No primeiro dia de prisão, Xie Yang, um advogado de direitos humanos da China, já começou a enfrentar o tratamento de “choque” dispensado a alguns detentos do país. O chinês conta que foi acusado de participação em um partido anticomunista, sendo preso e obrigado a “explicar por que” escolheu tal postura de oposição diante do governo.
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A transcrição de uma conversa entre Yang e a equipe jurídica que defende sua soltura está causando choque pelo mundo, sendo divulgada na mídia internacional. Segundo os advogados explicaram, esta foi uma forma de protestar pela prisão injusta e desumana do advogado, assim como em relação a tantas outras pessoas, que são detidas por defenderem os direitos humanos e se posicionarem de forma mais crítica ao governo do país.
O que Yang revela ter sofrido é um depoimento, dos vários já reunidos no país, que, apesar de documentais, não podem ser verificados por agências internacionais.
No segundo dia após sua detenção, Xie Yang diz que foi movido para um presídio secreto e informado de que “seu único direito, a partir daquele momento, era o de obedecer”. E no terceiro dia, conta que a violência teve início de maneira mais intensa.
“Nós vamos te torturar até a morte como se fosse uma formiga”, ameaçou um de seus interrogadores naquele dia, seguido por uma maratona de sessões de inquérito, com direito a socos e tapas com o intuito de fazê-lo confessar o “crime” – o qual sempre negou ter realizado.
Entre as formas de tortura, ele revela ter sido forçado a se sentar em posições de estresse, como em uma pilha de cadeiras de plástico em que era impossível tocar seus pés no chão. "Eu tive que sentar lá por mais de 20 horas, ambas as pernas balançando em tamanha dor até que começaram a me deixar meio entorpecido", contou.
Em outro momento, lembra de que um dos guardar afirmou que iria o "atormentar tanto até que perdesse a sanidade”.
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“Nem sequer sonhe que será capaz de deixar aqui andando, e que continuará sendo um advogado. Nós vamos te transformar em uma pessoa com deficiência”, completou o chinês no depoimento revelado nesta segunda-feira (23) pelo jornal britânico "The Guardian".
Yang admitiu aos seus advogados, por exemplo, que não foi capaz de resistir aos últimos interrogatórios e torturas sofridas. De acordo com o “The Guardian”, ele alegou ter sofrido um "completo colapso mental" e, diante de uma barragem de violência e ameaças, cedeu aos seus interrogadores.
"Eu queria que fossem feitos o mais rápido possível... Então, disse que o que eles quissessem que eu escrevesse, eu escreveria", contou. "Eu disse a eles para digitar algo e que eu assinaria, não importa o que fosse... Eu não queria continuar vivendo”, afirmou um dos detentos políticos da China.
Xie Yang, de 44 anos, foi detido no centro da cidade de Hongjiang em 11 de julho de 2015, no terceiro dia do que os ativistas descrevem como “ataque sem precedentes do partido comunista aos advogados de direitos civis”. Mais de 18 meses depois desta repressão começar, pelo menos quatro destes prisioneiros continuam atrás das grades, enfrentando acusações de diversos crimes, incluindo a subversão.
Mais um depoimento chocante
O depoimento de Yang vem depois de outro semelhante, divulgado por um ativista dos direitos humanos sueco, que trabalhou com os advogados chineses presos. O ativista da Suécia, que vive na Tailândia, deu detalhes dos 23 dias que passou em uma prisão subterrânea em Pequim, na China.
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Em entrevista ao “The Guardian”, em sua casa, Peter Dahlin disse que, após ter sido detido pelos agentes de segurança da China, em janeiro de 2016, foi privado de dormir e foi forçado a suportar sessões de interrogatório durante a madrugada toda, sendo questionado todo o tempo com um “detector de mentiras”, uma 'máquina orwelliana', praticamente.
“Essas coisas são feitas para destruir você”, disse o ex-prisioneiro sueco.