
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que os preços de hospedagem em Belém, para a COP30 , configuram uma “ espécie de extorsão ” e ameaçam inviabilizar a participação de delegações, sobretudo de países em desenvolvimento, na conferência marcada para novembro de 2025. A fala foi dada em entrevista ao podcast "Bom dia, Fim do Mundo!".
Marina ainda classificou como “ o absurdo dos absurdos ” o aumento de até 15 vezes nos valores cobrados por hotéis na capital paraense.
O governo federal reconhece o problema e, segundo a ministra, tem atuado com autoridades locais para evitar prejuízos à imagem do Brasil como anfitrião do evento climático mais importante do mundo.
Marina afirmou que a COP30 deve ser encarada como uma oportunidade histórica de desenvolvimento para o Pará e o Brasil.
“ Quantas mil pessoas virão de outros países e que poderão transformar a cidade, o estado, a região em um endereço turístico, nas mais diferentes modalidades, seja do ponto de vista do turismo de massa, do turismo científico, do turismo social, cultural? ”, questionou.
Ela alertou, no entanto, que a especulação pode causar efeito contrário. “ Não podemos pensar em destruir a galinha dos ovos de ouro ”, afirmou.
PL da Devastação
Além das preocupações logísticas, Marina comentou o momento político delicado em Brasília.
Às vésperas do prazo final para o presidente Lula sancionar ou vetar o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental, apelidado de PL da Devastação, a ministra afirmou que a proposta “ decepa a estrutura do licenciamento ambiental brasileiro ”.
Marina disse que o governo estuda alternativas, como uma medida provisória ou um novo projeto de lei, para substituir os trechos mais problemáticos, especialmente os que preveem a Licença Ambiental Especial (LAE) e a Licença por Acordo e Compromisso (LAC).
Para Marina, o Congresso começa a perceber os prejuízos provocados pela flexibilização das leis ambientais, em especial após os aumentos tarifários promovidos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump .
“ Quem diria que o presidente dos Estados Unidos ia alegar taxação de 50% nos produtos brasileiros, usando a questão da legislação ambiental e questões ligadas a desmatamento, exploração de madeira? ”, disse, ao defender uma separação entre “ o joio e o trigo ” nas decisões do Legislativo.
Geopolítica, tarifaço e riscos à cooperação internacional
Marina também comentou o cenário geopolítico que pode dificultar os avanços na COP30, marcada para acontecer dez anos após o Acordo de Paris .
Ela citou as guerras e o “tarifaço” estadunidense como fatores que prejudicam a solidariedade entre os países.
“ As guerras minam a solidariedade, minam as parcerias, criam situações de desencontros e nós temos além das guerras bélicas, uma guerra tarifária que está sendo feita pela maior potência econômica e bélica do mundo em todas as direções ”, afirmou.
Apesar disso, a ministra defende que o Brasil mantenha a liderança climática. Para ela, a COP30 deve resultar em um plano concreto para o fim do uso dos combustíveis fósseis . “ A pior coisa que tem é você não se planejar para a mudança e ser mudado abruptamente pela realidade ”, alertou.
Desafios ambientais
Apesar dos desafios, a ministra reafirmou o compromisso do Brasil com a meta de zerar o desmatamento até 2030, destacando a queda de 61% nos alertas em todo o país e de 89% na Amazônia entre julho de 2024 e julho de 2025.
Marina, no entanto, demonstrou preocupação com o avanço dos incêndios florestais, agravados pelas mudanças climáticas, que superaram o desmatamento por corte raso.
“ O fato de você ter uma doença que depois você descobre que ela é mais grave do que você imaginava, não te faz abandonar o diagnóstico e, muito menos, de aplicar o tratamento necessário ”, comparou.
Ela ressaltou o fortalecimento da estrutura de combate a incêndios com o aumento de brigadistas, veículos e aeronaves, além de treinamentos integrados entre estados e municípios.
“ Esse ano nós intensificamos ainda mais a nossa capacidade de resposta. E essa capacidade de resposta e de pronta ação, independe até da questão climática, porque muitas vezes essas variáveis podem mudar e a gente está preparado ”, garantiu.