Vantagens e desvantagens de se viver em Hong Kong, 'paraíso' para estrangeiros

Hong Kong é pequena, tem grande relevância cultural e é considerada uma das cidades mais seguras do mundo para executivos; saiba mais

Há tempos Hong Kong vem sendo considerada uma cidade dos sonhos para profissionais estrangeiros que procuram consolidar suas carreiras com uma sólida experiência internacional no currículo.

É uma cidade abarrotada e movimentada, com 7,3 milhões de pessoas espalhadas por 1.104 quilômetros quadrados - sua área é menor que a de São Paulo ou Los Angeles, por exemplo.

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Hong Kong, com uma população de 7,3 milhões de habitantes espalhados por 1.104 quilômetros, é menor que São Paulo ou Los Angeles, nos EUA

Mas apesar de pequena, a cidade tem uma enorme relevância cultural. Modernos arranha-céus equipados com escritórios de luxo, butiques de estilistas europeus e restaurantes com estrelas Michelin ficam acima de lojas especializadas em produtos tradicionais chineses.

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Em suas ruas estreitas, aromas pungentes são sentidos nos mercados ao ar livre, nos quais tanto locais como turistas se misturam enquanto escolhem entre peixes frescos e produtos com desconto, como camisetas, bermudas, sapatos e outras bugigangas para comprar como lembrança.

Apesar de ter uma cultura vicejante e uma reputação como centro internacional de serviços bancários e financeiros, está se tornando cada vez mais difícil para estrangeiros conseguir uma vaga lucrativa em Hong Kong.

Ali, pacotes de ofertas para expatriados estão cada vez mais escassos, e a constante poluição - grande parte dela vinda de fábricas na China continental - está fazendo com que muitos estrangeiros deixem a cidade.

Um relatório recente mostrou que o número de residentes estrangeiros da Austrália, Reino Unido e EUA, assim como Japão e Cingapura, caiu.

A cidade tem um relacionamento antigo com o Reino Unido - começou sua história como uma colônia britânica em 1841 e foi devolvida à China em 1997.

Oficialmente conhecida como Região Administrativa Especial da China, Hong Kong opera sob estruturas política e legal diferentes do país, num regime comumente referido como "um país, dois sistemas".

E, como é uma das cidades mais seguras do mundo, executivos - especialmente aqueles com famílias - de todo o mundo são atraídos para Hong Kong por oportunidades de progredir na carreira e no estilo de vida.

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"É muito, muito seguro aqui", diz Marcy LaRont, expatriada há anos e presidente da Associação de Mulheres Americanas em Hong Kong.

"E do jeito que o mundo é hoje, isso não é algo que deve ser subestimado."

Se você é um dos sortudos que conseguiu um emprego dos sonhos na cidade, aqui está o que você precisa saber.

Empregos mudaram

Um dos principais polos financeiros do mundo, Hong Kong abriga os escritórios regionais de grandes empresas internacionais como JP Morgan Chase, Disney, IBM e Estée Lauder.

No entanto, como o setor financeiro global passa por um período de grandes desafios, as oportunidades na cidade não são como antes.

"Se você olhar os serviços financeiros, acho que os dias de pacotes para expatriados - que cobriam despesas com alojamento, escola, e voos anuais para seu país de origem - são uma coisa do passado", afirma Matthew Bennett, diretor para a Grande China na empresa de recrutamento Robert Walters.

Entretanto, há uma demanda por expatriados em empresas de serviços profissionais, como direito e consultoria, assim como cargos mais altos nos setores de comércio e da indústria, incluindo executivos de alto nível, gerentes, e diretores de finanças e recursos humanos.

O governo de Hong Kong está investindo pesado no ramo de fintech, termo utilizado para designar tudo que é relacionado à tecnologia financeira, e empresas estão buscando atrair especialistas estrangeiros no ramo das telecomunicações e tecnologia da informação, segundo Bennett.

"Há uma carência real desses indivíduos no mercado em Hong Kong, e cidades ocidentais onde há uma concentração de serviços financeiros tendem a ter uma quantidade maior desses candidatos", acrescenta.

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Importância do dinheiro

Hong Kong tem sua própria moeda, o dólar de Hong Kong, e a taxa de câmbio tem se beneficiado de uma posição estável ante o dólar americano há mais de 30 anos. Hoje, US$ 1 vale HK$ 7,7 (R$ 1 = HK$ 2,4).

Isso, porém, também significa que as taxas de juros são influenciadas pelo Banco Central dos Estados Unidos.

Hong Kong é um paraíso para os consumidores e não impõe um imposto sobre vendas. A maioria dos restaurantes cobra uma taxa de serviço de 10% e porteiros em hotéis recebem o equivalente a US$ 1 (R$ 3,22) por mala.

Dar gorjeta não é obrigatório nem esperado por taxistas, mas há uma taxa extra de HK$ 5 (R$ 1,93) por mala carregada.

Enquanto a média mensal de salários é de cerca de HK$ 15.000 (R$ 6.230), estrangeiros podem ganhar mais, uma vez que eles normalmente ocupam posições que não conseguem ser preenchidas pela força de trabalho local.

Muitas das famílias em Hong Kong têm empregadas domésticas trabalhando em horário integral - algo que para muitos expatriados europeus é um luxo em seus países de origem. Trabalhadores que moram na casa do patrões ganham um salário mínimo estipulado pelo governo de HK$ 4.310 (R$ 1,8 mil).

