Emissões do metano, mais perigoso que o CO₂, crescem no Brasil

A maior parte das emissões vem da fermentação entérica do gado, o famoso “arroto do boi”

A maior parcela do metano emitido vem do 'arroto' do boi.
Foto: Reprodução/freepik
A maior parcela do metano emitido vem do 'arroto' do boi.

Entre 2020 a 2023, as emissões de metano subiram 6% no Brasil, fazendo com que o país registrasse o segundo maior nivel volume da história, de acordo com o Observatório do Clima.

A maior parte desse metano - considerado o segundo pior gás de efeito estufa - vem dos pastos, resultado da fermentação entérica do gado, o famoso '' arroto do boi''.

De acordo com o levantamento do Observatório do Clima, o metano tem potencial de aquecimento muito superior ao do dióxido de carbono (CO₂). Embora suas moléculas permaneçam na atmosfera por um período mais curto, entre 10 e 20 anos, o efeito de aquecimento do metano é 28 vezes maior que o do CO₂ ao longo de um século.

O gado e a emissão de metano

De acordo com o pesquisador da Embrapa Algodão, Frederico Lisita, o aumentos das emissões de metano e do rebanho bovino podem estar relacionados.

"Proporcionalmente, uma cabeça de gado a pasto emite mais metano do que uma cabeça confinada'', explicou, em entrevista ao Portal iG .

A diferença, segundo o pesquisador, está no tipo de criação.

"Animais a pasto, que se alimentam principalmente de gramíneas, produzem mais metano durante a digestão. Já os confinados, que consomem mais grãos, geram outros metabólitos no rúmen e emitem menos metano, embora a diferença não seja muito grande."

Muitas promessas e poucas ações de mitigação do metano

O Observatório do Clima enfatiza que, em novembro de 2021, o Brasil aderiu ao Compromisso Global do Metano, um acordo assinado na COP 26 por mais de 150 países, que assumiram o compromisso de reduzir em 30% as emissões globais do gás até 2030. Apesar da promessa, o país - que é o quinto maior emissor de metano do mundo - não tomou muitas medidas para mitigar o problema.

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, mostram que, desde 2015, os níveis do gás vêm crescendo no país. Entre 2005 e 2020, houve aumento de 2,1%, passando de 19,6 para 20 milhões de toneladas de CH₄. Na comparação entre 2005 e 2023, a alta chega a 7,2%. 

Os principais responsáveis pela emissão de metanp

O levantamento mostra que o Brasil tem o segundo maior rebanho bovino do mundo e é líder nas exportações de carne. A agropecuária aparece como o principal setor emissor de metano no país: em 2023, foi responsável por 75,6% das emissões, o equivalente a 15,7 milhões de toneladas, das quais 98% tiveram origem na pecuária.

O setor de resíduos aparece em segundo lugar, respondendo por 3,1 milhões de toneladas, principalmente pelo descarte de resíduos orgânicos em lixões. Na sequência, vem o uso das terras e florestas que respondeu por 1,33 milhões de toneladas, assossiadas principalmente à queimadas.

Os caminhos para a redução da emissão de metano no Brasil

De acordo com o levantamento, números apontam que o país precisa ter uma resposta rápida e coordenada para a mitigação da emissão do metano. Segundo o Observatório do Clima, reduzir o metano em 45% é crucial para diminuir o aquecimento global em 0,3 ºC até 2040.

De acordo com Gabriel Quintana, analista de ciência do clima do Imaflora, os sistemas de produção de carne e leite têm o maior potencial para reduzir as emissões de metano na agropecuária.  “Para isso, é preciso melhorar a dieta animal, reduzir o tempo de abate e investir na melhoria genética dos rebanhos de corte e leite, além de adotar outras estratégias que aumentem a produtividade dos sistemas."

Frederico Lisita, pesquisador da Embrapa Algodão, explicou que esse processo é longo e exige investimento a longo prazo.

"O Brasil é um país muito grande, então, tem lugares em que a pecuária é muito avançada e lugares em que é muito atrasada. Tanto a pecuária confinada, quanto a baseada em pastagem. As medidas que podem ser tomadas: um crédito governamental para melhorar eficiência da atividade como um todo. Além disso, o desenvolvimento de aditivos que não são tão usados comercialmente, mas que são bem promissores'', concluiu.