Vítimas de violência doméstica "deveriam se sentir orgulhosas", diz jornal russo

Colunista citou suposto estudo que afirma que vítimas de violência têm mais chances de engravidar de meninos, em tentativa de glorificar a violência

Presidente da Rússia, Vladmir Putin, sancionou lei que descriminaliza violência doméstica na última terça-feira (7)
Foto: Divulgação/The Presidential Press and Information Office
Presidente da Rússia, Vladmir Putin, sancionou lei que descriminaliza violência doméstica na última terça-feira (7)

Um jornal russo alega que mulheres que apanham de seus maridos deveriam se sentir “orgulhosas de suas contusões”. Uma coluna de uma das publicações mais lidas do país –chamada "Komsomolskaya Pravda" – afirmou que as mulheres deveriam “encontrar conforto” no fato de que aquelas que sofrem violência doméstica têm mais chances de ter filhos homens.

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A publicação foi feita depois de o presidente, Vladmir Putin, sancionar na última terça-feira (7) uma lei descriminalizando a violência doméstica . No texto, levantaram-se alegações de que a Rússia está tentando transformar o problema em uma questão trivial.

Escrita por Yaroslav Korobatov, a coluna ainda tenta defender a violência contra a mulher com motivos "científicos", afirmando que aquelas que sofriam em casa, anttigamente, precisavam de conformar em frases hipócritas, tais como o provérbio que diz que "se ele te bate, significa que ele te ama!”; e ressalta que, agora, elas poderão se confortar em fatos mais concretos:

“Um novo estudo científico está dando novos motivos para mulheres que têm maridos violentos se sentirem orgulhosas de suas contusões, já que biólogos confirmam que aquelas que apanham tem uma vantagem valiosa: é mais provável que elas deem à luz meninos!”.

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O tal estudo citado foi publicado em 2005 pelo controverso psicólogo evolucionário, Satoshi Kanazawa. A pesquisa foi divulgada em um artigo científico que leva o título “Homens violentos têm mais filhos homens”.

O que diz a nova lei

A nova lei russa reduz o ato de agressão a um parente para ofensa civil, não sendo mais considerado como uma ofensa criminal, desde que não seja feito 'nenhum grande dano'. A Anistia Internacional já se posicionou, descrevendo a sanção como uma “tentativa doentia de trivializar a violência doméstica”.

Entre os que apoiam a nova lei, estão membros do Partido Rússia Unida, ao qual Putin pertence.  Seus principais argumentos são o direito dos pais de disciplinar seus filhos e a redução da habilidade do governo de interferir na vida familiar.

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Já os críticos da lei temem que a medida seja um passo para trás, pois irá isentar de culpa os “tiranos do lar” e desencorajar as vítimas a reportar um abuso. Na Rússia, 14 mil mulheres morrem todo ano vítimas de violência doméstica nas mãos de seus maridos ou outros familiares.