"A ideia de ter um empregada em sua casa é estranha para um australiano", afirma Danielle Buckley, psicóloga que dá aula em uma universidade local e mora em Hong Kong desde janeiro com seu marido e dois filhos pequenos.

Essa foi uma "mudança cultural enorme" para ela, mas que permitiu passar mais tempo com sua família.

Onde morar

Hong Kong é composta por três áreas distintas: a Ilha de Hong Kong, que inclui o distrito central financeiro; a Península de Kowloon pelo Porto Victoria; e os Novos Territórios, que incluem mais de 200 ilhas.

A maioria dos expatriados - especialmente aqueles que trabalham em serviços especializados - mora na Ilha de Hong Kong, onde muitas das empresas multinacionais estão localizadas. Mas há estrangeiros espalhados por toda a cidade.

Famílias de expatriados preferem o Happy Valley, Jardine's Lookout e Stanley; enquanto solteiros preferem viver em Sheung Wan, Sai Ying Pun e Kennedy Town.

Morar ali, porém, não é barato. Hong Kong liderou o ranking na pesquisa de custos de vida para expatriados feita pela empresa de consultoria Mercer.

Mesmo assim, muitos profissionais com renda bem mais baixa do que de altos executivos ainda conseguem ter uma vida confortável nessa cidade densamente populosa.

No entanto, pagar aluguéis mais altos muitas vezes significa morar em apartamentos menores do que eles estariam acostumados a viver em seus países de origem.

O mercado imobiliário de Hong Kong está entre um dos mais caros do mundo.

O aluguel médio de um apartamento de três quartos na cidade é de cerca de HK$ 37 mil (R$ 15,4 mil) por mês, segundo o site Numbeo, enquanto aluguéis na exclusiva região de Mid-Levels, área bastante popular entre os expatriados mais afluentes, são geralmente bem mais altos.

Mas e se você optar por comprar um imóvel? Cuidado, porque o mercado é notoriamente volátil.

"A primeira lição é: se você for ficar aqui por menos de cinco anos, você realmente não deveria investir no mercado imobiliário", aconselha Jeff Blount, americano expatriado há anos e dono de uma propriedade em Hong Kong.

De acordo com ele, se você fizer a compra no período errado e precisar vender com rapidez, você pode ter perdas de 15% a 20% ─ ou talvez até mais.

Vida em família

A competição para aceitar crianças expatriadas em escolas internacionais também é feroz.

Ruth Benny, fundadora da Top Schools, uma consultoria que ajuda pais e encontrar escolas para seus filhos, recomenda a famílias que façam a inscrição para admissão assim que souberem que terão de ser realocadas para Hong Kong ─ ou até mesmo antes do contrato ser assinado.

"Quanto mais cedo, melhor", diz ela.

E mesmo assim você corre o risco de não conseguir vaga em sua primeira opção de escola. "Nós recomendamos que as pessoas tentem admissão em quatro ou cinco escolas", afirma Ruth.

Mas isso pode ser caro. As taxas para apenas se inscrever em instituições de ensino vão de HK$ 1 mil a HK$ 3 mil (R$ 419 a R$ 1.240), mas podem chegar até HK$ 8 mil (R$ 3,2 mil)─ sem possibilidade de reembolso.

Taxas de matrícula anuais custam de HK$ 100 mil a HK$ 250 mil (R$ 41,5 mil a R$ 104 mil) para o ensino médio em escolas de alto padrão, além de outras taxas.

Visto

Para trabalhar em Hong Kong é necessário ter visto, que é normalmente concedido a expatriados com especializações e diplomas de ensino superior. Empresas geralmente auxiliam no processo durante a realocação de funcionários.

Todos os moradores de Hong Kong com 11 anos ou mais, incluindo expatriados, também precisam ter um cartão de identidade, que possui diversas vantagens: na imigração em aeroportos, eles podem passar por cabines que escaneiam o cartão e colhem suas impressões digitais.

Integração na sociedade

Ser um profissional estrangeiro em Hong Kong muitas vezes significa ter uma vida social ativa, e muitos deles aumentam seus círculos de convívio se associando a clubes profissionais e de lazer.

"Os clubes são uma importante parte da vida aqui", observa James Thompson, presidente da agência global de relocação Crown Worldwide.

Clubes privados de esportes incluem golfe, críquete, iate e o Jóquei Clube de Hong Kong, fundado em 1884. A cidade também tem diversas câmaras de comércio e organizações profissionais, que são ótimas para networking.

Hong Kong também é um importante eixo regional no mundo das artes, atualmente em expansão com a chegada do novo museu M+, que deve abrir em 2019. E, todo ano em março, ocorre a Art Basel Hong Kong, maior feira de arte da Ásia, que atrai galerias e visitantes de todo o mundo.

A prática de caminhada pelas muitas trilhas montanhosas de Hong Kong também é uma atividade popular aos fins de semana, assim como excursões de barco pelo Porto Victoria, circulando ilhas próximas até o Mar do Sul da China.

Cultura local

O inglês é amplamente falado no mundo dos negócios e nas indústrias de serviços que lidam com alto número de clientes estrangeiros.

Já o cantonês é falado pela maioria dos moradores da cidade, embora haja um aumento notável de mandarim, o idioma da China continental, desde a devolução, em 1997.

"Tive enormes diferenças culturais por ser australiana", diz Danielle Buckley.

Essas diferenças, no entanto, foram abraçadas por ela.

"Como psicóloga e mãe também é minha responsabilidade ser curiosa. Nós somos estrangeiros aqui", conclui.