Milhares de pessoas morreram no caminho.

Estes centros de detenção não oficiais controlados por milícias do país servem como negócio lucrativo a traficantes, não sendo "nada mais do que campos de trabalho forçado... e prisões improvisadas", afirmou a Unicef. "Para os milhares de mulheres migrantes e crianças encarceradas, [os centros] são como viver no inferno, onde as pessoas são mantidas durante meses."

Ainda segundo a organização, três quartos das crianças imigrantes entrevistadas na Líbia pela Organização Internacional para Cooperação e Assistência Emergencial, parceira da Unicef, reportaram experiências de violência, estupro e agressão nas mãos dos adultos durante a jornada até a Itália. A pesquisa com 122 mulheres e crianças migrantes também descobriu que um número crescente de meninas adolescentes é obrigado a usar métodos contraceptivos para que sejam abusadas sem que engravidem.

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A violência sexual e o abuso foram esparramados de forma sistemática nos pontos de cruzamento e chegada dos imigrantes. Um terço das mulheres e crianças entrevistadas disse ter sido agredido por homens uniformizados, aparentemente relacionados aos militares. “O Mediterrâneo central do norte da África para a Europa está entre as rotas mais perigosas e mortais para crianças e mulheres”, afirmou o diretor regional da Unicef e coordenador especial para refugiados, Afshn Khan.

“A rota é majoritariamente controlada por traficantes, contrabandistas e outras pessoas que buscam apenas capturar crianças desesperadas e mulheres que simplesmente buscam refúgio ou uma vida melhor. Precisamos de caminhos seguros e legais, além de salvaguardas para proteger as crianças migrantes que possam as manter seguras, longe dos predadores”, defendeu Khan.

O estudo da Unicef chamado “Deadly Journey for Children” (Viagem mortal para crianças, em tradução livre) descobriu que a maioria das mulheres e crianças paga a viagem aos contrabandistas sob a regra de "pay as you go”, o que acaba deixando muitas dessas pessoas em dívida e vulneráveis ​​ao abuso, abdução e tráfico.

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O estudo descobriu ainda que as crianças cujos pais não pagaram "dinheiro suficiente" aos contrabandistas foram mantidas em resgate por milhares de dólares, principalmente entre o Sudão ou a Líbia, ou em próprio território líbio.