
Um dos sintomas identificados no surto atual da varíola dos macacos é a proctite, inflamação no revestimento interno do ânus. O quadro provoca fortes dores na região, e geralmente está ligado aos eventos de transmissão que ocorrem pela pele do local. Segundo um estudo conduzido por pesquisadores da Espanha, publicado na revista científica The Lancet, 25% dos pacientes relataram o problema.
O trabalho analisou as informações de 181 infectados com o vírus monkeypox no país entre maio e junho. Todos os pacientes, de em média 37 anos, apresentaram as erupções cutâneas que são um dos principais sintomas da doença. 78% relataram que as lesões surgiram na região do ânus e das genitálias, e 43% dos infectados tiveram erupções na região oral.
39% dos contaminados registraram complicações que necessitaram de tratamento médico. Foram elas 25% de casos da proctite; 10%, de amigdalite; 8%, de edema (inchaço) peniano; 3%, de abscesso e 4%, de exantema (erupções cutâneas mais graves). Apenas 2% dos pacientes precisaram de internação hospitalar.
“Mais de um terço dos participantes apresentou complicações que exigiram medicação para alívio da dor. As complicações mais comuns foram proctite (às vezes extremamente dolorosa e em outros casos associada a prurido (coceira) muito intenso), amigdalite, parafimose (complicação da fimose) por edema peniano e abscessos bacterianos”, explicam os autores.
O tempo de incubação do vírus, período entre a infecção e o surgimento dos sintomas, foi de em média 7 dias. Já o tempo desde o início das lesões até a formação de uma crosta seca foi de 10 dias. As erupções na pele foram geralmente precedidas por quadros de febre, aumento dos linfonodos e outros sintomas semelhantes ao da gripe, segundo o estudo.
Além disso, o trabalho mostrou que quase todos os indivíduos ou tiveram relações sexuais anteriores com uma pessoa que teve diagnóstico para o vírus monkeypox ou tinham comportamento de risco para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como múltiplos parceiros nos últimos três meses ou uso de drogas recreativas durante o sexo - 17% dos infectados apresentaram um quadro de IST concomitante à varíola.
O cenário levou os cientistas a afirmarem que o “contato próximo durante o sexo é a forma dominante de transmissão da doença no surto atual”.
“A localização das lesões, o histórico de exposição dos indivíduos e as infecções sexualmente transmissíveis concomitantes sugerem que o contato próximo durante o sexo é a forma dominante de transmissão da varíola dos macacos no surto atual. As mensagens de saúde pública precisam ser direcionadas às populações apropriadas que podem estar em risco e precisam ser adaptadas para destacar o risco de transmissão relacionado ao contato pele a pele”, escreveram os autores.
Os pesquisadores, no entanto, não têm considerado ainda a varíola símia como uma IST . Embora estudos tenham de fato encontrado DNA do vírus em amostras de sêmen – como apontado por pesquisadores em trabalho publicado no New England Journal of Medicine – ainda não há confirmação de que o material ali estaria se replicando e, portanto, seria infeccioso. Porém, os responsáveis pelo artigo na Lancet consideram que a transmissão pela pele da região pode ser já um sinal de alerta.
“Há dúvidas sobre se a varíola dos macacos é sexualmente transmissível via sêmen e secreções vaginais. No entanto, a definição estendida de infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e herpes simples, inclui a presença de patógenos em lesões genitais purulentas que são transmitidas por lesões superficiais na pele ou nas mucosas”, dizem os autores.
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