Ano de 2024 atingiu "patamares perigosos" para o clima, afirma relatório climático

"Estamos vivendo em uma nova era perigosa", disse a líder do estudo que guiou o relatório da World Weather Attribution

Pará enfrenta desmatamento e queimadas enquanto se prepara para ser palco de conferência mundial do clima
Foto: Reprodução/Luiz Fernando Rocha
Pará enfrenta desmatamento e queimadas enquanto se prepara para ser palco de conferência mundial do clima

O ano de 2024 atingiu "novos patamares perigosos" para o clima . A informação consta no novo relatório da World Weather Attribution e da Climate Central, que detalha dados e estudos de um ano marcado pelas mudanças climáticas.

Segundo o relatório, os cidadãos do planeta enfrentaram, em média, 41 dias adicionais de calor perigoso à saúde. Não à toa, 2024 deve encerrar com o título de ano mais quente da história da humanidade.

"Os impactos do aquecimento por combustíveis fósseis [origem da maior parte dos gases de efeito estufa na atmosfera] nunca foram tão claros ou devastadores quanto em 2024. Estamos vivendo em uma nova era perigosa", disse Friederike Otto, líder da WWA e professora de ciência climática no Imperial College de Londres.

"O clima extremo matou milhares de pessoas, forçou milhões a deixarem suas casas este ano e causou sofrimento implacável. As inundações na Espanha, furacões nos EUA, seca na Amazônia e inundações em toda a África são apenas alguns exemplos", continuou a pesquisadora.

A World Weather Attribution monitorou os principais eventos climáticos extremos que aconteceram no planeta ao longo de 2024, e observou que as mudanças climáticas intensificaram 26 dos 29 eventos estudados pela instituição.

Em números oficiais, essas catástrofes mataram pelo menos 3.700 pessoas. Entretanto, a estimativa é que as cifras reais dos desastres ambientais sejam muito maiores que as documentadas.

"Esses foram apenas uma pequena fração dos 219 eventos que atenderam aos nossos critérios de ativação, usados para identificar os eventos climáticos mais impactantes. É provável que o número total de pessoas mortas em eventos climáticos extremos intensificados pelas mudanças climáticas neste ano esteja na casa das dezenas ou centenas de milhares", detalhou o documento.

Ainda em novembro, outras instituições de pesquisa, como o Observatório Copernicus, da União Europeia, já indicavam que 2024 e encerraria como o ano mais quente da história, superando o ano de 2023.

O primeiro semestre do ano foi de recordes de temperatura para os respectivos meses. Depois, o planeta registrou os dois dias mais quentes da série histórica, 21 e 22 de julho.

Apesar da influência do El Niño, fenômeno climático que contribui para secas e temperaturas mais altas em várias regionais, seja um dos maiores motivos para as catástrofes naturais, os pesquisadores concluíram que o impacto do aquecimento global para esses eventos foi muito maior. Um dos exemplos é a seca que atingiu a Amazônia.

"Secas severas na bacia amazônica estão se tornando mais frequentes e graves devido às mudanças climáticas", explicou Regina Rodrigues, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, à Folha de S. Paulo. "Tememos que elas possam empurrar a floresta irreversivelmente para um estado mais seco, levando a uma redução do fluxo de umidade e do sumidouro de carbono, bem como à perda de biodiversidade."

Queimadas

O relatório também acende um alerta sobre as queimadas, que tiveram um aumento importante em todo o mundo, com o aumento nos níveis de desmatamento florestais.

"Embora incêndios individuais possam ser causados por fenômenos naturais, como raios, ou por atividades humanas, condições de calor e seca significam que, se houver um ponto de ignição, as chances de o fogo se espalhar e se intensificar são muito maiores, e qualquer incêndio será muito mais difícil de controlar. Esse risco crescente de incêndios decorrente das mudanças nos padrões climáticos é frequentemente agravado por outras atividades humanas, como o desmatamento", pontuou o relatório.

O Brasil foi um dos destaques no tópico "queimadas". O levantamento ressaltou os incêndios que ocorreram no pantanal brasileiro e resultaram na segunda pior temporada em duas décadas, com mais de 3,5 milhões de hectares queimados.

"A região está em uma seca que já dura anos, com níveis de rios em mínimas históricas e precipitação abaixo da média climatológica. Isso permitiu que os incêndios começassem em junho, muito antes do início usual da temporada de fogo."

Os pesquisadores da WWA concluíram que as mudanças climáticas contribuíram para que as condições severas de clima de fogo no início da temporada no pantanal se tornassem de 4 a 5 vezes mais prováveis.

Os pesquisadores reforçaram a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para frear as mudanças climáticas e suas consequências mais graves.

"Em 2025, todos os países precisam intensificar os esforços para substituir os combustíveis fósseis por energia renovável e se preparar para o clima extremo", disse Friederike Otto, líder da WWA.